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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Hidroclorotiazida é diurético potente no controle da pressão alta

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Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

10/05/2022 04h00

Resumo da notícia

  • O fármaco é considerado seguro e eficaz no tratamento da hipertensão e do edema;
  • Para reduzir a pressão, ele faz que os rins se livrem do excesso de água e do sódio do corpo
  • Esse efeito diurético pode 'simular' a perda de peso, mas o remédio não emagrece
  • Evitar a automedicação e fazer consultas periódicas de controle previnem efeitos colaterais

A hidroclorotiazida é um medicamento utilizado há mais de 50 anos no mundo todo para o tratamento da pressão alta (hipertensão arterial).

O que é hidroclorotiazida?

Trata-se de um medicamento classificado como diurético tiazídico, cujos efeitos levam ao aumento da secreção de urina.

Devido às suas características, esse medicamento só deve ser usado mediante prescrição médica.

Em quais situações ele deve ser usado?

Dada a utilização desse fármaco há mais de meio século, seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado, conforme orientação médica ou do farmacêutico.

A hidroclorotiazida pode ser indicada —isolada ou em associação a outras medicações— para o tratamento (controle) das seguintes condições:

  • Pressão alta;
  • Inchaços (associados a insuficiência cardíaca, problemas renais e urinários, uso de determinados medicamentos como corticoides ou estrógenos);
  • Cirrose.

Entenda como funciona a hidroclorotiazida

Após a administração do medicamento pela via oral, ele é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal, mas não é metabolizado. Por isso, após completar sua ação, ele é excretado inalterado por meio da urina.

Quanto ao seu mecanismo de ação, o fármaco age fazendo que os rins se livrem do excesso de água e do sódio do corpo. O farmacêutico e docente da Uneb Aníbal de Freitas Santos Júnior explica que ainda não se desvendou totalmente como ocorre o efeito anti-hipertensivo.

"O que sabemos é que as tiazidas afetam os mecanismos de reabsorção eletrolítica, elevando a excreção de íons de sódio e cloreto, bem como descartando o excesso de água do organismo. Com o aumento da secreção de urina, reduz-se o volume sanguíneo, há menor resistência dos vasos sanguíneos, e isso leva à redução da pressão arterial", completa o especialista.

Quais os principais remédios com hidroclorotiazida?

Clorana® é medicamento de referência desse fármaco, mas você pode encontrar as versões genéricas.

Ele está disponível em comprimidos de 12,5 mg e 25 mg e consta da Rename 2022 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e, portanto, pode ser retirado nas farmácias do SUS, bastando apresentar a receita médica.

Há riscos no uso prolongado?

Como o medicamento tem sido utilizado por mais de 50 anos, seus efeitos já foram bastante observados e a sua segurança, na prática clínica, também foi verificada por longo tempo. Apesar disso, quando seu uso é contínuo podem aparecer alguns efeitos indesejáveis, como o desequilíbrio do volume de fluidos ou eletrólitos, entre outras situações.

Para prevenir esse tipo de resposta ao tratamento, é essencial que este seja guiado por um médico, que deve monitorá-lo regularmente por meio de exames específicos. Evite, portanto, automedicar-se.

Quais são as vantagens e desvantagens do medicamento?

Na opinião da cardiologista Daniela Serra de Almeida, supervisora da residência médica em cardiologia do HU-UFMA (que integra a rede Ebserh), o fármaco possui eficácia e segurança comprovadas, e suas características são muitos boas.

"Os estudos mais atuais sobre ele seguem confirmando seu excelente efeito na redução da pressão (hipotensor). Além disso, o fármaco tem baixo custo e pode ser usado em associação com outros em um mesmo comprimido, o que ajuda o paciente a aderir ao tratamento."

Já quanto às desvantagens, a especialista destaca os efeitos metabólicos —o que significa que ele não é interessante para pacientes com diabetes ou obesidade porque poderia ter um efeito negativo nas taxas de glicemia e colesterol.

Conheça as contraindicações

A hidroclorotiazida não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento à presença das condições abaixo descritas, que deverão ser noticiadas ao médico ou farmacêutico antes do início do uso do medicamento:

  • Doenças renais (anúria)
  • Gravidez
  • Amamentação
  • Doença do fígado
  • Doenças crônicas (diabetes, asma, gota, lúpus erimatoso sistêmico, hipertensão)
  • Alergia a sulfasnamida (uma classe de antibiótico, como a sufadiazina)

Crianças e idosos podem usá-lo?

Embora ele tenha indicação para crianças, os especialistas afirmam que a medicação não é considerada a primeira escolha para o uso dessa população, sobretudo porque existem opções com melhor perfil de efeitos colaterais.

Já entre os idosos, por ter um excelente efeito de reduzir a pressão, a medicação é bastante usada. A orientação é que os médicos estejam mais atentos à dosagem e ao monitoramento do paciente ao longo do tratamento.

Aliás, esse princípio ativo, por vezes, é combinado com outros de uso contínuo nessa população, o que facilita e reduz eventuais interações medicamentosas.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar hidroclorotiazida?

Não existem estudos que garantam a segurança do uso desse medicamento durante a gestação e, na prática clínica, ele não deve ser a primeira escolha do médico para tratar mulheres nessas condições. Quanto à amamentação, o que se sabe é que o fármaco pode ser excretado pelo leito materno.

Assim, seja durante a gravidez, seja no período da amamentação, caberá a seu médico avaliar a relação de risco e benefício, em cada caso, da eventual indicação da hidroclorotiazida.

Qual é a melhor forma de tomar a hidroclorotiazida?

A sugestão é que o medicamento seja tomado com água, de preferência no período da manhã e longe da alimentação porque esta poderia influenciar em sua biodisponibilidade, ou seja, ele demoraria mais tempo para fazer seu efeito.

"Ressalto que não é aconselhável tomá-lo à noite porque o fármaco pode estimular as idas ao banheiro nesse período, o que poderia alterar a qualidade do sono", observa Marcelo Polacow, farmacologista e presidente do CRF-SP.

Lembre-se que o esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se: sem a orientação e o monitoramento de um profissional da área da saúde, o risco de efeitos colaterais aumenta.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Aguarde o horário da próxima dose, e tome o remédio normalmente, conforme orientação médica e do farmacêutico.

É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. No entanto, algumas pessoas podem apresentar manifestações como aumento da frequência urinária, diarreia, constipação e dor de cabeça.

Confira os outros possíveis efeitos:

  • Alterações no potássio, sódio e cálcio no sangue (desequilíbrio eletrolítico)
  • Fraqueza
  • Pancreatite
  • Icterícia
  • Náusea
  • Cólica abdominal
  • Irritação gástrica
  • Agitação
  • Febre
  • Pode alterar taxas metabólicas (glicemia e colesterol)

Além desses exemplos, a hidroclorotiazida pode causar outros efeitos colaterais. Fale com o médico ou farmacêutico caso observe o aparecimento de algum sintoma estranho durante o uso desse medicamento.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a hidroclorotiazida. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito.

Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos das possíveis interações. Confira:

  • Barbitúricos (fenobarbital)
  • Corticosteroides (betametasona, dexametasona)
  • Insulina (e outros medicamentos para o diabetes, como a metformina, pioglitazona)
  • Antidepressivos (lítio; duloxetina)
  • Outros medicamentos anti-hipertensivos (captopril)
  • Anti-inflamatórios não esteroidais (ibuprofeno; diclofenaco)
  • Medicamentos para prevenir crises de gota (alupirinol)
  • Fármacos para redução do colesterol (colestiramina ou colestipol)
  • Imunossupressores (ciclosporina)
  • Medicações para insuficiência cardíaca (digoxina)
  • Antimetabólicos (metotrexato)

Lembre-se também de informar ao médico ou ao farmacêutico sobre o eventual uso de suplementos bem como fitoterápicos que, potencialmente, podem interferir no efeito desejado da hidroclorotiazida.

Posso tomar bebidas alcoólicas?

Existe interação entre este medicamento e o álcool. Nesse caso, o consumo desse tipo de bebida pode potencializar o efeito de baixar ainda mais a pressão ao se levantar, após permanecer por um período de tempo sentado.

A hidroclorotiazida pode alterar resultados de exames laboratoriais?

Sim. Alguns exemplos são os exames que analisam as funções da paratireoide (exame PTH); falso negativo para teste de histamina (níveis elevados dela se relacionam a reações alérgicas, mastocitose sistêmica, especialmente quando há sintomas gastrointestinais); e amilase (investiga as funções do pâncreas, das glândulas salivares e do fígado). As explicações são da farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP e docente da Universidade Mackenzie.

Antes de se submeter a qualquer tipo de exame, informe ao médico e ao pessoal do laboratório o uso da hidroclorotiazida.

Posso me expor ao sol durante o uso desse medicamento?

Dados da literatura sobre a hidroclorotiazida esclarecem que o uso prolongado pode levar à maior sensibilidade da pele ao sol, o que aumentaria o risco para certos tipos de câncer. Assim, é sugerido que evite exposições prolongadas, use roupas com proteção, além e protetor solar para se proteger.

Hidroclorotiazida emagrece?

O medicamento tem efeito diurético, o que pode ser interpretado como perda de peso. Mas ele não estimula gasto calórico, e apenas controla o inchaço. A literatura sobre o medicamento revela que entre os efeitos colaterais raros está a perda do apetite, o que poderia potencializar o emagrecimento. No entanto, na prática clínica, esse efeito não é observado.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Aníbal de Freitas Santos Júnior, farmacêutico, docente do Departamento de Ciências da Vida da Uneb (Universidade do Estado da Bahia) e coordenador do mestrado acadêmico em ciências farmacêuticas da mesma instituição; Daniela Serra de Almeida, cardiologista e supervisora da residência médica em cardiologia do HU-UFMA (Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalires); e Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Herman LL, Bashir K. Hydrochlorothiazide. [Atualizado em 2021 Agosto 10]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430766/.