Anlodipino: ao relaxar vasos sanguíneos, ajuda a controlar a pressão alta
Disponível no mercado desde o final da década de 1980, o anlodipino é considerado um medicamento essencial para o tratamento da hipertensão arterial, ou seja, a pressão alta.
O que é o anlodipino?
Trata-se de um medicamento definido como um bloqueador dos canais de cálcio da classe das dihidropiridinas. Ele integra um grupo de 4 classes de anti-hipertensivos hoje reconhecidos como fármacos de primeira linha para o tratamento da hipertensão.
Dadas as características desse medicamento, ele só deve ser utilizado sob receita médica e orientação de profissionais da área da saúde (médicos, farmacêuticos ou dentistas).
Em quais situações o anlodipino deve ser usado?
O fármaco é utilizado há mais de meio século e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo adequado.
O anlodipino pode ser indicado para uso isolado ou em combinação com outras medicações para o tratamento dos seguintes quadros:
Pressão alta (hipertensão)
Dor no peito decorrente de doenças do coração derivada da falta de sangue no órgão (angina)
Em países da Europa e nos Estados Unidos, o medicamento também é utilizado para tratar a angina vasoespática e a doença arterial coronária (DAC). A literatura ainda esclarece que o fármaco tem sido indicado no tratamento da nefropatia diabética, hipertrofia do ventrículo esquerdo, no fenômeno de Raynaud, isquemia miocárdica silenciosa, hipertensão arterial pulmonar (HAP). Como esses usos não constam da bula, eles são definidos como off label.
Entenda como ele funciona
Após tomar por via oral, o anlodipino é rapidamente absorvido, metabolizado pelo fígado e, após cumprir sua ação, é excretado pela urina. Espera-se que ele tenha efeito de 6 a 12 horas após a sua administração.
De acordo com a farmacêutica Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP, para que a medicação tenha seu efeito vasodilatador, ela age bloqueando a entrada de íons de cálcio nas células musculares dos vasos sanguíneos.
"Essa ação tem como resultado o relaxamento dos vasos sanguíneos, o que provoca a vasodilatação. A consequência é a redução da resistência vascular periférica e também da pressão arterial", acrescenta a especialista.
Há algum risco do uso prolongado desse medicamento?
O cardiologista Francisco das Chagas Monteiro Júnior, do HU-UFMA, explica que a hipertensão é uma doença crônica que acomete cerca de 3 em cada 10 pessoas no Brasil, e ainda aumenta o risco de complicações cardiovasculares como o AVC (Acidente Vascular Cerebral), a doença arterial coronariana, além da insuficiência renal.
"Como a doença costuma ser silenciosa, é preciso medir a pressão regularmente. Uma vez diagnosticado o problema, o tratamento será contínuo e prolongado e sempre é combinado com outras medicações", fala o médico. "O fármaco tem efeitos colaterais, mas, para a população em geral, ele é considerado seguro", completa.
Conheça as apresentações disponíveis
Norvasc® é a marca de referência do anlodipino. Mas você pode encontrar as versões genéricas e similares. Como ele é considerado um medicamento essencial e consta da Rename 2022 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), ele pode ser obtido nas farmácias do SUS, bastando apresentar a receita médica.
O anlodipino está disponível em comprimidos de 5 mg e 10 mg.
O esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se sem prévia orientação médica ou farmacêutica.
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
Os especialistas consultados destacam como vantagens a eficácia do anlodipino e a sua acessibilidade —seja pelo seu preço ser baixo, seja porque ele é disponibilizado pelo SUS. Ele ainda compõe o que os médicos chamam de trio de ouro —uma combinação de medicamentos úteis para o tratamento da hipertensão (os outros medicamentos são inibidores do sistema renina-angiotensina e diuréticos).
Já a desvantagem é seu principal efeito colateral: o inchaço dos membros inferiores que podem incomodar o paciente e pode requerer a sua substituição.
Saiba quais são as contraindicações
De modo geral, o grupo de medicamentos ao qual o anlodipino pertence é considerado seguro, mas existem algumas contraindicações. Assim, o fármaco não deve ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições —algumas delas representam apenas a necessidade de maior cuidado:
Gravidez
Amamentação
Choque cardiogênico
Estenose da aorta grave
Angina instável
Hipotensão grave
Falência cardíaca
Redução das funções hepáticas
Crianças e idosos podem usá-lo?
O fabricante esclarece que a eficácia e segurança do medicamento não foram testadas em crianças, mas a literatura sobre ele —nos Estados Unidos e na Europa— revela a sua indicação para crianças com idade superior a 6 anos e adolescentes, com a ressalva da necessidade de ajuste de doses.
O anlodipino pode beneficiar os idosos, inclusive os que apresentem problemas renais ou hepáticos, mas nesses casos o médico deve avaliar a eventual necessidade de ajuste de doses, bem como as possíveis interações medicamentosas —já que é comum que esses pacientes utilizem vários remédios ao mesmo tempo.
Embora o uso do fármaco não necessite de monitoramento laboratorial, o especialista deve estar atento a esse grupo para observar a presença de efeitos colaterais.
Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar anlodipino?
A segurança desse fármaco para grávidas e lactantes não foi estabelecida. Assim, a sua utilização só deve ser considerada pelo médico quando não haja alternativa mais segura e os riscos para a futura mãe e seu bebê forem maiores.
Caberá ao profissional ponderar também os benefícios da amamentação e a eventual continuidade da terapia para a mãe. Caso descubra que está grávida durante o tratamento com essa medicação, informe imediatamente seu médico.
Qual é a melhor forma de consumi-lo?
O medicamento deve ser administrado nos mesmos horários todos os dias e de acordo com o esquema de doses indicado pelo médico. Evite aumentar ou reduzir as doses prescritas pelos especialistas, assim como o tempo de tratamento.
Embora a absorção do medicamento não seja afetada pelo consumo de alimentos, a ingestão exagerada de toranja ou de seu suco pode interferir na sua concentração na corrente sanguínea. Para algumas pessoas, isso poderia elevar a pressão arterial pela possível diminuição do efeito do anti-hipertensivo.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Não. O importante é que o anlodipino seja utilizado na forma indicada pelo médico e/ou orientada pelo farmacêutico.
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são:
Tontura
Dor de cabeça
Palpitações
Rubor
Dor abdominal
Náusea
Inchaço nos tornozelos
Cansaço
Caso note algum outro sintoma que se prolonga no tempo, informe o médico e/ou farmacêutico.
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com o anlodipino. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:
Antifúngicos (como o cetoconazol, etc.)
Antibióticos (eritromicina, claritromicina, rifampicina)
Relaxantes musculares (dantrolene)
Estatinas (sinvastanina)
Anticonvulsivantes (carbamazepina)
Opioides (alfentanil)
Antiarrítmico (amiodarona, quinidina)
Betabloqueadores (atenolol, labetalol ou metoprolol)
Ansiolítico (buspirona)
Benzodiazepínicos (midazolam, triazolam)
Imunossupressores (ciclosporina)
AINEs (diclofenaco, ibuprofeno)
Embora não existam muitos dados na literatura médica sobre interação com suplementos, sabe-se que o hipérico reduz a concentração do medicamento na circulação sanguínea.
Por isso, essa substância deve ser usada com cautela por pacientes em tratamento com o anlodipino. Antes de iniciar o tratamento com o fármaco, informe ao médico ou ao farmacêutico sobre eventual uso desse produto.
Interação com o álcool
Amouni Mourad, farmacêutica e assessora técnica do CRF-SP, afirma que não existe constatação de interação entre o álcool e o anlodipino.
"Apesar disso, é importante saber que é preferível não utilizar álcool junto a qualquer tipo de medicamento. No caso do anlodipino, a bebida tem o potencial de baixar a pressão para além do necessário, o que teria como efeito sensação de sonolência, tontura e até dor de cabeça", completa a especialista.
Interação com exames laboratoriais
São desconhecidas interações com exames desse tipo.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você os armazena;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
- Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
- No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. Sempre limpe o copo dosador antes e após o uso e armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros remédios;
- Respeite o limite da dosagem indicada;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15 °C e 30 °C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo); Danyelle Cristine Marini, farmacêutica e diretora do CRF-SP, professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu/SP); Francisco das Chagas Monteiro Júnior, cardiologista do HU-UFMA (Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão), vinculado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), além de professor da mesma universidade. Revisão técnica: Amouni Mourad.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e Bulsara KG, Cassagnol M. Amlodipine. [Atualizado em 2022 Jan 24]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK519508/.
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