Sabrina teve meningite aos 2 meses: 'É doloroso ver sua bebê ser amputada'
Sabrina Mendes não teve nem a chance de tomar a vacina da meningite quando foi diagnosticada com a doença com apenas dois meses de vida e precisou amputar os dois pés, o braço direito e os dedos da mão esquerda. Hoje aos 13 anos, a estudante lida bem com a sua condição. "Sabrina é uma menina proativa, independente e feliz, não deixa ninguém diminui-la", conta a mãe da jovem, a dona de casa Carolina Mendes, 28, que compartilha a história delas a seguir:
"Tive a Sabrina muito nova, com 14 anos. No primeiro mês de vida foi tudo bem, mas ao completar dois meses, ela passou a chorar muito, mais do que o normal, e a vomitar toda vez que mamava. Levei-a ao posto de saúde, mas o médico disse que podia ser uma cólica ou virose.
Voltei para casa, mas a Sabrina continuou com os mesmos sintomas, e piorou, apresentou febre alta e ficava com o pescoço duro para trás quando chorava. Levei-a ao hospital, o médico disse que não era nada, mas prescreveu uma dipirona na veia.
Na hora da medicação, fui trocar a fralda da minha filha e notei que apareceram algumas manchas escuras nos pés e nas mãos. Imaginei que fosse alguma reação alérgica ao remédio e chamei a enfermeira. Ela mostrou para o médico, que ficou assustado e a levou para fazer alguns exames.
Um tempo depois ele voltou e disse que havia a hipótese de a Sabrina ter contraído a meningite meningocócica, mas que iam tirar o líquido da espinha para confirmar. Nesse momento, liguei para a minha mãe e avó, elas ficaram desesperadas com a suspeita e foram até o hospital.
Eu já tinha ouvido falar de meningite porque estava tendo um surto da doença no meu bairro, mas não sabia da gravidade. Eu tinha 14 anos, pouca instrução, achava que meningite era parecida com resfriado.
Ao sair o resultado, foi confirmado o diagnóstico de meningite meningocócica: a Sabrina tinha apenas dois meses, não tinha nem tomado a primeira dose da vacina que é dada com três meses nas redes pública e particular.
Os médicos explicaram que a doença é grave, perigosa, transmissível e que a Sabrina tinha pouquíssimas chances de sobreviver: foi um choque para a nossa família. Não sabemos exatamente como ela contraiu, mas depois descobrimos que um senhor que morava na casa dos fundos da minha mãe estava com meningite e morreu.
Minha filha teve uma piora muito rápida, ficou intubada, com manchas pelo corpo todo e, posteriormente, com a pele necrosada. Os médicos chamaram eu e minha mãe para falar que ela precisaria amputar.
Fiquei arrasada, muito triste, é doloroso ver uma filha —uma bebezinha— ser amputada, mas era a única forma de tentar salvar a vida dela. Aceitei e coloquei na cabeça que o mais importante era ela sobreviver.
Sabrina amputou os dois pés, o braço direito acima do cotovelo, os dedos da mão esquerda e ficou quase um ano internada no hospital.
Foi um período difícil, no começo eu não podia pegá-la no colo, mas ficava lá todos os dias fazendo companhia. Uma enfermeira, a Kátia, me consolava quando eu ficava triste, ela sempre acreditou que milha filha conseguiria superar aquele momento; a Kátia foi e continua sendo uma pessoa muito importante para nós.
Apesar das dificuldades, Sabrina foi uma bebê tranquila, sorridente e que sempre se adaptou bem. Com dois anos ela aprendeu a andar sozinha, tudo o que as outras crianças faziam, ela dava um jeito de fazer também.
Até os 10 anos, a Sabrina se locomovia arrastando o bumbum no chão e andando, mas conforme ela foi crescendo, os 'toquinhos' não aguentavam mais sustentar o corpo dela e ela sentia muitas dores para andar. Em 2019, aos 11 anos, ela fez uma cirurgia para tirar os 'toquinhos' e passou a usar duas próteses de pernas.
Os amigos da Sabrina sempre a trataram com carinho e igualdade, ela nunca sofreu bullying e preconceito, mas quando nota olhares estranhos, ela questiona o que a pessoa está olhando e a encoraja a perguntar o que ela teve.
Num primeiro momento, quem a vê acha que ela sofreu queimadura, mas ela explica que teve meningite. A Sabrina tem uma autoestima muito boa, é bem resolvida e não deixa ninguém diminui-la, ela diz que é linda e maravilhosa do jeito que é."
1) O que é meningite meningocócica?
A meningite é a inflamação das meninges, que são membranas que recobrem o cérebro e a medula espinhal. Trata-se de uma infecção do SNC (sistema nervoso central), muito frequente na infância e considerada uma emergência infecciosa por sua evolução rápida e alta letalidade. Ela pode ser causada por diversos agentes infecciosos: vírus, bactérias, fungos e protozoários.
A meningite meningocócica é causada por uma bactéria conhecida como o meningococo, que é classificado em 13 sorogrupos, sendo os mais envolvidos com doença invasiva: A, B, C, Y e W135.
2) Quais os sintomas da meningite meningocócica?
O sintoma mais frequente é a febre, acompanhado de vômitos e dor de cabeça, mas o quadro clínico pode variar de acordo com a faixa etária. Em crianças maiores e adultos, pode haver sinais e sintomas inespecíficos como prostração, perda do apetite, tosse, dores no corpo e hipotensão.
As manifestações cutâneas são comuns, com petéquias (pequenas manchas violáceas que lembram picada de inseto), púrpuras e exantema difuso. A presença de dor de cabeça, vômitos, alteração do nível de consciência e rigidez de nuca (dor e dificuldade à movimentação do pescoço) sugerem o diagnóstico.
Aproximadamente de 15% a 20% dos casos evoluem de forma rápida, com choque e comprometimento da função de órgãos vitais como coração, rins e pulmões. Em geral, a doença tem um início abrupto, podendo levar a óbito em 24 a 48 horas se o tratamento não for rapidamente iniciado.
3) Quais as formas de transmissão da meningite meningocócica?
Geralmente, a transmissão é de pessoa para pessoa. O meningococo pode colonizar a orofaringe de cerca de 10% de adolescentes e adultos saudáveis, sem causar doença nestes (portadores assintomáticos). Estes indivíduos podem transmitir o meningococo através de secreção respiratória (gotículas de saliva, espirro e tosse), e eventualmente pode ocorrer invasão local na mucosa respiratória, com o meningococo atingindo a corrente sanguínea e penetrando o SNC. Alguns fatores de risco contribuem para contrair a bactéria, como retirada cirúrgica do baço, alteração de imunidade e o contato próximo com pessoas infectadas ou doentes.
4) Como se prevenir da meningite meningocócica?
A melhor forma de se prevenir é estar com a vacinação atualizada para meningococo. Para bebês que ainda não têm idade de receber a vacina, a prevenção inclui lavagem das mãos antes e após cuidar da criança, evitar visitas ou contato com pessoas doentes, manter o bebê em ambiente arejado e sem aglomeração.
5) Como é feito o diagnóstico?
Após a suspeita clínica inicial, é importante investigar os principais diagnósticos diferenciais, principalmente dengue. A confirmação laboratorial da meningite meningocócica é feita pelo isolamento do meningococo em amostras do líquor ou sangue por cultura, reação em cadeia de polimerase (PCR) ou pesquisa de antígeno. O meningococo também pode ser visualizado no raspado das lesões de pele.
6) Quais vacinas protegem contra a meningite meningocócica?
Atualmente, existem vacinas para os principais sorogrupos de meningococo causadores de doença invasiva, estando disponíveis no Brasil as seguintes vacinas:
- Vacina meningocócica B - confere proteção contra o meningococo B;
- Vacina meningocócica conjugada C - confere proteção contra o meningococo C;
- Vacina meningocócica conjugada A,C,W,Y - confere proteção contra os meningococos A,C,W,Y.
9) Como funciona o calendário de vacinação da meningite meningocócica nas redes pública e privada?
Na rede pública, a vacina meningocócica conjugada C está disponível para todas as crianças a partir de 3 meses de idade. A 1ª dose é dada aos 3 meses; a 2ª aos 5 meses; e a dose de reforço aos 12 meses. Para crianças entre 11 e 12 anos de idade, a vacina meningocócica conjugada A,C,W,Y deve ser aplicada em dose única.
Na rede privada, além das vacinas conjugadas C e A,C,W,Y, também está disponível a vacina meningocócica B, que deve ser aplicada aos 3 e 5 meses de idade, com uma dose de reforço entre 12 e 15 meses.
10) A pessoa que teve meningite meningocócica pode ter sequelas?
A meningite meningocócica pode ser curada sem haver sequelas, porém a doença pode ser extremamente grave, com curso fulminante e de alta letalidade (óbito em 5% a 10% dos casos). As principais sequelas são: surdez, deficiência intelectual, convulsões, paralisias e amputação de extremidades.
Fonte: Thalita Fernandes de Abreu, professora adjunta do Departamento de Pediatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro do departamento de infectologia da Soperj (Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro).
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