Curto, longo, grosso: o que o pescoço pode indicar sobre a nossa saúde?

O pescoço equivale, digamos, a um pequeno tronco entre a cabeça e o restante do corpo e a linha de sua circunferência é quase nossa segunda cintura. Se a silhueta dá pistas de nosso estado de saúde, o pescoço também. Grosso, fino, longo, curto, cada tipo revela alguma coisa, que pode não ser nada de mais, ou até uma doença com potencial mortal. Mas calma!

Quando estamos com algo grave e que abrange o pescoço é comum termos sintomas. Pode ser dor local, ardência, mas também dificuldade para engolir, respirar, falar, se movimentar, rouquidão, surgimento de saliências, mas ainda, fora dele, aceleração dos batimentos, febre, fraqueza, dor de cabeça, perda de peso, olhos saltados, suores excessivos e irritabilidade.

Se o diâmetro dele estiver aumentado, maior do que 38 cm em circunferência para homens e maior do que 34 cm para mulheres, pode-se suspeitar de alguma alteração ou até mesmo doença.

Quando é do pescoço

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Imagem: iStock

Defeitos vertebrais de nascença podem afetar o pescoço, deixando-o mais longo e inclinado para frente ou entortado e se acentuam à medida que se desenvolve. Má postura e retificação da lordose cervical também.

Já o formato curto pode ter relação com lesões de tecidos moles e ósseas durante o parto e que afetam a sustentação; contraturas musculares; síndrome de Klippel-Feil (fusão de vértebras cervicais); espondilose; em idosos, osteoporose e fraturas. Mas pode representar variação anatômica e não trazer nenhuma consequência.

Por outro lado, aumentos na região cervical anterior e nas laterais do pescoço são mais específicos e merecem atenção. Podem sugerir, por exemplo, tumores na cavidade oral, faringe ou anomalias como nódulos aumentados e cistos branqueais.

Circunferência expandida também se relaciona com caxumba; abcessos e inflamação por amigdalite; distúrbios da glândula tireoide, na frente do pescoço. Esse é um dos sinais de bócio (aumento dessa glândula), por fatores como falta de iodo na dieta; condições autoimunes, como doença de Graves (hipertireoidismo), relacionada a aumento de secreção de hormônios tireoidianos.

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Se a grossura é permanente, ainda pode ser por fibrose no músculo do pescoço.

Não é dele, mas o atinge

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Imagem: Klara Kulikova/Unsplash

O pescoço ainda pode ser influenciado por fatores não locais, mas gerais e que o atingem. Na lista: intoxicações alimentares, picadas de insetos, infecções virais e cânceres que acionam a defesa do organismo e cursam com gânglios linfáticos inchados.

Síndromes de fundo genético, como de Turner e Noonan, em que o pescoço fica largo devido a uma prega de pele entre ele e os ombros. Já anorexia e grau severo de desnutrição podem diminuir com sua circunferência.

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Mais raramente, pode envolver Síndrome de Cushing, caracterizada pelo aumento da concentração de cortisol no sangue. Essa condição leva ao aumento rápido de peso, acúmulo de gordura na região abdominal e face e faz o pescoço 'encolher', porque se forma como uma corcova na parte de trás dele.

Alteração para mais na "cintura" do pescoço indica acúmulo de tecido adiposo na parte superior do corpo: no queixo, entre os músculos e em torno das vértebras cervicais. Ela está associada a ganho excessivo de peso, mas ainda com síndrome metabólica (conjunto de fatores de risco metabólicos) e envelhecimento (perde-se o tônus de diversos tecidos nessa região, incluindo dos mais profundos, aumentando a flacidez e o estreitamento da faringe).

Trate para evitar problemas

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Ao suspeitar da aparência do seu pescoço, além de notar sintomas como os já mencionados, procure um médico. Em caso de inchaços repentinos e mal-estar, um pronto-socorro. Se atente também ao diâmetro da circunferência, independente de outras medidas, como de IMC (índice de massa corporal) e cintura abdominal.

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Em se tratando de crescimento da tireoide, o diagnóstico é confirmado pelo tamanho da glândula na ultrassonografia. Hipertireoidismo pode ser tratado com medicações, iodoterapia, cirurgia e, a depender do caso, radiofrequência.

Ignorar, havendo de fato algum problema, é assumir vários riscos, não só de agravamento das patologias envolvidas, como de se gerar novas complicações cardiovasculares, apneia obstrutiva do sono e até morte súbita.

Pode interferir ainda na avaliação e possibilidade de o médico, eventualmente, precisar intubar o paciente. Às vezes, isso pode ser necessário em cirurgias com anestesia geral ou de emergência, por infecção generalizada, sepse ou pneumonia.

Fontes: Pedro Augusto Vieira, coordenador do serviço de otorrinolaringologia do Hospital Municipal da Criança e do adolescente; Luciana Arcoverde, cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital São Luiz, no Recife; Maria Fernanda Barca, outora em endocrinologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Rosália Padovani, diretora da Sociedade Brasileira Endocrinologia Metabologia.

*Com informações de matéria de março de 2022

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