O que acontece com o organismo em altas velocidade, altura e profundidade?
O parque temático Islands of Adventure, em Orlando (EUA), inaugurou recentemente uma montanha-russa que faz manobras espirais a 112 km por hora. Se interessa mais por altura? Na Ásia, o monte Everest conta com mais de 8.000 metros para se escalar. Agora, se prefere desbravar as profundezas, há duas opções: a bordo de um submarino, ou com o próprio corpo. Mas saiba que o recorde mundial em mergulho é de apenas 332 metros, uma verdadeira proeza humana.
Porém, você já parou para pensar nas consequências de experiências como essas ao organismo? Em se tratando de velocidade, segundo as leis da física, uma pessoa normal aguenta diretamente sobre ela equivalente ao que enfrentaria em queda livre, entre 200 e 240 km/h. Passando disso, além de roupas especiais, à prova de vento e frio, é preciso muito mais preparo e resistência, ou estar dentro de um carro fechado, trem ou aeronave. Mas, mesmo protegidos, estamos sujeitos a sofrer com outra força, da alta aceleração, como durante uma manobra de jato-caça.
Em se tratando de altitude, ao ar livre e com muita adaptação, sem danos severos daria para suportar entre 2.500 até 3.600 metros, equivalente à altitude da cidade de La Paz, capital da Bolívia. Acima disso, a pessoa entra mais fácil na chamada "zona da morte".
E muito abaixo, como numa imersão em água, aguenta-se bem, em média, entre 10 e 40 metros, mas com traje de mergulho, cilindro de oxigênio e bastante prática. Passar disso é multiplicar os riscos.
Muito além do frio na barriga
Brinquedos de parque de diversões classificados na categoria "grandes emoções", como montanha-russa, elevadores que despencam e outras engenhocas que giram em torno de si e fazem movimentos de um lado a outro, não são aconselhados a pessoas com alterações de pressão, problemas cardíacos ou motores, gestantes e outras situações que podem se agravar. A velocidade mais a adrenalina causam ainda uma "pane" que afeta vários órgãos e o cérebro.
Como o corpo nessas situações se movimenta bruscamente, o ritmo do coração e a circulação se desestabilizam. O cérebro, numa tentativa de fazer o organismo voltar ao normal, então induz ao desmaio, que também pode ocorrer quando o sangue não chega à cabeça.
Numa situação atípica, não recorrente, passar por isso não faz tão mal. Agora, se o episódio se repetir com frequência, cabe investigação médica, para evitar, por exemplo, infarto e AVC.
"Com o processo de aceleração e desaceleração, o cérebro também pode se movimentar dentro do crânio, pois eles não são colados, há um espaço com líquido, e o choque entre eles pode levar a rompimentos de pequenos vasos e formar desde hematomas a coágulos", afirma Júlio Barbosa Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião.
Outras complicações decorrentes da alta velocidade no organismo incluem náuseas, tontura, dor de cabeça, visão turva, traumas, pois ao desmaiar perdemos também o tônus muscular, o que facilita bater cabeça, membros ou se cortar.
Já ao extremo e prolongada, a aceleração pode, além de levar à perda de consciência, nos ferir internamente, romper com tecidos e veias de olhos e nariz, deslocar retina e pálpebras, asfixiar, causar inchaços, hipotermia e matar.
Adversária superior e invisível
Da velocidade para a altura, os problemas se cruzam, mas também variam de onde se esteja. A 35 mil pés (equivalente a 10 km) acima do solo e dentro de um avião pressurizado e com baixíssima umidade, podemos ter alterações de humor, cansaço, coceira, queda de oxigenação no sangue, vertigem, desidratação, flatulência e agravamento de doenças preexistentes não controladas (como hipertensão e diabetes), fora sinusite, otite, asma e risco de trombose.
Agora, em chão, mas ainda assim em locais muito elevados, o ar rarefeito costuma atingir sobretudo a alpinistas e jogadores de futebol, prejudicando desempenho físico e aeróbio, metabolismo e capacidade de recuperação após esforços.
A falta de oxigênio (hipóxia) leva ainda a mudanças psicológicas e comportamentais, como euforia e irritabilidade, além de comprometimento de memória e visão. Mas nem todos sentem os sintomas igualmente.
Há ainda uma doença aguda conhecida como "mal da montanha", explica Pedro Augusto Nogueira Vieira, otorrinolaringologista do Hospital Cema, em São Paulo. A partir de cerca de 3.000 metros de altitude, o risco dela se manifestar é de 40%, desencadeando em poucas horas após a subida dor de cabeça, perda de apetite, falta de ar, formigamentos, tosse e outros quadros perigosos à medida que se continua de maneira veloz, sem pausas, e acima de 3.000 e 5.000 metros.
"São esses males confusão mental, desmaios e, em casos mais extremos, edemas cerebral e pulmonar, hemorragia ocular, coma e deslocamento de trombos", complementa Vieira.
Não queira nunca naufragar
Se subir demais não é bom por conta da diminuição da pressão, descer demais é ruim por causa do aumento dela. Quando o Titanic naufragou em 1912, o peso da água enquanto ele descia em direção ao fundo do Atlântico foi capaz de arrancar sua escadaria principal como uma folha de papel e explodir o seu casco.
Em humanos, isso repercute em redução do volume interno dos pulmões, alteração do comportamento de gases dentro de nós e "esmagamento".
A partir de 10 metros submergidos, a pressão aumenta gradativamente. De acordo com João Vicente, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês (SP), com o corpo então comprimido, podem surgir hematomas; o coração trabalha mais para bombear sangue, principalmente para as extremidades; os tímpanos, sem troca interna de pressão correta, correm risco de perfurar; e o labirinto (área relacionada a audição, equilíbrio e percepção do próprio corpo) de sofrer com vertigens e a pessoa alucinar. Fora hipotermia, pois quanto mais fundo, mais fria a água.
Mas a subida à superfície também envolve armadilhas fatais. "Se o mergulhador quiser subir depressa, pode ser afligido pela doença da descompressão, que é quando parte do nitrogênio presente em seu sangue no estado líquido muda rapidamente para o estado gasoso, formando bolhas e favorecendo embolias e morte súbita", continua Vicente.
E não pense que dentro de algum submarino a segurança é maior. Assim como para descer, voltar exige passar por várias paradas de despressurização.
Fonte adicional consultada: Everton Bonturim, mestre e doutor em ciências pela USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador em tecnologia nuclear.
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