Salsicha, refrigerante, chocolate: com qual idade a criança pode consumir?
Pizza, salsicha, doces em geral, refrigerante, suco de caixinha. Esses alimentos, entre tantos outros industrializados, ultraprocessados e cheios de aditivos químicos, estão cada vez mais presentes na alimentação das crianças. Mas será que elas realmente podem consumi-los?
De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, poder até podem, embora não devam. Mas o importante é que isso aconteça de forma pontual —ou seja, de vez em quando, e não de forma cotidiana. "Em termos de alimentação, nada é proibido. Comer um chocolate ou um cachorro-quente um dia ou outro e em pequenas quantidades não tem problema, não vai fazer mal. O perigo é quando isso se torna rotina", aponta Virginia Weffort, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
A médica explica que, ao ingerir com frequência esse tipo de item, os pequenos recebem mais calorias do que o ideal, além de muito açúcar, sódio e gordura. Com isso, podem ficar com excesso de peso, desnutridos e também aumenta o risco de anemia, obesidade e outras doenças crônicas como diabetes e hipertensão.
E tem mais: uma alimentação pouco nutritiva pode prejudicar o crescimento e o sistema imunológico, favorecendo o surgimento de quadros inflamatórios e infecciosos, além de causar problemas como dificuldade de concentração e de aprendizagem, fadiga muscular, problemas de visão e nos ossos, bem como doenças renais e respiratórias.
"Sobretudo nos primeiros anos de vida, quando a criança ainda está em formação, ter uma alimentação cheia de alimentos calóricos e com pouco valor nutricional pode provocar danos significativos ao seu desenvolvimento e à sua saúde", afirma Weffort.
Antes dos 2 anos, não
Tanto as sociedades médicas como a OMS (Organização Mundial da Saúde) preconizam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses. Após esse período, devem ser adicionados gradualmente alimentos sólidos e continuada a amamentação por mais um ano e meio ou mais, caso as famílias assim decidam.
Nesta etapa, a orientação do Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, elaborado pelo Ministério da Saúde, é de que as crianças recebam uma alimentação adequada e saudável, feita com "comida de verdade", tendo como base alimentos in natura ou minimamente processados como arroz, feijão, mandioca, milho e outras frutas, legumes e verduras, carnes e ovos.
O documento diz ainda que os alimentos processados industrialmente (enlatados, queijos e conservas são alguns deles) devem ser limitados e, se forem consumidos, utilizados em pequenas quantidades. Já os ultraprocessados (biscoitos, bolachas, sucos artificiais, refrigerantes, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo etc.), não devem fazer parte da alimentação dos pequenos.
"Antes dos dois anos, esses produtos devem ser evitados a todo custo. Mas, depois disso, por mais que o ideal seja não oferecê-los, sabemos que existem situações em que fica difícil controlar", afirma Priscila Maximino, nutricionista especializada em atendimento de bebês e crianças, pesquisadora do Instituto Pensi (Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil) e integrante da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição).
A especialista comenta que a criança nasce sem o discernimento para escolher os próprios alimentos, sendo essa uma tarefa que cabe aos pais e responsáveis. Porém, haverá momentos em que ela vai ver outras crianças comendo —em uma festa, por exemplo— e vai querer. "Quando isso acontecer, o melhor é deixar. Eu acredito que a alimentação não pode ser punitiva e nem proibitiva, pois, se for, é provável que aquele alimento receba mais atenção do que merece", pondera.
Ao invés de focar no que não pode, Maximino diz que o certo é trabalhar a educação alimentar, e isso tanto em casa quanto na escola. Segundo ela, na chamada primeira infância, que vai do 0 aos 6 anos de vida, a variedade e a forma com que os alimentos são oferecidos terão total influencia na formação do paladar e na relação com a comida. Isso, inclusive, aumentará as chances de a criança se tornar uma pessoa adulta consciente e autônoma para fazer boas escolhas alimentares.
"A ciência é unânime em afirmar que a boa nutrição nos primeiros anos é determinante para a saúde durante toda a vida. Mas não só isso. Paralelamente ao desenvolvimento físico, orgânico e neurológico, é neste período que se consolidam os hábitos. Daí a importância de se ensinar a comer corretamente", afirma a pesquisadora do Instituto Pensi. "E, quando a criança aprende, ela pode até querer um pedaço de bolo ou chocolate, mas vai ser apenas de vez em quando e uma pequena quantidade", acrescenta.
Dicas para uma alimentação saudável
A relação dos pequenos com a comida leva tempo para ser construída e exige paciência. Nesta etapa da vida, como eles aprendem pelo exemplo, os pais ou responsáveis serão a sua referência alimentar e, portanto, é fundamental que tenham atenção ao que colocam no prato e até como realizam o preparo.
"Quando os adultos mantêm hábitos alimentares saudáveis, isso ajuda a criança nas próprias escolhas. Algumas dicas que dou para eles são evitar comprar alimentos prontos, proteger os filhos da publicidade alimentar, manter uma rotina de horários para as refeições em família em casa e, de preferência, sentar-se à mesa, sem ficar em frente à televisão, celular ou tablet, para evitar distrações", ensina Juliana Dametto, professora adjunta do Departamento de Nutrição da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Ela sugere ainda, no preparo das refeições, utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades, e, quando sair, evitar fast-food e procurar locais que preparem comida caseira. Além disso, sempre reforçar que o consumo de produtos processados ou ultraprocessados deve ser moderado e esporádico.
De acordo com o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, também é importante, durante as refeições, demonstrar satisfação, elogiando a comida e incentivando a criança a comer e a gostar de comer, e conversar com ela, explicando o que está no prato. Outras recomendações do documento são não dar alimentos em resposta a qualquer choro, não pressionar para comer por meio de ameaças, chantagens, punições ou recompensas, não oferecer quantidades excessivas de alimentos e nem forçar a comer toda a comida do prato.
Aline Sobreira Bezerra, professora adjunta do Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), do Rio Grande do Sul, acrescenta ainda que é importante variar as formas de apresentação da comida e oferecer todos os tipos de alimentos (mesmo aqueles que os pais não gostem), ofertar os líquidos somente depois das refeições e realizar no mínimo quatro refeições por dia.
"Para que a criança sinta prazer com uma alimentação saudável, ela deve ser estimulada a participar do preparo e das compras. Também não deve ser privada dos sabores, sejam eles amargos ou azedos. E, na hora de adoçar, pode-se usar frutas mais doces para esse efeito. Tudo isso ajudará na formação dos hábitos alimentares e fará a diferença na vida adulta", complementa a nutricionista.
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