Rifampicina: potente no tratamento da tuberculose, precisa ser monitorada
Resumo da notícia
- Trata-se de antibiótico de amplo espectro usado, principalmente, no combate da tuberculose
- Por ser de uso prolongado, em geral é utilizada associada a outros medicamentos
- Os efeitos colaterais mais comuns são gastrointestinais: enjoo, náusea e perda de apetite
- Interromper a terapia sem orientação médica pode levar à resistência bacteriana
Conhecida desde a década de 1960, quando foi sintetizada, a rifampicina é um antibiótico que revolucionou o tratamento da tuberculose.
O que é rifampicina?
Trata-se de um antibiótico semi-sintético produzido a partir da rifamicina, que é uma substância natural obtida de uma bactéria, a Amycolatopsis rifamycinica. O medicamento é considerado um antibiótico de amplo espectro porque pode ser utilizado no combate de diferentes bactérias.
Dadas as suas características, ela só deve ser vendida sob prescrição médica.
Para que ela é indicada?
Como possui ampla utilização, esse fármaco é considerado seguro. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo prescrito pelo seu médico. No caso dos antibióticos, em especial, essa medida é particularmente importante.
A rifampicina, em geral, é indicada para o tratamento de infecções causadas por micobactérias e/ou bactérias gram-negativas ou positivas, em especial a Mycobacterium tuberculosis. Ela é o fármaco mais potente e importante na terapia de combate à tuberculose (latente ou ativa), mas também é usada na hanseníase.
Embora seja mais raro, a literatura sobre esse fármaco também registra a sua indicação nos casos de osteomelite, endocardite, abcessos cerebrais, meningite e infecções resultantes de implantes.
Além disso, pode ser usado para a prevenção da tuberculose ou meningite em pessoas mais vulneráveis, seja por contato próximo, seja por viagem a alguma região onde essas doenças sejam comuns.
Outra possível indicação é na prevenção de infecção pela bactéria Haemophilus influenzae b, causadora da meningite, para evitar que ela seja transmitida a crianças menores de 4 anos.
Entenda como ela funciona
Ao ser administrada pela via oral, a rifampicina é distribuída pelos tecidos e fluidos do corpo, tem metabolização hepática, e é excretada pela via biliar (predominantemente) e urina. Seu efeito já tem início entre 2 a 5 horas.
Lucindo Quintans Júnior, professor do Departamento de Fisiologia, Laboratório de Neurociências e Ensaios Farmacológicos da UFS, diz que, para combater as bactérias, a rifampicina impede o crescimento por meio do bloqueio e inibição dos processos pelos quais elas cresceriam.
"O medicamento barra a transcrição das bactérias e inibe a síntese de RNA —especialmente a RNA-polimerase-DNA-dependente (DDRP), o que cessa a síntese de proteínas de suas células. O resultado é a morte delas", explica o professor.
Conheça as apresentações disponíveis
Rifaldin® é a marca de referência da rifampicina. Mas você também pode encontrar as versões genéricas. Confira algumas das apresentações disponíveis:
- Cápsula gelatinosa dura - 300 mg
- Suspensão oral - 20 mg/ml
Algumas apresentações do medicamento (isolada ou associada a outros fármacos) constam da Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e, portanto, ele tem distribuição gratuita em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso à medicação, basta apresentar a receita médica.
Por que interromper o tratamento por conta própria é perigoso?
A rifampicina deve ser ingerida na forma prescrita pelo médico, sem interrupção do esquema de doses antes do final do tratamento que, no caso da tuberculose, tem longa duração (6 meses).
O uso de antibióticos deve ser regido pelas seguintes regras: ter prescrição médica; respeito às orientações do profissional quanto ao esquema de doses e o tempo de tratamento —mesmo quando os sintomas melhoram em poucos dias.
A eventual melhora não significa que a bactéria desapareceu. Ela continua lá, mas em menor quantidade. Esquecer de tomar uma dose na hora certa ou interromper a terapia antes do tempo estabelecido dá oportunidade à replicação das bactérias. A consequência pode ser a resistência bacteriana, ou seja, quando você precisar usar um antibiótico novamente, ele não terá o efeito desejado.
Aliás, uma das estratégias utilizadas pelos médicos para evitar que isso aconteça é o uso dessa medicação associada a outros fármacos.
Quais são as vantagens e desvantagens de seu uso?
De acordo com o pneumologista Marcos Alberto Machado Botelho, que atua no atendimento de pacientes com tuberculose multirresistentes na SES (Secretaria Estadual de Saúde) do estado de Pernambuco, a maior vantagem da rifampicina é que ela reduziu em 6 meses o tratamento dessa enfermidade que, antes, era de 12 meses.
O médico acrescenta que, apesar disso, algumas pessoas podem ser mais sensíveis aos seus efeitos colaterais (como náuseas e vômitos), e ainda chama a atenção para o fato de que esse medicamento pode levar à resistência bacteriana, o que torna necessário o constante monitoramento do paciente.
"O importante é evitar a automedicação e seguir as orientações médicas para se beneficiar do tratamento", conclui o especialista.
Saiba quais são as contraindicações
A rifampicina não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro medicamento da mesma classe, bem como a algum componente de sua fórmula.
Fique também atento se você se identifica com alguma das seguintes situações:
- Doença no fígado ou rins preexistentes
- Uso de anticoncepcionais orais
- Gravidez
- Amamentação
Crianças e idosos podem usá-la?
Sim. O medicamento pode ser indicado para a população pediátrica e geriátrica, com a ressalva de que as doses devem ser adaptadas ao peso de cada paciente.
Quanto aos idosos, os especialistas sugerem maior atenção às condições hepáticas e renais, além do uso de vários remédios ao mesmo tempo (polifarmácia) e, em especial, os indicados para o controle do diabetes. Isso porque as taxas de glicemia poderiam ser prejudicadas com o uso da rifampicina.
Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar a rifampicina?
Algumas bulas contraindicam o uso da rifampicina na gravidez e durante a amamentação. Já a literatura sobre o medicamento esclarece que estudos realizados não indicaram que ela pode ser prejudicial para a futura mãe e o bebê.
Isso significa que você deve conversar com seu médico para que ele possa avaliar os riscos e benefícios do uso desse medicamento para você e seu bebê.
Qual é a melhor forma de consumi-la?
Ela deve ser ingerida com bastante água, e sempre 1 hora antes ou 2 horas depois das refeições.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Você deve seguir as orientações de seu médico. Contudo, pode combinar com ele que o uso do fármaco ocorra em horários que se adaptem à sua rotina.
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Tome assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você é daqueles que sempre se esquecem de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando utilizado com supervisão e de acordo com as orientações médicas. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são gastrointestinais, como náusea, perda de apetite e diarreia.
Veja, a seguir, exemplos de outras possíveis manifestações (estes são alguns exemplos):
- Cefaleia
- Coceira
- Sonolência
- Fadiga
- Tontura
- Dificuldade de concentração
- Dificuldade de coordenação (ataxia)
- Confusão mental
- Alterações do comportamento
- Fraqueza muscular
- Gases
- Mudanças na visão
Flavio da Silva Emery, professor e membro do grupo de divulgação científica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (SP), acrescenta que outro efeito comum que pode causar preocupação é a temporária mudança de cor da urina, fezes, pele, dentes, saliva, suor e até lágrimas e lentes de contato. E essa coloração tem um tom vermelho-amarronzado ou alaranjado, que volta ao normal tão logo se deixe de usar a medicação.
"Isso acontece porque a rifampicina tem uma cor vermelha muito intensa, e como é distribuída por todo o corpo, acaba colorindo tecidos e fluidos, como a urina e o suor, por exemplo. Mas não é preciso ter preocupação com este efeito. Nos casos em que isso causar muito incômodo, informe ao médico ou farmacêutico", sugere o especialista.
Interações medicamentosas
A rifampicina não combina com alguns medicamentos e pode reduzir o efeito de alguns deles —principalmente os que são metabolizados pelo fígado— que deverão ter suas doses ajustadas.
Informe o médico ou o farmacêutico caso esteja usando algum dos seguintes fármacos (esta lista apresenta apenas alguns exemplos):
- Anticoagulantes orais (varfarina)
- Anticoncepcionais orais
- Antifúngicos azóis (cetoconazol)
- Barbitúricos (fenitoína, fenobarbital)
- Betabloqueadores (propanolol, exceto nadalol)
- Outros antibióticos (cloranfenicol)
- Corticosteroides (dexametasona)
- Anticonvulsivante (diazepam)
- Antiarritmicos e cardiotônicos (digoxina)
- Acetaminofeno (paracetamol)
- Antiretrovirais (nevirapina)
- Inibidores de protease (medicamento indicado para pacientes com HIV)
- Inibidores de calcineurina (ciclosporina)
Informe também ao médico, farmacêutico ou até o cirurgião antes de usar esse medicamento se você faz uso contínuo de algum fitoterápico, suplemento ou vitaminas.
Interação alimentar
A rifampicina tem sua absorção reduzida quando usada junto a alimentos. Essa é a razão pela qual ela deve ser administrada com algum intervalo entre as refeições.
Você também deve evitar o uso de bebidas alcoólicas e o tabaco. Enquanto o medicamento ajuda a destruir as células infecciosas, essas substâncias reduzem a capacidade de defesa do organismo, o que é indesejável.
Há interação com exames laboratoriais?
Sim, principalmente os que estão relacionados com a funcionalidade do fígado, como os exames de sangue LT, AST, a fosfatase alcalina, bilirrubina, ureia e ácido úrico.
Caso esses exames sejam solicitados, informe o médico e o pessoal do laboratório sobre o uso da rifampicina.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
- Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
- No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
- Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
- Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Flavio da Silva Emery, professor associado da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), atual coordenador do programa de pós-graduação de ciências farmacêuticas de Ribeirão Preto, membro da comissão de divulgação científica da FCFRP-USP e do sub-comitê de Drug Discovery and Development da IUPAC (sigla em inglês para União Internacional de Química Pura e Aplicada); Marcos Alberto Machado Botelho, pneumologista atuando no atendimento de pacientes de tuberculose multirresistentes na SES (Secretaria Estadual de Saúde) do governo do estado de Pernambuco e ex-professor da disciplina de pneumologia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); Lucindo Quintans Júnior, professor titular no Departamento de Fisiologia, Laboratório de Neurociências e Ensaios Farmacológicos da UFS (Universidade Federal de Sergipe). Revisão técnica: Flavio da Silva Emery/Lucindo Quintans Jr.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz); Beloor Suresh A, Rosani A, Wadhwa R. Rifampin. [Atualizado em 2021 Jun 7]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557488/.
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