Alprazolam: o que é, para que serve e quais as contraindicações
Utilizado desde a década de 1980, o alprazolam se mostrou ser uma boa alternativa aos tranquilizantes e barbitúricos do seu tempo.
Uma década depois, ele se tornou o primeiro medicamento de sua classe a ser aprovado para o tratamento da síndrome do pânico.
O que é alprazolam?
Trata-se de um ansiolítico do grupo dos benzodiazepínicos. Esses medicamentos são capazes de agir no SNC (Sistema Nervoso Central) e, assim, possuem propriedades ansiolíticas, sedativas, relaxantes, anticonvulsivantes, além de efeitos amnésicos.
Devido às suas características, ele só pode ser comercializado sob receita médica, que é retida.
Em quais situações ele deve ser usado?
Dada a utilização desse fármaco desde a década de 1980, seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.
A medicação pode ser indicada para aliviar sintomas relacionados às seguintes condições (de forma isolada ou associada a outros fármacos):
- Transtornos de ansiedade (generalizado e na síndrome de pânico e seus sintomas - associadas ou não à agorafobia)
- Transtornos de ansiedade relacionados a outras condições (como abstinência de álcool)
Entenda como ele funciona
A farmacêutica Cynthia França Wolanski Bordin, professora das Escolas de Farmácia, Enfermagem, Odontologia e Medicina da PUC-PR explica que, ao ser administrado pela via oral, o alprazolam é absorvido no trato gastrointestinal, é metabolizado pela via hepática e é excretado majoritariamente pela via renal.
A especialista acrescenta que ele atua facilitando a ação de um neutrotransmissor, o ácido gama-aminobutírico (GABA), que por inibir os neurônios, se mostra efetivo no controle da ansiedade, insônia, excitabilidade e crises epilépticas.
"O fármaco age rapidamente, o que resulta em um efeito calmante. Espera-se que o alívio dos sintomas já apareça no período de 1 a 2 horas", completa.
Por que ele pode causar dependência?
Todos os benzodiazepínicos, inclusive o alprazolam, devem ser usados pelo menor tempo possível. O ideal seriam 3 meses, no máximo, embora alguns quadros possam exigir período maior de tratamento.
A preocupação dos médicos é uma conhecida reação adversa desses fármacos: o risco de dependência. Quanto maiores forem o tempo de uso e a dose, maiores serão a tolerância à medicação, assim como os sintomas da sua retirada.
Para evitar esse efeito, quando a terapia é mais longa, as doses devem ser reduzidas aos poucos e sob a orientação do profissional da saúde.
O alprazolam traz alívio a sintomas agudos de angústia e instabilidade, mas ele só é indicado durante o tempo de espera do efeito do tratamento das doenças de base, como a depressão e a ansiedade, fala o psiquiatra Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista.
"Daí ser essencial o acompanhamento médico, seja para a avaliação do paciente, seja para apoiá-lo na descontinuação da medicação", completa o médico.
O que pode acontecer se eu parar de tomá-lo por conta própria?
Como esse medicamento pode causar dependência emocional e física, mesmo com o acompanhamento médico, a sua retirada pode levar ao chamado efeito de rebote —situação na qual o remédio tem ação contrária à esperada. A explicação é de Marcos Machado, presidente do CRF-SP.
"Entre os possíveis sintomas desse quadro, destacam-se os tremores, cólicas, vômitos, sudorese, insônia e até convulsões", acrescenta o especialista.
Conheça as apresentações disponíveis
Frontal® é a marca de referência do alprazolam, mas você pode encontrar as versões genéricas. Confira as apresentações e doses disponíveis em comprimidos:
- 0,25 mg;
- 0,5 mg,
- 1,0 mg
- 2,0 mg
Há também comprimidos sublinguais e de liberação lenta.
O esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se durante uma crise sem orientação do médico.
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
Os especialistas consultados concordam que a maior vantagem do alprazolam é que seus efeitos são bastante conhecidos e ele é rápido no controle dos sintomas da ansiedade, e ainda pode ser usado mais de uma vez ao dia quando isso for necessário.
Na opinião da psiquiatra Isabela Pina, do HC-UFPE, essa alternativa, porém, acaba se transformando em sua desvantagem porque ela pode facilitar não só a dependência, como o abuso.
"As medicações não são boas ou ruins. Elas apenas têm suas indicações. Algumas pessoas se beneficiarão, outras não. Cabe ao médico avaliar o paciente, certificar-se do benefício para ele e, a partir daí, indicar-lhe a melhor dose, já antecipando o melhor momento de sua retirada", completa.
Saiba quais são as contraindicações
Ele não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições:
- Ter menos de 18 anos
- Gravidez
- Amamentação
- Glaucoma
- Doenças dos rins, fígado ou pulmões
- Convulsões
- Fraqueza muscular (miastenia gravis)
Crianças e idosos podem usá-lo?
O alprazolam é contraindicado para menores de 18 anos de idade. Já entre os idosos, a administração deve ser cuidadosa. Como o medicamento é depressor do SNC, pode haver sonolência ou tontura, o que resultaria em quedas —que são indesejáveis nesse grupo.
Daí a necessidade da adoção de doses mais baixas, maior atenção ao aumentá-las, além de constante monitoramento do tempo de duração desse tratamento.
Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar alprazolam?
Esse medicamento só deve ser utilizado por gestantes e lactantes após criteriosa avaliação médica. Somente este profissional pode considerar os riscos e benefícios da medicação para você e seu bebê.
Qual é a melhor forma de consumi-lo?
A orientação é de que ele seja ingerido com água, acompanhado ou não de refeições. Para pessoas com estômago mais sensível, sugere-se que ele seja ingerido junto a algum alimento.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Não. O importante é que o alprazolam seja administrado na forma indicada pelo médico.
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são cansaço, sonolência e relaxamento muscular.
Algumas pessoas poderão observar algumas das seguintes manifestações:
Comuns
- Dor de cabeça
- Cansaço
- Tontura
- Irritabilidade
- Dificuldade de concentração
- Boca seca
- Náusea
- Constipação
- Mudanças no apetite e peso
- Alterações no interesse por sexo
- Dor articular
Mais raras
- Problemas de coordenação ou equilíbrio
- Dificuldade para falar
- Confusão
- Convulsões
Há indivíduos que apresentam alterações paradoxais (o remédio faz o efeito contrário do esperado).
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com o alprazolam. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito.
Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:
- Antidepressivos (como a fluoxetina, sertralina, duloxetina)
- Opioides (tramadol, hidrocodona)
- Remédios para tratar o HIV (ritonavir)
- Antifúngicos (cetoconazol, itraconazol)
- Anti-hipertensivos (diltiazem)
- Antibióticos (claritromicina)
- Anticoncepcionais (orais)
- Anticonvulsivos (pregabalina)
- Analgésicos (propoxifeno)
- Medicamentos para insuficiência cardíaca congestiva (digoxina)
- Fármacos para o trato gastrointestinal (cimetidina)
Até o momento há pouca informação sobre a interação com fitoterápicos, mas avise seu médico caso esteja fazendo uso de Valeriana ou Hipérico, ou mesmo outros suplementos.
Fique atento à interação alimentar
A literatura médica relata que a toranja (grapefruit) ou o suco de toranja podem alterar o efeito do alprazolam. A cafeína também pode interagir com o fármaco, reduzindo seus efeitos calmantes. Limite o consumo de bebidas que contenham cafeína.
Além desse item, os efeitos do álcool também podem ser potencializados: tontura, fadiga, sonolência e dificuldade para respirar são algumas das possíveis manifestações.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
- Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Utilize o medicamento na posologia indicada;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Marcos Machado, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo), farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas; Cynthia França Wolanski Bordin, farmacêutica e professora adjunta das Escolas de Farmácia, Enfermagem, Odontologia e Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), com mestrado em tecnologia química e doutorado em ciências da saúde; Isabela Pina, médica psiquiatra do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco) e preceptora da residência em psiquiatria da mesma instituição; Henrique Bottura, psiquiatra diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista. É colaborador do Ambulatório de Impulsividade do IPq/HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Revisão técnica: Vanessa Farigo Mourad, assistente técnica do CRF-SP.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); George TT, Tripp J. Alprazolam. [Updated 2020 Aug 14]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538165/.
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