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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Gabapentina traz alívio para convulsões e dores, mas pode causar sonolência

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

11/10/2022 04h00

Descoberta na década de 1970, a gabapentina só foi aprovada no início da década de 2000 e tem sido utilizada desde então no tratamento de dores neuropáticas e convulsões.

O que é gabapentina?

Trata-se de um medicamento classificado como anticonvulsivante. Inicialmente ele era utilizado como relaxante muscular e antiespasmódico e, posteriormente, se verificou seu potencial efeito protetor contra as convulsões.

Consideradas as suas características farmacológicas, esse medicamento só pode ser utilizado mediante prescrição médica, com retenção de receita.

Em quais situações ela deve ser usada?

Conhecido há 50 anos, e utilizado como anticonvulsivante há quase 20 anos, ele é considerado seguro e eficaz. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo determinado pelo seu médico.

A gabapentina pode ser usada isoladamente ou em conjunto com outras medicações para o tratamento das seguintes condições:

  • Dores resultantes de lesão e/ou mau funcionamento dos nervos e/ou do sistema nervoso (dores neuropáticas como a neuralgia pós-herpética)
  • Convulsões (crises epilépticas)

A literatura sobre esse medicamento esclarece que ela também tem sido indicada no tratamento das seguintes condições:

  • Fibromialgia
  • Transtorno bipolar
  • Ondas de calor no período posterior à menopausa
  • Tremores
  • Ansiedade
  • Depressão e transtornos de humor resistentes
  • Síndrome do intestino irritável
  • Abstinência do álcool
  • Prevenção da enxaqueca
  • Cistite intersticial
  • Neuropatia diabética dolorosa
  • Fobia social
  • Prurido crônico
  • Insônia
  • Estresse pós-traumático
  • Tosse crônica refratária
  • Síndrome das pernas inquietas

Como o uso terapêutico para essas enfermidades não consta da bula, ele é denominado off label.

Entenda como ela age no seu corpo

Após tomar a gabapetina, a absorção se dá por meio de transportadores de compostos (transportadores de aminoácidos) existentes no intestino, que distribuem o medicamento por todos os tecidos. Como o remédio não é metabolizado, após cumprir sua função, ele será completamente eliminado por meio da urina.

Até o momento não foi esclarecido totalmente o mecanismo de ação da gabapentina, mas sabe-se que ela é capaz de agir no SNC (Sistema Nervoso Central), inibindo a liberação de neurotransmissores excitantes responsáveis pelas crises de convulsão e dores neuropáticas. A explicação é do farmacêutico e farmacologista Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP.

No tratamento de epilepsia, algumas pessoas poderão observar seus efeitos já após a ingestão das primeiras doses; no tratamento de dor neuropática, porém, a ação sobre o sistema da dor se dá de forma mais lenta e, portanto, poderá ser notada após cerca de 2 semanas do início da terapia.

Há risco no uso prolongado da gabapentina?

De acordo com o neurologista Franciluz Morais Bispo, boa parte dos pacientes usará a gabapentina por longos períodos e, geralmente, com segurança, especialmente no tratamento de doenças crônicas, sendo incomum efeitos adversos pelas doses que se acumulam.

Bispo adverte, porém, que deve ser evitada a automedicação, a mudança do esquema de doses e, principalmente, a suspensão do remédio sem acompanhamento médico. A razão para isso é que, como a gabapentina age sobre o SNC, a interrupção abrupta da terapia poderia ter como feito o aparecimento ou agravamento de sintomas indesejados.

Conheça as apresentações disponíveis

A marca de referência da gabapentina é o Neurotin®, mas você pode encontrar as versões genéricas. O fármaco consta da Rename 2022 (Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais) e, por isso, pode ser obtida nas farmácias do SUS (Sistema Único de Saúde), bastando apresentar a receita médica.

Confira as apresentações disponíveis:

  • Cápsulas - 300 mg e 400 mg
  • Comprimidos - 400 mg e 600 mg

Quais são as vantagens e desvantagens da gabapentina?

Na opinião dos especialistas consultados, a medicação é acessível, segura e promove importante alívio de sintomas relacionados às doenças para as quais ela é indicada —especialmente nos casos das dores crônicas que reduzem a qualidade de vida dos pacientes.

Além disso, embora sejam necessários ajustes de doses, ela pode ser usada com outros medicamentos como o lítio e a carbamazepina.

Apesar de ser considerado um medicamento com efeitos colaterais moderados, quando comparado a outros de sua classe, a tolerabilidade da gabapentina, para algumas pessoas, pode impedir sua utilização. Esta seria uma desvantagem.

Saiba quais são as contraindicações

A gabapentina não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento à presença das seguintes condições:

  • Ter idade inferior a 12 anos
  • Gravidez ou amamentação
  • Histórico de dependência (adicção) de medicamentos
  • Dieta para controle de sódio ou potássio
  • Problemas renais

Crianças e idosos podem usá-lo?

O fármaco é indicado para a população pediátrica a partir dos 12 anos, e também é útil no tratamento de pacientes idosos.

A maior preocupação com pacientes de idade mais avançada é a possível interação com outros medicamentos de uso contínuo, além do maior cuidado com efeitos colaterais como sonolência, alterações motoras e tonturas, sintomas relacionados a quedas, que poderiam levar à piora de seus quadros de saúde.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar gabapentina?

Como o medicamento pode passar pela barreira da placenta e também pelo leite materno, o uso do medicamento só poderá ser indicado ou mantido nessas situações após a devida avaliação médica.

Cabe ao médico pesar a relação de risco e benefício da continuidade do tratamento. Caso decida-se pelo seguimento dele, a paciente e o bebê devem ser acompanhados de perto pelo profissional, para monitoramento de eventuais efeitos indesejados.

Qual é a melhor forma de consumi-la?

A orientação é que o comprimido ou cápsula sejam ingeridos com água, e ele não deve ser mastigado, nem fracionado.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Você deve tomar o remédio sempre no mesmo horário, de preferência, na hora das principais refeições —mas converse com seu médico para saber a melhor forma de agir no seu caso. A depender do esquema de doses sugerido por ele, tomá-lo antes de ir dormir pode ser mais indicado, dado um dos seus possíveis efeitos colaterais, a sonolência.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento, a não ser que as horas já tenham avançado tanto que a próxima dose já esteja próxima. Neste caso, despreze a dose esquecida, tome a dose no horário certo seguinte e siga com o tratamento.

É desaconselhado tomar doses em dobro de uma única vez para compensar a que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando utilizado de acordo com as orientações médicas.

Apesar disso, algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações, consideradas comuns:

  • Alterações da coordenação motora (ataxia)
  • Sonolência
  • Tontura
  • Náusea
  • Diarreia
  • Alterações de humor
  • Alterações na visão
  • Inchaço de braços e pernas
  • Boca seca
  • Dificuldade para ter ereções
  • Aumento de peso
  • Problemas de memória
  • Dor de cabeça
  • Maior tendência a ter infecções

Caso observe que algum desses efeitos não passa ou verifique outras alterações, converse com seu médico para que ele possa avaliar a necessidade de ajustes nas doses da medicação e/ou a sua substituição.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a gabapentina. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico ou o farmacêutico, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são exemplos de interação, mas não excluem outras que, eventualmente, possam ter a mesma ação. Confira:

Informe também ao médico ou farmacêutico o uso de fitoterápicos como a valeriana, que tem como possível efeito colateral a tontura. O uso concomitante com a gabapentina poderia potencializar esse sintoma.

A sugestão dos especialistas é que você mantenha consigo uma lista dos medicamentos e suplementos que faça uso continuamente para que eles possam orientar o médico na prevenção de interações.

O fármaco engorda?

A farmacêutica Amouni Mourad, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP, afirma que o ganho de peso não é considerado um efeito colateral comum, mas "para algumas pessoas, a gabapentina pode aumentar o apetite, o que justificaria os quilos a mais".

Ao observar alguma mudança nos seus hábitos alimentares, converse com seu médico para que, juntos, vocês possam decidir quais seriam as melhores estratégias para a continuidade do tratamento.

Existe interação com algum tipo de exame laboratorial?

O próprio fabricante esclarece que a gabapentina pode levar a alterações de exames que pesquisam o aumento da concentração de proteína na urina (proteinúria).

Além disso, um tipo de teste chamado Ames N-Multistix SG, que investiga infecções urinárias, distúrbios renais e diabetes, também pode ter um falso positivo como resultado.

A orientação dos especialistas é que você comunique ao médico e ao pessoal do laboratório o uso desse medicamento ao se submeter a todo tipo de exames laboratoriais.

Posso beber álcool enquanto uso a gabapentina?

Não existe contraindicação expressa para o consumo de bebidas alcoólicas durante o tratamento com o medicamento. No entanto, sabe-se que o uso concomitante dessas substâncias pode provocar sonolência e sensação de cansaço.

Como não é possível prever como você reagirá ao medicamento nessas condições, o melhor a fazer é conversar com seu médico sobre o que seria melhor no seu caso —abster-se do consumo de álcool ou não.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você os armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. Sempre limpe o copo dosador antes e após o uso e armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros remédios;
  • Respeite o limite da dosagem indicada;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15 °C e 30 °C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Franciluz Morais Bispo, médico neurologista do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), vinculado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); e Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Yasaei R, Katta S, Saadabadi A. Gabapentin. [Atualizado em 2022 Maio 2]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK493228/.