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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Parte da identidade, a voz diz muito sobre nós, até como está a saúde

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

29/03/2022 04h00

Embora existam vozes quase idênticas, pode se dizer que todas são comparáveis a impressões digitais, ou seja, cada voz é única. Elas "nascem" na laringe, um tubo no pescoço que contém dentro de si cordas (pregas) vocais. Num movimento expiratório, o ar que sai dos pulmões então faz com que essas pregas vibrem e interajam entre si, produzindo som. Mas, para que esse som amplifique e se transforme em fala, requer a participação da língua, lábios e palato (céu da boca).

"Dito isto, começa-se a entender que alguns fatores da qualidade vocal podem ser geneticamente herdados, como as estruturas anatômicas envolvidas. Porém, também há relação com o ambiente, pois carregamos traços vocais das pessoas com as quais convivemos, o que pode tornar as vozes ainda mais parecidas", explica Henrique Moura, coordenador do Departamento de Fonoaudiologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Contudo, Moura continua que a forma como utilizamos a laringe pode mudar completamente o som que é emitido. É o que fazem cantores, para atingir notas mais agudas e graves, ou imitadores e dubladores. Eles ajustam o trato vocal. Mas não dá para assumir uma nova voz assim. Para que ela se aproxime da identidade, caso sejam incompatíveis, ou haja a presença de distúrbios vocais, cabem treinos (fonoterapia) para não lesionar as pregas vocais e cirurgia.

Finas, grossas, baixas, altas

Voz, falar, megafone, discurso - iStock - iStock
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A voz, além de ser influenciada pelo que já foi apontado (características físicas, como formato e tamanho de laringe, pregas vocais, órgãos fonoarticulatórios, e ambiente, onde se aprende a modular, articular, entonar e ressonar de forma parecida), também tem relação com idade, gênero, personalidade e estado de humor.

Em mulheres e crianças, tende a ser mais fina, devido, em ordem, às primeiras terem pregas vocais mais estreitas e tensionadas, então vibram com maior frequência e agudez e, nos pequenos, serem igualmente estreitas, mas ainda curtas.

Os meninos, quando chegam à puberdade, por conta dos hormônios masculinos, apresentam um aumento de massa nas pregas vocais que altera a voz, e essa transformação é chamada de "muda vocal". As cordas vibram com menor intensidade, resultando numa voz mais grossa. Mas quando o desenvolvimento não é funcional, pode sair fina e, nas mulheres, infantilizada.

Nos homens, em geral, o mais comum é uma voz grave, devido às suas pregas vocais serem maiores e mais espessas. "Tem a ver também com cavidade oral ampla, língua grande e pescoço longo. Pessoas menores normalmente tendem a ter uma voz mais aguda. Porém, mesmo assim, podemos usar as estruturas acima das pregas para modular o timbre vocal", esclarece Clayson Alan dos Santos, otorrinolaringologista do Hospital Cema, em São Paulo.

Quanto à intensidade vocal, é obtida primordialmente pela quantidade de ar que o pulmão é capaz de ejetar sobre as cordas vocais. Quem grita, exala o ar em grande volume e velocidade e aproxima as cordas vocais.

Falar alto ainda se relaciona com a necessidade de se impor, ser ouvido. Nesse sentido, os traços comportamentais contam muito. Pessoas mais extrovertidas e autoritárias tendem a falar com mais força e as tímidas, submissas a falar mais fraco ou baixo.

Revelam vários tipos de doenças

Homem com íngua, linfonodo, caroço, dor de garganta - iStock - iStock
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Dor de garganta e resfriado podem ser diagnosticados pela voz, que fica gutural, anasalada e pigarrenta, mas não são as únicas doenças. Alterações na voz podem ser sinais de problemas localizados, que afetam especificamente o trato vocal, ou sistêmicos, que atingem o corpo todo, inclusive a fala.

As pregas vocais, por exemplo, podem ser acometidas por nódulos, conhecidos como calos, causados por abuso vocal ou infecções, como o papiloma laríngeo.

Uma voz "cavernosa" por mais de 14 dias em quem bebe ou fuma há anos também pode ser sinal de câncer de laringe. Já voz soprosa e dificuldade para se alimentar, consequências de paralisia em uma prega vocal ocasionada por AVE (acidente vascular encefálico).

Voz grave ou falhada junto com tosse seca e secreção crônica levanta suspeitas sobre lesões em pregas por refluxo gastroesofágico. E voz fraca e arrastada é observável em pacientes com depressão.

A lista é longa, afirma Milena Adorno, fonoaudióloga do Hospital São Rafael, em Salvador (BA). "Miastenia gravis, ataxias, alterações hormonais, neoplasias, leucoplasias, síndromes, esclerose lateral amiotrófica. Doenças neurodegenerativas também modificam a intensidade vocal, como Parkinson", complementa Adorno.

Além disso, a altura da voz tem relação com a audição. Se a pessoa ouve mal, tende a falar mais alto porque acha que a própria voz é baixa.

Voz envelhece, mas nem todas

Idoso fumando, fumo, fumante, cigarro - Juanmonino/iStock - Juanmonino/iStock
Cigarro prejudica a voz
Imagem: Juanmonino/iStock

Como todo o organismo, a voz também passa por modificações inerentes ao envelhecimento, algumas mudam completamente, outras nem tanto, varia de pessoa para pessoa. Nas mulheres, pode enfraquecer, tremular, ou engrossar e, nos homens, afinar.

Com a idade, as pregas vocais tendem a ficar mais atrofiadas e afiladas. Cavidade oral, língua, ligamentos e músculos também sofrem declínios, como reduções de tônus, elasticidade e coordenação.

"O ficar rouco não é uma consequência da idade. Pode-se adquirir uma voz mais grave, com um pouco mais de aspereza ou menor potência, mas rouquidão sugere algum problema de saúde e requer investigação médica, até para que se houver uma lesão, não fique rouco pelo resto da vida. Alteração do timbre por envelhecimento da voz (presbifonia) é diferente", alerta Natan Chehter, geriatra membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Com indicação e orientação de especialistas, exercitar o aparelho fonador não só previne alterações na voz, mas também evita problemas associados à deglutição no último terço de vida. Vale ainda se precaver e mudar certos hábitos.

Para manter a voz jovem por mais tempo hidrate-se regularmente e evite gritar, abusar de álcool, cigarro, alimentos gelados e picantes, ar-condicionado, dormir pouco e falar/cantar em excesso sem antes fazer aquecimento vocal.