Com dor intensa, febre e lesões na pele, ele descobriu varíola dos macacos
O economista João Almeida*, 33, participou da parada LGBTQIA+ de São Paulo em junho deste ano. Depois disso, foi para uma sauna gay que, segundo ele, estava bem cheia, com cerca de 400 pessoas. Passado um período de quase uma semana, ele começou a sentir desconforto na região do ânus, aumento de gânglios na virilha, calafrio, febre e muita dor no corpo. "Não conseguia nem levantar para comer", lembra.
Quando foi ao Hospital Emílio Ribas, referência no atendimento de doenças infectocontagiosas de São Paulo, a suspeita de varíola dos macacos foi levantada e, dois dias depois, confirmada. Leia o relato completo de João:
"Depois da parada LGBTQIA+, fui para uma sauna, me diverti e tudo mais. Mas estava absurdamente cheia, com umas 400 pessoas. Nunca vi isso. Minimizei os riscos, nunca achei que algo poderia acontecer.
Faço uso do PreP [medicamento que evita uma infecção por HIV caso ocorra exposição ao vírus] há algum tempo e, geralmente, tomo todos os cuidados quando vou ter relações sexuais [até porque a PreP só evita HIV e não outras infecções sexualmente transmissíveis], usando camisinha.
Mas neste dia, tive muitos descuidos e saí de lá preocupado. Meu medo maior era pegar alguma IST (infecção sexualmente transmissível). Não pensava em monkeypox —ou varíola dos macacos—, tinham poucos casos na época. Seria muito azar.
Dor, febre e exaustão
Depois de uma semana, comecei a sentir um desconforto na mucosa anal, uma coceira. Surgiram gânglios aumentados na minha virilha, que foi o que aumentou minha preocupação para uma infecção. Dois dias depois, comecei a ter muita dor nas costas e calafrios.
Cheguei em casa do trabalho exausto, não conseguia nem levantar para comer, tomei um banho 'arrastado'. À noite, tive muito calafrio e febre. Sabia que tinha algo errado.
No dia seguinte, sentia os mesmos sintomas e resolvi ir direto ao Hospital Emílio Ribas. Suspeitei de monkeypox, mas não queria acreditar.
Quando o médico me atendeu, na hora ele levantou uma forte suspeita. Mas como eu ainda não estava com lesões na pele, ele pediu para esperar um pouco para fazer os exames. Neste momento, eles também levantaram a suspeita de sífilis.
Então, o médico disse: 'Volte para casa e, quando surgirem as lesões na pele, você vem para cá e fazemos o exame'. Dito e feito, minha febre baixou e começaram a pipocar as lesões. Apareceu no peito e no canto da boca, além da mucosa anal.
Exame é traumático
Essa parte foi bem desagradável. Como eles precisam estourar essa lesão —como uma espinha— para passar o swab [cotonete] na lesão, dói bastante. Fiz o exame no dia 30 de junho e, no dia 2 de julho, deu positivo.
A orientação foi ficar 15 dias em casa, mas o pior foi o desconforto, a dor e a coceira na região do ânus. Usei alguns remédios que aliviavam as dores por pouco tempo. Foi desesperador. Retornei ao hospital porque não estava aguentando, tomei alguns remédios e melhorou um pouco.
Depois, apareceram lesões no pulso, nas costas, perto do ombro e no pé. Mas elas são bem diferentes daquelas imagens que víamos sobre a varíola dos macacos. Elas parecem espinhas, só que você não consegue estourá-las. Algumas tinham um formato de bolhas, mas não tive nenhuma coceira ou dor nas lesões.
Passado os 15 dias, estou bem, poderia fazer qualquer coisa, mas as lesões ainda não fizeram a crosta de cicatrização, então o médico ainda não me liberou para sair do isolamento. Vou esperar mais uma semana até que isso tudo melhore.
Dá um desespero principalmente pelo trabalho, pois tive que entrar no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). A empresa liga e você precisa falar do atestado de varíola dos macacos. O que vão pensar? Mas fui administrando, sem me expor muito.
O importante é o alerta que fica. Já tinha lido algumas informações do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) que chamavam atenção para os padrões de lesões anais, genitais e na boca, principalmente entre o grupo HSH, homens que fazem sexo com homens.
Eu poderia ter suspeitado de covid até, mas o incômodo anal não teria como passar despercebido. No hospital, tinham outros homens com os mesmos sintomas que eu, esperando para fazer o exame. Foi uma experiência traumática e sofrida, mas estou melhor."
Entenda a varíola dos macacos
É uma zoonose viral, isto é, uma doença infecciosa que passa de animais para humanos, causada pelo vírus de mesmo nome (varíola dos macacos). Este vírus é membro da família de Orthopoxvirus, a mesma do vírus da varíola, doença já erradicada entre os seres humanos.
Embora a população de homens homossexuais ou bissexuais seja a mais afetada no momento, segundo os médicos, é importante ressaltar que a doença não é exclusiva neste grupo, mas essa é uma forma de alertá-los caso os sintomas surjam.
Qualquer pessoa está sujeita a ter varíola dos macacos, principalmente porque a transmissão é via gotículas de saliva —por contato muito próximo— ou pelo toque em secreções das lesões na pele. Uma medida para evitar a exposição ao vírus é a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel.
A transmissão pode ocorrer também pelo contato com objetos contaminados com fluidos das lesões do paciente infectado —isso inclui contato a pele ou material que teve contato com a pele, por exemplo as toalhas ou lençóis usados por alguém doente.
Principais sintomas
- Erupções cutâneas na pele (que parecem espinhas ou bolhas)
- Vermelhidão na pele
- Febre
- Dor muscular
- Dor de cabeça
- Dor de garganta
- Tosse
- Inchaço dos gânglios linfáticos
- Calafrios
- Exaustão
As lesões na pele pode estar localizadas nas extremidades do corpo, como pés, mão, rosto, além do ânus, região do períneo ou nos genitais, causando dor ou coceira. As erupções também podem surgir dentro da boca, vagina e ânus. Segundo os médicos, até o momento, os casos tendem a ser leves e passam espontaneamente.
*O nome e a profissão foram alterados a pedido do entrevistado.
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