Dormir com alguma luz aumenta risco de doenças cardíacas, alerta estudo
Se você costuma dormir com um abajur aceso ou apenas com a televisão ligada —sem o som—, está na hora de rever seus conceitos. Dormir em um quarto moderadamente iluminado aumenta o risco do desenvolvimento de doenças cardíacas e de resistência à insulina, ou seja, diabetes.
Essa foi a conclusão de um estudo publicado na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), no dia 14 de março de 2022. Ele avaliou a frequência cardíaca de jovens saudáveis. Segundo os pesquisadores, a baixa luminosidade aumenta a frequência cardíaca fazendo com que o corpo não descanse adequadamente durante o sono.
"Os resultados deste estudo demonstram que apenas uma única noite de exposição à iluminação moderada durante o sono pode prejudicar a glicose e a regulação cardiovascular, que são fatores de risco para doenças cardíacas, diabetes e síndrome metabólica", disse o autor sênior do estudo, Phyllis Zee, chefe de medicina do sono da Northwestern University Feinberg School of Medicine e médico da Northwestern Medicine.
A pesquisa contou com um total de 20 adultos saudáveis, com idade média de 26 anos, que foram avaliados no laboratório Northwestern Medicine. Os cientistas testaram o efeito de dormir com 100 lux (luz moderada) em comparação com 3 lux (luz fraca) nos participantes durante uma única noite.
Quais foram os resultados?
A exposição moderada à luz fez com que o corpo entrasse em um estado de alerta mais alto chamado ativação simpática. Nesse estado, a frequência cardíaca aumenta, bem como a força com que o coração se contrai e a velocidade com que o sangue é conduzido aos vasos sanguíneos para o fluxo sanguíneo oxigenado.
Nesse sentido vale dizer que existem sistemas nervosos simpáticos e parassimpáticos para regular a nossa fisiologia durante o dia e a noite. O simpático assume o comando durante o dia e o parassimpático à noite, quando transmite a restauração para todo o corpo.
Segundo os pesquisadores, já existem evidências de que a exposição à luz durante o dia aumenta a frequência cardíaca por meio da ativação do sistema nervoso, que acelera o coração e aumenta o estado de alerta para enfrentar os desafios do dia.
"Nossos resultados indicam que um efeito semelhante também está presente quando a exposição à luz ocorre durante o sono noturno", explicou Zee. Isso significa que, mesmo quando estamos dormindo, o sistema nervoso é ativado com a luz fraca.
Como a luz durante o sono pode levar ao diabetes e à obesidade?
A resistência à insulina ocorreu na manhã seguinte com os participantes do estudo que dormiram em uma sala iluminada. "Estamos mostrando um mecanismo que pode ser fundamental para explicar por que isso acontece. Mostramos que está afetando sua capacidade de regular a glicose", esclarece Zee.
Além disso, os participantes do estudo não estavam cientes das mudanças biológicas que ocorrem em seus corpos durante a noite. "Mas o cérebro sente", disse Daniela Grimaldi, primeira autora do estudo e professora assistente de pesquisa de neurologia na Northwestern.
"Ele age como o cérebro de alguém cujo sono é leve e fragmentado. A fisiologia do sono não está descansando como deveria", acrescenta Grimaldi.
"Essas descobertas são importantes principalmente para aqueles que vivem em sociedades modernas, onde a exposição à luz noturna interna e externa é cada vez mais difundida", finaliza Zee.
O que mais influencia no sono?
Pessoas com experiências negativas noturnas e transtornos psicológicos podem ter mais dificuldade de relaxamento. Ansiedade e depressão podem se apresentar em forma de sonolência excessiva e insônia comórbida. Então, podem ter dificuldade para iniciar o sono, dormir além do necessário ou acordar mais cedo do que o esperado de forma espontânea. Estresse, burnout e TDAH também interferem na qualidade do descanso.
Sentir a necessidade de ficar conectado no celular durante a madrugada é outro fator preocupante e aumenta o risco de sedentarismo, obesidade e, consequentemente, de desenvolver apneia, que é a evolução do ronco, quando a respiração diminui a quantidade de oxigênio provocando a liberação de substâncias nocivas ao organismo.
Em casos como esse, é necessário o uso de CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), um compressor de ar que ajuda na respiração, mas não há política pública para fornecimento de forma gratuita.
O conteúdo de filmes, vídeos, jornais e redes sociais pode liberar adrenalina e cortisol, substâncias que devem estar ativas somente durante o dia em momentos de estresse, alerta e fuga e, se liberadas à noite, seja de forma comportamental ou medicamentosa, podem ser mais prejudiciais do que a iluminação. Após desligar os aparelhos, a substância ainda se mantém por algum tempo em circulação.
Higiene do sono
Para dormir de forma adequada é indicado adquirir novos hábitos com uma série de técnicas conhecidas como higiene do sono, que consistem em se expor à luz natural durante o dia, se distanciar de aparelhos eletrônicos duas horas antes de dormir, não fazer uso de substâncias estimulantes que contenham cafeína depois das 19 horas, usar a cama apenas para dormir e ter relações sexuais e, portanto, não utilizá-la para trabalho, alimentação e lazer, como assistir à televisão.
Ler um livro ajuda, mas somente sentado em uma cadeira e com o auxílio de um abajur, porque não reflete luz direta no rosto. Entretanto, é preciso atenção ao conteúdo para que, aos poucos, o organismo volte a entender que durante o dia deve estar ativo e à noite em descanso.
*Com informações da reportagem publicada em 04/02/2022.
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