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Um guia dos principais medicamentos que você usa


Semaglutida: antidiabético, ajuda a emagrecer junto com dieta e exercícios

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

31/08/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Trata-se de um medicamento útil no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade
  • Ele age no controle da glicemia, na sensação de saciedade e ainda controla o apetite
  • A sua indicação deve ser sempre associada a um programa de perda de peso e atividade física
  • Administrado em doses progressivas, estima-se que os efeitos serão observados em 8 semanas

No mercado desde 2017, a semaglutida é um antidiabético que também tem sido útil no tratamento da obesidade.

O que é semaglutida?

Trata-se de um antidiabético classificado como agonista do receptor GLP-1, e é um análogo de um hormônio natural do corpo.

Devido às suas características, o fármaco deve ser comercializado sob receita médica.

Em quais situações ela deve ser usada?

Esse medicamento é considerado seguro, mas é importante que você faça o uso racional dele, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo estabelecido pelo seu médico.

A semaglutida é indicada para o tratamento ou alívio de sintomas do diabetes tipo 2, em associação à dieta hipocalórica e à prática de exercícios físicos. Ela pode ser administrado de forma única ou em combinação com outros medicamentos, principalmente quando as medidas comportamentais não trazem o resultado terapêutico esperado.

Em junho de 2021, esse medicamento foi aprovado nos Estados Unidos pelo seu órgão de vigilância sanitária, o FDA, para o tratamento da obesidade e sobrepeso, desde que esses quadros estejam associados a ao menos uma das seguintes condições: pressão alta, diabetes do tipo 2 e colesterol alto —mas sempre de forma associada à redução do consumo de calorias e exercícios físicos.

Esse uso já tem sido feito pelos médicos no Brasil, mas como ainda não consta da bula a ele se dá o nome de indicação off label.

Entenda como a semaglutida funciona

Ao ser administrado pela via subcutânea (sob a pele), uma vez por semana (já existe uma versão em comprimidos, que ainda não está disponível no Brasil), a semaglutida é liberada progressivamente na corrente sanguínea, é metabolizada por enzimas (peptidases) capazes de quebrar proteínas ou peptídeos e, depois, é eliminada pela via renal, principalmente pela urina. A explicação é de Flavio da Silva Emery, professor associado e membro da comissão de divulgação científica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto.

Para entender como a semaglutida funciona é preciso saber que o GLP-1 é um hormônio natural que tem ação direta sobre os níveis de glicose e o funcionamento de células do pâncreas. O fármaco, então, age como um agonista de receptores de GLP-1- ou seja, como um estimulante desses receptores para uma maior produção de insulina e a redução de outro hormônio, o glucagon (contrário à insulina).

Além disso, ele é capaz de retardar o esvaziamento gástrico e ainda atua em receptores do SNC (Sistema Nervoso Central) relacionados ao controle do apetite.

Os especialistas esclarecem que o tempo para o aparecimento dos efeitos desejados pode variar, mas, em geral, a redução das taxas de glicemia já começa a ser observada uma semana após o estabelecimento da dose terapêutica (o tratamento começa com doses menores até chegar à dose ideal para você).

Já nas outras condições, os resultados esperados terão maior tempo de espera, podendo chegar a 8 semanas.

Conheça as apresentações disponíveis

Ozempic® é marca de referência da semaglutida. A depender das condições de saúde de cada pessoa (diabetes ou obesidade), elas podem ser usadas de forma crônica (contínua). Além disso, as doses indicadas são diferentes para uma e outra enfermidade.

Atualmente a única apresentação disponível é a solução injetável, que deve ser mantida no refrigerador, preferencialmente. Em breve, será lançada a versão de uso oral. A solução injetável tem 1,34 mg —cada sistema de aplicação contém 1,5 ml e libera doses de 0,25 mg e 0,5 mg.

A medicação não consta da Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais).

Saiba quais são as contraindicações da semaglutida

Ela não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo, ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Gravidez
  • Lactação (amamentação)
  • Idade inferior a 18 anos
  • Problemas no fígado ou rins
  • Histórico de retinopatia
  • Problemas psiquiátricos
  • Diabetes do tipo 1
  • Cetoacidose diabética
  • Pancreatite
  • Histórico de câncer medular de tireoide (pessoal ou familiar)

Crianças e idosos podem usá-la?

Embora já existam medicamentos semelhantes que são indicados para a população pediátrica, a semaglutida não deve ser indicada para crianças e adolescentes com idade inferior a 18 anos.

Quanto aos idosos, sabe-se que o uso desse medicamento pode até trazer benefício cardiovascular e, portanto, ele pode ser uma boa opção para o tratamento dessa população que muitas vezes é acometida por doenças cardiovasculares.

O maior cuidado com esses pacientes é a necessidade de atenção com as eventuais comorbidades e o uso contínuo de outras medicações, a chamada polifarmácia. Esteja pronto para apresentar ao médico a lista dos fármacos que você utiliza diariamente antes do início do tratamento com a semaglutida.

Estou grávida ou amamentando? Posso usar a semaglutida?

O medicamento é contraindicado para gestantes e lactantes. A razão para isso é que não há estudos de segurança que excluam a possibilidade de danos à futura mãe, ao feto e ao bebê.

Esse medicamento pode causar câncer?

Entre as advertências e precauções indicadas pelo fabricante sobre os possíveis e sérios efeitos colaterais estão o câncer de tireoide, conhecido como carcinoma medular de tireoide (CMT), e a síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.

O endocrinologista Márcio Krakauer, diretor da SBEM-regional São Paulo, afirma que esse tipo de tumor é raro, e geralmente ocorre como consequência de distúrbios genéticos e familiares, associados a outros problemas endocrinológicos, igualmente pouco frequentes.

"Nem é necessário exames específicos para investigar tais condições antes de indicar esse medicamento", garante o médico. "O que se espera de toda consulta é que o médico pergunte ao paciente sobre a sua história familiar e examine a sua tireoide. A semaglutida só deve ser evitada caso seja detectado algum nódulo local, ou mesmo o aumento de um hormônio chamado calcitonina", acrescenta o especialista.

O médico adverte que essa precaução se aplica a qualquer um dos GLP-1 disponíveis no mercado porque, em estudos com ratos, não humanos, foi detectado o aumento da incidência desse câncer.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é tido como bem tolerado, seguro e eficaz quando usado na forma adequada. O efeito colateral mais comum é a náusea. Como ele pode alterar a glicemia, fique atento aos sintomas de hipoglicemia ou hiperglicemia.

Algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:

Muito comuns e comuns

Incomuns ou raras

  • Pulso acelerado
  • Erupção cutânea (alergias)
  • Mal-estar
  • Desidratação
  • Cálculo biliar
  • Depressão ou pensamentos suicidas
  • Hematomas no local da injeção
  • Retinopatia
  • Problemas nos rins
  • Reações alérgicas graves

Qual é a melhor forma de utilizá-la?

Atenda às orientações de seu médico quanto à forma de aplicação, dose recomendada e a chamada titulação —que é o escalonamento progressivo da dose para evitar efeitos colaterais, especialmente a náusea.

O medicamento deve ser injetado sob a pele (área subcutânea) do abdome, da parte superior do braço ou da parte frontal e anterior da coxa.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. A semaglutida, em geral, é utilizada uma vez por semana, na forma indicada pelo seu médico.

O que faço quando esquecer de usar o remédio?

Use-o assim que lembrar, desde que não tenha passado mais de 5 dias da última injeção. A próxima dose deve respeitar a próxima data certa.

Caso tenha passado mais de 5 dias da data, pule a dose esquecida e injete a dose no dia planejado.

Se você sempre se esquece de usar seus remédios, faça uso de algum tipo de alarme para lembrar-se.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a semaglutida. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Luiz Osório Silveira Leiria, professor do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto adverte que como esse fármaco, especificamente, retarda o esvaziamento gástrico, ele pode afetar a absorção de outros medicamentos administrados por via oral. Daí a razão pela qual é importante consultar seu médico para saber qual seria a melhor estratégia para evitar esse efeito indesejado.

Além disso, informe ao especialista ou farmacêutico, sobre o uso (atual ou no passado recente) das substâncias abaixo descritas. Essa lista é apenas um exemplo, e não exclui outros fármacos que possam ter o mesmo efeito.

  • Outros antidiabéticos (glipizida)
  • Outros miméticos de incretina (exenatida, sitagliptina, dulaglutida, saxagliptina etc.)
  • Insulina
  • Hormônio sintético tireoidano (levotiroxina)

Até o momento não há informação sobre a interação com fitoterápicos, vitaminas e suplementos. No entanto, informe seu médico, caso faça uso contínuo de algum deles e mesmo de medicamentos comprados sem receita médica.

Existe alguma bebida ou alimento que deve ser evitado?

Lucindo Quintans Júnior, professor titular no Departamento de Fisiologia, Laboratório de Neurociências e Ensaios Farmacológicos da UFS, explica que, de modo geral, deve-se evitar a ingestão de qualquer medicamento junto a bebidas alcoólicas, em qualquer medida, especialmente quando o fármaco é de uso contínuo, como os usados para o tratamento do diabetes do tipo 2.

"No entanto, como a semaglutida tem sido utilizada na forma injetável, o que evita a primeira passagem hepática, e ela tem dose semanal, é mais fácil controlar eventuais interações [álcool ou alimentos]", acrescenta o especialista.

Guia prático do uso da semaglutida

Somente o médico especialista ou um farmacêutico podem orientá-lo sobre a melhor forma de consumo desse medicamento. Apesar disso, há algumas informações que você deve conhecer para aproveitar o melhor que o fármaco pode oferecer. Confira:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Márcio Krakauer, médico endocrinologista especializado pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), diretor da SBEM-regional SP e coordenador do Departamento de Saúde Digital de Medicina e Tecnologia da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes); Flavio da Silva Emery, professor associado da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), atual coordenador do programa de pós-graduação de ciências farmacêuticas de Ribeirão Preto, membro da comissão de divulgação científica da FCRP-USP e do sub-comitê de Drug Discovery and Development da IUPAC (sigla em inglês para União Internacional de Química Pura e Aplicada);
Luiz Osório Silveira Leiria, professor do Departamento de Farmacologia da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Lucindo Quintans Júnior, professor titular no Departamento de Fisiologia, Laboratório de Neurociências e Ensaios Farmacológicos da UFS (Universidade Federal de Sergipe). Revisão técnica: Flavio da Silva Emery.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); FDA (Food and Drug Administration); Wilding JPH, Batterham RL, Calanna S, Davies M, Van Gaal LF, Lingvay I, McGowan BM, Rosenstock J, Tran MTD, Wadden TA, Wharton S, Yokote K, Zeuthen N, Kushner RF; STEP 1 Study Group. Once-Weekly Semaglutide in Adults with Overweight or Obesity. N Engl J Med. 2021 Mar 18;384(11):989. doi: 10.1056/NEJMoa2032183. Epub 2021 Feb 10. PMID: 33567185.