O que são alimentos orgânicos? Eles são mais saudáveis que convencionais?
Alimentos orgânicos estão ganhando espaço no mercado e no prato de alguns brasileiros, que buscam por uma alimentação mais saudável mesmo que um pouco mais cara. Mas o que são os ditos orgânicos? Será que eles têm mais nutrientes e são melhores para a saúde?
Os orgânicos são produzidos sem o uso de pesticidas, adubos químicos, substâncias sintéticas ou transgênicas, antibióticos e hormônios, e são cultivados de forma mais natural possível. É importante ressaltar que o alimento orgânico, in natura ou processado, é obtido em sistema orgânico de produção agropecuária, ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local.
Isso não quer dizer que não se faz uso de tecnologias de melhoramento genético e seleção de cultivares com resistência a pragas e doenças. "Há tecnologias apropriadas para agricultura orgânica e, o mais interessante, todas as tecnologias para a agricultura orgânica servem à convencional", assegura Anelise Dias, professora da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e coordenadora do PPGAO (Programa de Pós-Graduação em Agricultura Orgânica).
Com relação à criação de animais nos sistemas orgânicos de produção, os mesmos são registrados e monitorados do nascimento ao abate, sendo prioridade a segurança alimentar e o bem-estar dos animais. "Além disso, as técnicas de produção devem respeitar a saúde do trabalhador e do consumidor, a biodiversidade e utilizar de modo responsável os recursos naturais", diz Gabriela de Souza Viana, nutricionista clínica no Hospital Sírio Libanês.
Há diferença nutricional significativa?
No caso da composição nutricional, há estudos que mostram não haver diferenças significativas, sobretudo em relação às quantidades de macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios), enquanto outros identificaram diferenças na composição de compostos bioativos (como os polifenóis) e na distribuição dos ácidos graxos (o tipo de gordura), pondera a nutricionista Kelly Virecoulon Giudici, doutora em ciências (sub-área nutrição em saúde pública), co-fundadora do site NutS (Nutrition Science).
"Uma das principais evidências está relacionada à influência negativa que fertilizantes químicos possuem sobre os componentes antioxidantes dos alimentos. Estudos comparativos têm demonstrado maior teor de vitamina C, carotenoides e polifenóis em alimentos orgânicos, quando comparados aos convencionais", diz Viana.
Segundo Dias, pesquisas também apontam maiores concentrações de ômega 3 em produtos lácteos orgânicos e melhores perfis de ácidos graxos em produtos de carne orgânica. Além disso, orgânicos têm níveis mais baixos de metais pesados e resíduos de fertilizantes, agrotóxicos e teores de nitrato. "Um número crescente de descobertas e estudos também estão relacionando benefícios à saúde demonstráveis com o consumo de alimentos orgânicos, como redução da incidência de infertilidade, defeitos congênitos, sensibilização alérgica, otite média etc.", revela.
Mas é preciso cautela. A nutróloga e pediatra Fernanda de Luca, presidente da ABMV (Associação Brasileira dos Médicos Vegetarianos) e professora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), informa que os orgânicos não têm mais vitaminas e minerais do que os alimentos cultivados de maneira convencional e os riscos do consumo de alimentos com resíduos de pesticidas parecem ser superestimados pelas pessoas. Para Luca é um erro grave deixar de consumir frutas, legumes e verduras por medo de ingerir agrotóxicos.
Os benefícios do consumo de alimentos naturais e integrais são, sem dúvida alguma, muito maiores do que os eventuais riscos pela ingestão de resíduos de pesticidas. Ninguém deve deixar de consumir frutas, legumes e verduras por medo de ingerir alimentos cultivados com agrotóxicos. Numa refeição, metade do prato deve conter legumes e verduras, orgânicos ou não". Fernanda de Luca, nutróloga e pediatra.
Agrotóxicos e preços altos
Não se sabe ainda quais os riscos reais dos agrotóxicos à saúde do consumidor. Isso porque não é possível fazer experimentos com humanos, pois não se sabe qual seria a quantidade segura do uso dessas substâncias. As análises feitas até o momento foram observacionais, o que quer dizer que muitos fatores podem confundir os resultados, como a poluição.
Os dados que se tem até o momento também são mais evidentes em trabalhadores que lidam diretamente com os agrotóxicos e a população rural. A exposição direta, a longo prazo, realmente gera problemas graves de saúde, como paralisias, lesões cerebrais e hepáticas, alguns tipos de câncer, alterações comportamentais. Em gestantes, podem levar ao aborto e à malformação congênita.
Quanto à alimentação orgânica, é importante verificar a procedência e a manipulação. "Alimentos orgânicos estão mais susceptíveis à contaminação por agentes biológicos, o que pode levar a uma intoxicação alimentar e a verminoses", revela Giudici.
Para Luca, nem todo alimento orgânico é saudável, e existem hoje inúmeros orgânicos que não deveriam ser consumidos, por fazerem muito mal à saúde. "É o caso, por exemplo, de biscoitos recheados, salgadinhos empacotados, doces em geral e comidas junk-food que podem ser encontrados no mercado com selo de orgânico. O simples fato de ser orgânico não torna um alimento saudável", adverte.
Em contrapartida, Dias não vê desvantagens no consumo de orgânicos e aponta vantagens com relação aos convencionais. "Percebo que os alimentos orgânicos têm uma vida útil mais longa —as pesquisas também mostram isso. Tenho consciência de que os alimentos orgânicos podem não ter oferta contínua durante todo o ano por conta da sazonalidade da produção, e esse é um aspecto-chave. Produzir na época recomendada é um princípio básico na agricultura orgânica. Isso me estimula a buscar substituições de alimentos, inovar e diversificar mais a alimentação da família. Passei a consumir plantas alimentícias não convencionais, por exemplo", diz.
No entanto, para o produtor, a agricultura orgânica pode ser inicialmente mais dispendiosa e demorada quando comparada à agricultura convencional. "Para o consumidor, devido à diferença de oferta e demanda, a desvantagem em adquirir alimentos orgânicos pode ser observada no preço mais elevado", argumenta Viana.
Como saber se orgânico é de origem confiável
Para consumir alimentos orgânicos de origem confiável, é necessário procurar por selos de certificação nas embalagens e rótulos. No Brasil, para que um produto possa ser rotulado e vendido como orgânico, é obrigatório, desde 2003, que o produtor passe por um processo de certificação que garanta todas as características da produção orgânica.
O processo de certificação é feito pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Porém, é importante ressaltar que o selo não garante que 100% do alimento seja orgânico. Um produto pode ser classificado como orgânico se tiver, no mínimo, 95% de ingredientes orgânicos em sua composição. Já os ingredientes que compõem os outros 5% devem ser identificados e seguir algumas regras (pesticidas, por exemplo, não são aceitos de nenhum modo).
Por que são mais caros?
Alimentos orgânicos costumam ser mais caros que os convencionais porque seu cultivo e todo o processo para se obter o selo orgânico geralmente são muito dispendiosos para o produtor. O custo dos insumos e dos chamados "adubos verdes" costumam ser mais caros. Além disso, a necessidade de mais mão de obra por volume produzido, a baixa escala de produção e a menor durabilidade dos produtos acabam tornando o preço final mais caro para o consumidor. Soma-se a isso o fato de que no Brasil existem incentivos governamentais (como isenção de impostos) para produtores que utilizam agrotóxicos, enquanto os produtores orgânicos não recebem esses benefícios.
Conforme Viana, ter uma alimentação à base de produtos orgânicos ainda é um desafio para maior parte das pessoas, seja pelo preço mais elevado, seja pela dificuldade em encontrar alguns itens ou até mesmo pela falta de informação sobre o assunto. Porém, segundo ela, é possível manter uma alimentação equilibrada incluindo itens convencionais e orgânicos com pequenas mudanças no dia a dia.
Vale evitar consumir alimentos industrializados e priorizar os in natura, incluir frutas, legumes, verduras, grãos integrais e leguminosas nas refeições diárias. Prefira também consumir alimentos da safra, pois além de mais baratos e nutritivos, contêm menor quantidade de agrotóxicos.
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