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Câncer de colo de útero pode ser erradicado com papanicolau e vacina

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Imagem: iStock

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

22/01/2022 10h58

Com mais de 16 mil casos e cerca de 6.500 mortes anuais, o câncer de colo do útero é o terceiro mais comum entre as brasileiras. De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), ele fica atrás apenas do câncer de mama e do colorretal.

No entanto, é uma doença que com acesso ao exame preventivo e alta taxa de adesão à vacina poderia ser uma doença erradicada. Esse é o alerta da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) no janeiro verde, mês de conscientização sobre a doença.

O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção de alguns tipos do Papilomavírus Humano - HPV (chamados de tipos oncogênicos). Embora frequente, a infecção genital por esse vírus não costuma causar doença, mas, em alguns casos ocorrem alterações celulares que evoluem para o câncer.

Essas alterações podem ser descobertas facilmente através do exame preventivo, papanicolau, disponibilizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Há também vacina para meninos e meninas contra o vírus HPV. A SBCO acredita que juntas, essas duas medidas são capazes de erradicar a doença.

Entre os principais riscos da doença estão:

  • Início precoce da atividade sexual e múltiplos parceiros;
  • Tabagismo (a doença está diretamente relacionada à quantidade de cigarros fumados);
  • Uso prolongado de pílulas anticoncepcionais.

Como prevenir a doença

Desde 2017, teoricamente, a vacina tetravalente contra o HPV é disponível para todas as meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Essa vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.

O INCA alerta que mesmo as mulheres vacinadas, a partir dos 25 anos, elas devem fazer o exame preventivo periodicamente, pois a vacina não protege contra todos os tipos oncogênicos do HPV. Para mulheres com imunossupressão (diminuição de resposta imunológica), vivendo com HIV/Aids, transplantadas e portadoras de cânceres, a vacina é indicada até 45 anos de idade.

Nem todos têm acesso às medidas preventivas

Embora o exame e a imunização estejam disponíveis pelo SUS, gargalos nas cinco regiões do país impedem que a incidência de câncer de colo do útero diminua.

As metas globais para a eliminação do câncer do colo de útero são a marca de 90% de cobertura da vacina contra o HPV em meninas antes dos 15 anos; 70% de cobertura de rastreamento com teste de HPV em mulheres de 35 a 45 anos; e 90% de cobertura de tratamento de doenças do colo do útero (pré-câncer e câncer), incluindo cuidados paliativos.

Na contramão desses números, a adesão no Brasil é baixa. Para se ter ideia, segundo a SBCO, em 2019, apenas 22% dos meninos e 51% das meninas foram imunizados.

"Além da baixa taxa de cobertura da vacina contra HPV, o Brasil sofre com a falta de acesso ao exame de papanicolau e, como reflexo disso, a região Norte registra prevalência de colo do útero similar à do câncer de mama", alerta a cirurgiã oncológica Ana Carolina Anacleto Falcão, vice-diretora de Comunicação da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica).

Um estudo publicado em 2018, no Journal of clinical Oncology, descreveu alguns motivos para a não realização do exame preventivo, como a falta de vontade em 46,9% dos casos, vergonha ou constrangimento em 19,7%, e falta de conhecimento em 19,7%.

Esse estudo também demonstrou que a baixa adesão ao papanicolau está associada a disparidades sociais, menor renda, nível educacional e parceiro estável. Somado a isso, tem o efeito da pandemia de covid-19, que comprometeu o diagnóstico, a prevenção de câncer e impactou na cobertura vacinal para outras doenças.

O Brasil registra 6.596 mortes anuais por câncer de colo do útero, sendo que as chances de cura diminuem quando a doença evolui para metástase (espalhar para outros órgãos).