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Sexo, humor, sono, estresse: entenda os papéis dos neurotransmissores

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Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

30/05/2022 04h00

Adrenalina, dopamina, ocitocina, endorfina e serotonina. Certamente, você deve ter ouvido falar dessas substâncias. Elas se somam a mais outras 100 já identificadas e chamadas neurotransmissores —mensageiros químicos que são responsáveis pela comunicação entre os neurônios— e essenciais para a realização das sinapses (região de proximidade entre um neurônio e outra célula por onde é transmitido o impulso nervoso).

Essas substâncias estão no comando de praticamente todas as funções do organismo —desde frequência e batimentos cardíacos, pressão arterial, respiração, apetite, digestão, humor, contração muscular e movimentos, mobilidade, pensamento, memória, concentração, aprendizagem, sentimentos, ciclo sono-vigília, visão, audição, sensibilidade, envelhecimento, resposta ao estresse até a regulação hormonal.

A rede de nervos que compõe o sistema nervoso do corpo humano recebe de forma constante sinais de um ponto a outro por meio dessas reações —os mecanismos elétricos ou químicos pelos quais ocorrem as sinapses e que medeiam as informações entre os neurônios e outras células, que incluem as nervosas, as musculares e as glandulares.

Os neurotransmissores são formados a partir de aminoácidos que se unem constituindo cadeias de diferentes tamanhos e tipos, classificados em três grupos principais que se diferenciam pela grandeza da molécula: aminas biogênicas, aminoácidos e neuropeptídeos.

Alguns neurotransmissores chegam a desempenhar várias funções de acordo com o tipo de receptor ao qual se conectam.

Outra categorização associa os neurotransmissores ao tipo de ação ou efeito que causam, sendo divididos em excitatórios, inibitórios ou moduladores.

São hormônios?

Muitos são conhecidos, também, como hormônios, que são outras substâncias químicas mensageiras produzidas pelas glândulas. Isso se deve porque os neurotransmissores estão intimamente ligados à liberação dos hormônios, desencadeando a ação fisiológica que ocorre a distância em órgãos, como coração e pulmão, tecidos musculares ou glândulas —hipófise, ovário e tireoide.

Dessa forma, os hormônios são liberados na corrente sanguínea até seu local de ação e respondem de maneira mais lenta em comparação aos neurotransmissores.

Desequilíbrios

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Não existe ainda uma forma comprovada de garantir o equilíbrio entre os neurotransmissores. A recomendação dos especialistas é manter um estilo de vida saudável que inclua exercícios regulares e controle do estresse.

Afinal, a maioria das desordens que ocorrem no corpo humano e levam a enfermidades e doenças estão relacionadas a distúrbios nessas substâncias químicas, provocando alterações de humor (depressão, ansiedade e síndrome do pânico), insônia, distúrbios de memória e aprendizagem, dor muscular crônica, enxaquecas, síndromes demenciais, como Alzheimer, doença de Parkinson, epilepsia e TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade).

Entenda a função dos principais neurotransmissores

Acetilcolina é excitatória e encontrada no hipotálamo e nas áreas cerebrais responsáveis pela contração muscular, aprendizagem, atenção, desempenho sexual e memória.

Dopamina tem influência diferente de acordo com o local em que atua. Está vinculada à euforia e aos mecanismos de recompensa e reforço de comportamento implicados na dependência química. É responsável pelo hormônio de crescimento.

Endorfinas são os chamados hormônios do prazer. Produzidas pela glândula hipófise, elas ativam muitos neurônios centrais e envolvem-se nas sensações de dor, prazer, felicidade e bem-estar, assim como na resposta imunológica do organismo. Podem ter seu poder intensificado pela prática de atividade física, inibindo a irritação e o estresse.

Epinefrina é conhecida, também, como adrenalina, participa da resposta de luta ou fuga e ajuda o cérebro a tomar decisões rápidas. Em situações de estresse e medo, é liberada, aumenta a frequência cardíaca e a respiração e dá aos músculos mais energia. Embora seja útil, o estresse crônico faz com que o corpo libere mais do que necessita, o que desencadeia problemas de saúde.

GABA é o principal inibidor do SNC (Sistema Nervoso Central). É produzido em muitas áreas cerebrais como córtex cerebral, medula espinhal, cerebelo e gânglios da base, a partir do glutamato, reduz a excitabilidade neuronal e regula o humor e ansiedade, como a serotonina.

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Glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do SNC e está presente nos processos de aprendizado, memória, tolerância e dependência a drogas, além das doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson.

Melatonina abrange a regulação de diversos ritmos biológicos do organismo humano, como os ciclos metabólicos, endócrinos, do sistema genital feminino e do ciclo sono-vigília. É um hormônio produzido na glândula pineal e está conectado à retina e tem sua secreção dependente do ciclo claro/escuro. Dentre as muitas atribuições, estimula a formação de anticorpos e favorece a defesa contra microrganismos.

Noradrenalina relaciona-se à resposta de luta ou fuga do sistema nervoso autônomo simpático que gera estímulos involuntários em músculos e glândulas. É produzida nos neurônios noradrenérgicos e na medula adrenal e participa dos processos cognitivos, em especial a atenção, excitação e aos momentos de estresse. De acordo com o receptor no qual atua, promove diferentes respostas como vasoconstrição, aumento da força de contração do coração e redução da liberação de insulina. A sua redução indica quadros depressivos.

Ocitocina é associada ao sentimento de amor, à modulação do medo e atitudes positivas. É produzida no hipotálamo e tem efeitos diferenciados, como as contrações musculares uterinas no momento do parto.

Serotonina é inibitória e ajuda a regular o humor, o apetite, a coagulação do sangue, o sono e o ritmo circadiano do corpo. Tem efeito sobre o desejo sexual e o aprendizado.

Substância P é um neurotransmissor com característica neuromoduladora que age nos neurônios centrais, localizados no hipotálamo, gânglios da base, substância negra, bulbo e outros. Relaciona-se aos estímulos dolorosos intensos e colabora com a memória, o humor e a modulação de náuseas e vômitos por ação no tronco encefálico. Estimula a musculatura do intestino, vias aéreas e urinárias e de glândulas salivares e intestinais e exerce efeito direto sobre diferentes tipos de comportamento, como o compulsivo.

Fontes: Aline Sabino, psiquiatra com especialização em psicogeriatria e coordenadora de saúde mental das unidades Santana e Ipiranga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo; Edmundo Luís Rodrigues Pereira, neurologista, neurocirurgião e professor adjunto de Neurologia UFPA (Universidade Federal do Pará) e Li Li Min, chefe do departamento de neurologia da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).