Enalapril previne infarto e AVC ao controlar pressão alta; tosse é efeito

No mercado desde a década de 1980, o enalapril tem sido aliado no controle da pressão alta (hipertensão) e no tratamento e prevenção da insuficiência cardíaca.

O que é enalapril?

Trata-se de um anti-hipertensivo classificado como IECA (inibidor da enzima conversora de angiotensina) que é capaz de reduzir a pressão arterial impedindo a constrição dos vasos sanguíneos.

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Dadas as particularidades desse medicamento, ele só deve ser utilizado sob prescrição e acompanhamento médico.

Em quais situações o enalapril pode ser usado?

Esse fármaco tem sido utilizado desde a década de 1980. Como seus efeitos já foram bem observados, ele é considerado seguro, bem tolerado, mas você pode potencializar sua ação e ainda prevenir efeitos adversos fazendo o uso racional do medicamento, ou seja, utilizando-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo sugerido pelo seu médico. A instrução é da OMS (Organização Mundial da Saúde).

O fármaco é indicado para o tratamento da hipertensão, mas também poderá ser usado em pessoas com insuficiência cardíaca (em combinação com outros medicamentos), com ou sem sintomas.

A literatura sobre o enalapril revela que ele pode também ser útil na nefropatia diabética (doença dos rins consequente ao diabetes), no infarto agudo do miocárdio, síndromes coronarianas (bloqueio súbito do fluxo sanguíneo para o coração), eritrocitose pós-transplante (aumento dos glóbulos vermelhos no sangue) e doença renal crônica decorrente de proteinúria (presença de proteína na urina). Essas indicações não constam da bula e, por isso, são chamadas de off label.

Entenda como o enalapril funciona

Ao ser tomado, o remédio é rapidamente absorvido, metabolizado pela via hepática e sua excreção se dá, majoritariamente, pela via renal.

A ação esperada do enalapril é a vasodilatação das artérias e a redução da pressão arterial. Isso também alivia o esforço do coração para bombear o sangue pelo corpo, ajudando a diminuir os sintomas da insuficiência cardíaca (falta de ar, inchaço dos pés e pernas, sensação de cansaço, etc.).

O principal mecanismo por trás disso é a inibição da enzima que converte a angiotensina I em angiotensina II, um potente vasoconstritor (ele estreita as artérias), que também estimula a libertação do hormônio aldosterona. As explicações são da farmacêutica Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP.

Os efeitos do medicamento poderão ser observados no período de 30 a 40 minutos, e após 12 horas ele ainda estará agindo. No entanto, será preciso esperar de 3 a 4 semanas para avaliar como o paciente responde ao enalapril para o eventual ajuste de doses.

Conheça as apresentações disponíveis

O medicamento de referência é o Renitec®, mas já existem opções genéricas. Como ele consta da Rename (Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais) 2022, o fármaco também é distribuído pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e pode ser retirado em uma UBS. Para ter acessso a ele, é necessário apresentar a receita, além da carteira de identidade.

Outra forma de obtê-lo é por meio do programa da Farmácia Popular. Como o enalapril não é um medicamento de alto custo, o procedimento para ter acesso a ele é idêntico.

Veja alguns exemplos de sua apresentação:

• Comprimidos - 5 mg; 10 mg; 20 mg

Vou ter de usá-lo para o resto da vida?

Sim. Na maioria das vezes esse medicamento é de uso contínuo ou crônico, ou seja, deverá ser usado por toda a vida.

A depender da gravidade do seu caso, as doses poderão ser aumentadas, combinadas com outros fármacos, e a medicação poderá até ser substituída para melhor controle da pressão ao longo dos anos.

Importante saber que essa prática alonga a sua vida, já que ela previne o infarto e o AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Quais são as vantagens e desvantagens de seu uso?

De acordo com Andrea Bezerra de Melo da Silveira Lordsleem, cardiologista assistente do Serviço de Cardiologia do HC-UFPE, o medicamento tem mais vantagens que desvantagens.

"A longa experiência com o enalapril e os estudos com ele confirmam a sua segurança, eficácia e potência como anti-hipertensivo. Ele ainda melhora a sobrevida dos pacientes com insuficiência cardíaca, e também ajuda na adesão ao tratamento, já que ele pode ser administrado 2 vezes ao dia", diz a médica. Ela destaca ainda a sua acessibilidade, já que o medicamento consta da Rename.

Como desvantagem, a médica cita a hipotensão, efeito que ocorre quando as doses não são adequadas ao paciente, e o raro risco de hipercalemia (aumento de potássio no sangue) e processos alérgicos, embora eles sejam mais raros.

Saiba quando evitar o enalapril

Embora este medicamento seja considerado seguro, fale com seu médico ou farmacêutico, caso você tenha tido algum tipo de reação alérgica a medicamentos usados para o controle da pressão ou a algum componente do enalapril, e mesmo na hipótese de ter tido conhecimento de que alguém de sua família apresenta ou apresentou esse tipo de problema.

Além disso, evite usar essa medicação (ou avise seu médico para que ele possa avaliar seu quadro) na presença das seguintes condições:

• Gravidez
• Amamentação
• Angioedema idiopático ou hereditário
• Histórico de angioedema ou hipersensibilidade consequente ao uso de outro medicamento do tipo do enalapril
• Problemas cardiológicos como estenose aórtica
• Estenose da artéria renal
• Redução das funções renais

Crianças e idosos podem usá-lo?

O fabricante adverte que a indicação para crianças deve ser avaliada pelo médico. A razão para isso é que existem poucos estudos de segurança e eficácia do medicamento, e os disponíveis se limitam à pressão alta. Assim, a indicação fica a critério do especialista, que melhor poderá avaliar —individualmente— os riscos e benefícios do fármaco para seu paciente pediátrico.

Já entre os idosos, o fármaco é bem tolerado e seguro, mas o profissional deve estar atento à saúde renal deles, bem como à presença de outras doenças para adequar doses. Além disso, é preciso dar atenção ao uso de outros medicamentos, que poderiam interagir com o enalapril e prejudicar, ainda mais, as funções dos rins.

Estou grávida e/ou amamentando, posso usá-lo?

O enalapril é contraindicado na gestação, e os estudos realizados com mulheres em fase de amamentação mostraram que o enalapril pode passar pelo leite materno em pequena quantidade.

A recomendação é que se evite o uso do medicamento por mães que tiveram parto prematuro nas primeiras semanas após o nascimento. Entre as demais, caberá ao médico observar se haveria efeitos colaterais indesejados para a mãe e o bebê.

Como devo consumi-lo?

A melhor forma de ingerir todo tipo de medicamento é com água. Evite apenas partir o comprimido.

O enalapril não sofre alterações em sua absorção quando ingerido junto aos alimentos. Assim, ele pode ou não ser administrado no horário das refeições.

O que devo fazer ao esquecer de tomar o remédio?

Espere até a hora da dose seguinte e reinicie o uso do medicamento. É desaconselhado tomar dois comprimidos de uma vez para compensar a dose que foi esquecida.

Se você é daqueles que sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis riscos e efeitos colaterais?

O enalapril é bem tolerado pela maioria das pessoas. No entanto, o efeito colateral mais comum é a tosse, que melhora após a suspensão do uso do remédio.

Confira outros exemplos de possíveis manifestações indesejadas:

• Hipotensão
• Hipercalemia (presença de potássio no sangue)
• Icterícia
• Tontura
• Dor de cabeça
• Alterações no paladar
• Mudanças de humor
• Alterações na visão
• Dor no peito
• Taquicardia
• Alterações no humor

Interações medicamentosas

Na maioria das vezes, não há incompatibilidade do consumo da enalapril com outros medicamentos. Mas evite substitutos de sal à base de potássio. Junto à medicação, eles podem elevar as taxas desses nutrientes no sangue, o que poderia prejudicar a saúde do coração.

Avise seu médico caso você já faça uso de outros medicamentos que reduzem a pressão, ou outros fármacos como:

• Anti-inflamatórios não esteroidais (ibuprofeno, cetoprofeno)
• Medicamentos poupadores de potássio ou que contenham potássio (espironolactona e furosemida + cloreto de potássio, respectivamente)
• Diuréticos (como a furosemida)
• Imunossupressores (ciclosporina)
• Anticoagulantes (heparina)
• Moduladores de humor (lítio)
• Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina)
• Antidiabéticos (glicazida)
• Outros anti-hipertensivos (alisquireno)
• Outros medicamentos para insuficiência cardíaca (sacubitril)

É também importante falar com o médico ou farmacêutico antes de usar esse medicamento, caso você faça uso de suplementos à base de potássio ou cálcio, ou mesmo algum fitoterápico e outras vitaminas.

Há interação com exames laboratoriais?

Embora raras, podem ocorrer alterações em alguns exames. Veja alguns exemplos:

• Testes de função hepática
• Níveis de ureia e creatinina plasmáticas
• Eletrólitos no soro (potássio)
• Acetona urinária
• Insulina
• Ácido úrico
• Sódio
• Potássio

Sugere-se que você sempre informe ao médico e ao pessoal do laboratório o uso do enalapril e todos os demais medicamentos que esteja utilizando ou tenha usado pouco antes da realização de exames.

Posso consumir álcool?

De uma forma geral, quem faz uso de medicamento não deve associá-lo ao consumo de álcool. A razão para isso é que essa substância tem efeito diurético, o que pode, indiretamente, reduzir a concentração, absorção e metabolização do fármaco.

Embora não haja recomendação específica sobre possíveis interações com bebidas alcoólicas, lembre-se que essa substância pode provocar hipotensão, o que potencializaria este que é um dos efeitos colaterais do enalapril.

Qual é a diferença entre enalapril e losartana?

De acordo com a farmacêutica Amouni Mourad, professora do curso de Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e assessora técnica do CRF-SP, ambos trabalham pelo mesmo objetivo: controlar a hipertensão.

O que os diferencia são seus mecanismos de ação. "Enquanto o enalapril inibe a conversão da angiotensina I em angiotensina II, a losartana é uma outra classe de medicamento cuja ação bloqueia o receptor da angiotensina II", esclarece a especialista.

Saiba como potencializar efeito benéfico dessa medicação

Para colaborar com o tratamento da hipertensão é essencial promover mudanças no estilo de vida, que se resumem nas seguintes práticas:

• Adote alimentação saudável, rica em frutas e verduras e pobre em gorduras saturadas e sódio
• Invista na prática de atividade física regular, pelo menos 3 vezes por semana
• Reduza, ao máximo, o consumo de álcool
• Abandone o tabagismo
• Aprenda técnicas para controle do estresse

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

• Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você os armazena;
• Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
• Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
• Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
• No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. Sempre limpe o copo dosador antes e após o uso e armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros remédios;
• Respeite o limite da dosagem indicada;
• Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15 °C e 30 °C;
• Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
• Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
• Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e assessora técnica do CRF-SP; Andrea Bezerra de Melo da Silveira Lordsleem, cardiologista assistente do Serviço de Cardiologia do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), supervisora da residência em cardiologia clínica da mesma instituição e docente da disciplina de cardiologia da Uninassau (PE); Danyelle Cristine Marini, farmacêutica e diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu/SP).

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia); Faruqi A, Jain A. Enalapril. [Atualizado em 2021 Jul 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557708/.