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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


No alto da barriga, no lado, no umbigo: como diferenciar dores abdominais

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

29/10/2021 04h00

Se coloque na seguinte situação: você tem propensão a ter pedras nos rins, bebeu demais no final de semana e ainda resolveu variar o cardápio. Aí apareceu uma dor abdominal e você não sabe identificar seu foco e nem a causa, se é grave ou não é. O que fazer e observar? Tomar um chá, repousar, ir direto ao hospital? Em quanto tempo os sintomas devem melhorar?

Segundo os especialistas consultados por VivaBem, não existe uma resposta pronta e que sirva para todos os casos, até porque a percepção da dor pode ser diferente entre as pessoas. Mas é possível ter uma noção de qual área esteja acometida e causando o mal-estar e assim tomar providências. Às vezes, não é necessário um médico, mas em outras sim e até o quanto antes.

Cada dor em seu quadrado

Enquanto abdome "tanquinho" revela frequência na academia, abdome em "jogo da velha" (#), explica Alexandre Sakano, gastroenterologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ajuda a diferenciar dores nessa região, que é como um "estojo" de órgãos, revestidos em sua maioria por uma fina membrana contendo sensores específicos para dor (peritônio), do aparelho digestivo e do sistema gênito-urinário, sendo este último diferente entre os gêneros.

No topo e meio do abdome: É o epigástrio, região da boca do estômago, e a dor aí não costuma ser intensa, mas contínua e piora quando se alimenta, o que pode gerar ainda refluxo e azia. Quando aguda, pode ser uma úlcera que abriu ou mais raramente, pâncreas.

Lado direito superior do abdome: "Abaixo da última costela, fica a vesícula. Uma dor forte ali pode significar cálculo e requer investigação", diz Sakano. Fígado em geral não dá dor, mas pode estar relacionado a enjoos, tonturas, dor de cabeça, cansaço, manchas roxas e inchaço.

Lado esquerdo superior do abdome: Dor intensa é algo raro. Mas se surgir fraquinha, como uma cólica, e vir acompanhada de diarreia e gases, pode ter relação com intestino. Aumento do baço não causa dor forte, mas um desconforto, inchaço, soluços, febre e palidez.

Prisão de ventre - iStock - iStock
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No centro do abdome: Na região do umbigo pode ser intestino ou hérnia umbilical. Também pode ter relação com úlcera gástrica, prisão de ventre e infecções (gastroenterite, pancreatite).

Lateral direita do abdome: Pode ser por inflamação no intestino, gases, irradiação das dores de vesícula ou de um cálculo no rim direito, sobretudo se percebida em direção às costas.

Lateral esquerda do abdome: Nessa região, denominada flanco (temos direito e esquerdo), a dor pode ter relação com cólica renal novamente, intestino preso, ou algum problema mais sério nesse órgão, principalmente quando prolongada, observa o gastroenterologista da BP.

Abaixo da região umbilical: É o hipogástrio e dor aí pode ter relação com bexiga (infecção urinária, cistite), mas também cólica menstrual, cólon irritável e diarreia.

Mulher sentindo dor da apendicite com a mão no abdômen - Maksym Azovtsev/IStock - Maksym Azovtsev/IStock
Imagem: Maksym Azovtsev/IStock

Canto inferior direito do abdome: Dor aguda e intensa pode indicar apendicite, obstrução do final do ureter (canal que desce do rim em direção à bexiga) por cálculo, além de hérnia inguinal, rompimento de cisto de ovário, infecção urinária e inflamação intestinal ou testicular.

Canto inferior esquerdo do abdome: Com exceção da apendicite (inflamação do apêndice), os mesmos problemas do outro lado, ambos (direito e esquerdo) denominados de fossa ilíaca.

Existem também as chamadas "dores referidas", sentidas num local, embora produzidas em outro, e às vezes nem tão próximos. Um exemplo de dor abdominal que evolui para localizada é a de apendicite. Inicialmente é indefinida, na altura do umbigo, mas assim que o processo inflamatório atinge o peritônio, vira localizada e intensa na região inferior direita do abdome.

O que pode ser feito em casa?

Quando a intensidade da dor não é alta, ou já se tem um diagnóstico médico e sabe que é comum ter esse sintoma recorrentemente, espera-se que as ações sejam tomadas em casa a fim de se evitar idas desnecessárias ao pronto-socorro.

Em geral, é indicado ficar em repouso, evitar comer e beber em excesso, tomar antiespasmódico e aguardar por uma melhora breve.

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Para sintomas de transtornos gastrointestinais estão liberados chás de espinheira-santa, erva-doce e boldo. O suco de batata crua, por ser alcalino, ajuda a neutralizar a acidez estomacal e diminui o desconforto.

Agora, constipação, gases e distensão abdominal melhoram com anti-flatulentos (simeticona) e fármacos que estimulem a evacuação.

Já as dores de gastrite e úlcera, explica Raymundo Paraná, diretor do Hospital Aliança, da Rede D'Or em Salvador, e professor de gastro-hepatologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), com algum antiácido ou mesmo alimentação regular. "Os alimentos tamponam o ácido clorídrico e evitam que o hidrogênio do suco gástrico cause irritação na parede do estômago."

Mas Sakano complementa que também cabe à pessoa monitorar o que sente. Se notar que é um sintoma que veio de forma aguda, mas não tão forte e logo passou, provavelmente não é grave. Porém, se o quadro se repete com frequência ou é persistente, não deve ser encarado como "vai passar". Pode não ser uma urgência, mas requer consulta e investigação médicas.

Hospital para casos sérios

Tudo bem que cólicas e dores tipo pontada, comuns em situações de problemas intestinais, assustem. Mas quando é de fato uma situação bem grave, como uma apendicite ou outra doença de risco, os desconfortos abdominais não são os únicos sintomas a darem as caras, não passam após horas, aumentam de intensidade e incapacitam.

"Dada a grande amplitude de possibilidades diagnósticas na dor abdominal, uma severa, que tenha sintomas como náusea, vômito, hipotensão, sudorese e palidez, deve motivar sempre a ida ao pronto-socorro", recomenda Ricardo Guilherme Viebig, diretor técnico do núcleo de motilidade digestiva de neurogastroenterologia do Hospital Igesp, em São Paulo, e presidente da SBMDN (Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia).

Às vezes, até um princípio de infarto pode se refletir como uma dor abdominal, ainda mais se vier durante ou após atividades físicas e acompanhar suor frio, falta de ar, aperto no peito. Igualmente não são bons sinais: febre alta, sangue em fezes, urina ou no conteúdo gástrico expelido, diarreia mais de 10 vezes ao dia ou por semanas a fio e dor intensa após pancada.

"Felizmente, hoje existem exames de imagem mais facilmente disponíveis, os quais, junto com alguns exames de sangue, a história clínica e o exame físico, ajudam o médico a dar o diagnóstico e a fazer a indicação terapêutica", observa Paraná.

A depender do quadro, o paciente pode ser medicado e liberado após orientação sobre tratamentos que deve seguir em casa ou mudanças alimentares e de hábitos de vida, ou ainda encaminhado para uma cirurgia.