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Fruta do Cerrado, baru tem bastante ferro e ajuda no controle do colesterol

Fruto de baru (ou cumbaru) - CEDAC | Arquivo institucional
Fruto de baru (ou cumbaru) Imagem: CEDAC | Arquivo institucional

Cecilia Felippe Nery

Colaboração para o VivaBem

09/02/2022 04h00

Pouco conhecido pela população, embora muito saudável, o baru é um fruto tipicamente brasileiro, nativo do Cerrado. Do fruto provém a castanha, uma oleaginosa, espécie de amêndoa, repleta de boas propriedades nutricionais e que traz benefícios sobretudo à saúde do coração.

"Nos últimos anos, graças a estudos sobre as propriedades nutricionais do baru, é possível encontrar suas amêndoas e o óleo obtido dele nas diversas regiões do Brasil", informa a nutricionista Eva Andrade.

De acordo com Marina Leopoldina Lamounier Campidelli, doutora em ciências dos alimentos, o baru apresenta diversas propriedades medicinais e terapêuticas, sendo indicado para controle de reumatismo, anemia, dores musculares e do ciclo menstrual.

Entre os principais nutrientes presentes, encontram-se os lipídios, proteínas, fibras, vitaminas (C e E), minerais (boro, zinco, cobre, manganês e magnésio), ácidos graxos (oleico, linoleico), moléculas antioxidantes e polifenóis. A polpa apresenta valor calórico de aproximadamente 300 kcal/100 g, principalmente em razão do seu alto conteúdo em carboidratos (63%), com predominância de amido, fibras insolúveis e açúcares.

As amêndoas de baru são uma importante fonte alimentar por apresentar alto teor de proteína bruta (26,3%) e lipídios (33,3%). Ela ainda é fonte de cálcio, fosforo e manganês e tem maior valor energético do que a polpa: de 480 a 560 kcal/100 g.

O óleo extraído é composto, em sua maioria (75,6%), por ácidos graxos insaturados. "Esse óleo é rico em ácidos graxos insaturados, sendo o componente principal o ácido oleico —ômega 9— (44,53%), seguido do linoleico —ômega 6— (31,7%), palmítico (7,16%), esteárico (5,33%) e outros, além da vitamina E (13,62 mg/100 g)", ressalta a engenheira agrônoma Helenice Moura Gonçalves.

Diversas equipes de pesquisadores brasileiros estudam a composição do baru e de sua amêndoa, bem como de seu impacto no organismo vivo. Entre as pesquisas publicadas, já estão comprovadas a sua eficiência em questões como:

1. Ajuda no controle do colesterol

Melhora do perfil lipídico sérico, devido à redução de colesterol total, LDL (colesterol "ruim"), triacilgliceróis e aumento de HDL (colesterol bom). Esses resultados se devem em função dos elevados teores de ácidos graxos insaturados, principalmente ácido graxo oleico, com baixos valores de índice de aterogenicidade e índice trombogênico (desencadeando caráter hipocolesterolêmico). Fibras dietéticas, fitoesteróis e compostos bioativos presentes neste alimento também podem contribuir para melhora do perfil lipídico.

2. Auxilia na manutenção do peso

O controle de peso corporal é dado principalmente em função da junção das fibras e dos compostos bioativos que, juntos, são responsáveis por melhorarem à saciedade e a manutenção do ganho de peso.

3. Previne o envelhecimento precoce

Algumas substâncias bioativas presentes no baru (tais como os compostos fenólicos e os tocoferóis) têm a capacidade de recuperar e neutralizar os radicais livres, portanto, são capazes de prevenir ou reverter o dano de espécies reativas de oxigênio às macromoléculas celulares (ácidos nucléicos, proteínas e lipídios), protegendo as células contra a lipoperoxidação. Previne, assim, o envelhecimento precoce das células.

Coleta de baru - Conab/divulgação - Conab/divulgação
Imagem: Conab/divulgação

4. Age na saúde da pele

O óleo do baru também age como um ótimo hidratante para a pele e atenua a presença de estrias. É excelente óleo de massagem, pois é fino e de rápida absorção pela derme. Protege dos raios solares e regenera a pele deformada por queimaduras, pela presença de vitamina E (?-tocoferol) e ácidos graxos. Amacia e proporciona um toque aveludado à pele por mais tempo, melhorando a sua elasticidade.

5. Diminui inflamações

Estudos envolvendo respostas metabólicas frente à ingestão de baru (principalmente de sua amêndoa) em modelo animal e humano demonstram a eficiência de seu consumo na diminuição da inflamação e de doenças neurodegenerativas. Isso se deve, em grande parte, à capacidade dos componentes fitoquímicos atuarem em sinergismo como agentes protetores em diferentes desordens metabólicas e de origem inflamatória e por modularem os biomarcadores envolvidos na patogênese dessas enfermidades.

6. Previne a anemia

A castanha do baru apresenta alta porcentagem de ferro, por isso é uma forma de auxiliar na prevenção da anemia. Em 100 gramas de castanha é encontrado 59% da recomendação diária de consumo de ferro.

7. Combate as dores articulares

O consumo da castanha torrada, ou da paçoca/farinha, diminui dores nas articulações, como por exemplo a bursite.

Castanha de baru - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Como consumir

A polpa e a amêndoa são comestíveis. O sabor da amêndoa é agradável e menos acentuado do que o amendoim, sendo consumida de diversas formas: torradas como um aperitivo ou em inúmeras receitas como pé-de-moleque, paçoca, rapadurinhas, cajuzinho, entre outras. "Em qualquer receita, a amêndoa do baru pode substituir a castanha-de-caju, amendoim ou nozes, inclusive nas misturas de cereais que também tem grande aceitação", assegura Andrade.

Gonçalves ressalta que o fruto do baru é 100% aproveitável. "O ideal é consumir a amêndoa torrada para inativar os chamados fatores antinutricionais, uma vez que podem interferir na absorção de minerais, como cálcio e zinco", afirma a pesquisadora. Quando trituradas formam paçocas e farinhas que compõem receitas de bolos, tortas, pudins, barras de cereal, cookies, na forma de pasta, nibs da polpa de baru.

De acordo com o conhecimento dos povos tradicionais do Cerrado, as cascas e as folhas da árvore também podem ser utilizadas como chás. "O chá da casca, por exemplo, é bom para reduzir o colesterol alto, para dores na coluna e controlar o diabetes, informa Gonçalves. No entanto, a parte mais consumida, e também a mais estudada do baru é mesmo a sua amêndoa. "Em razão da sua superioridade nutricional frente a outras amêndoas disponíveis, torna-se alvo principal dos consumidores e dos pesquisadores", diz Campidelli.

Riscos e contraindicações

Não existem na literatura registros de problemas alimentares associados ao consumo da castanha e/ou da polpa do baru. "No entanto, quanto à amêndoa, sugere-se que antes do consumo a mesma seja submetida a uma torrefação, visando eliminar os compostos antinutricionais, responsáveis por reduzir a biodisponibilidade de nutrientes como cálcio e ferro", explica Campidelli.

Em virtude da sua constituição química, encontram-se, também, fatores antinutricionais (antitripsina) que são facilmente destruídos pelo calor. "Dessa forma, recomenda-se o consumo das amêndoas torradas, que apresentam sabor semelhante ao do amendoim", orienta Andrade.

Fontes: Eva Andrade, nutricionista materno-infantil, pós-graduanda em ciências e tecnologia dos alimentos do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte), consultora de segurança de alimentos; Helenice Moura Gonçalves, engenheira agrônoma, doutora em agronomia, pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Cerrados; Marina Leopoldina Lamounier Campidelli, doutorada em ciência dos alimentos pela UFLA (Universidade Federal de Lavras).