Zolpidem: para que serve o remédio? Causa efeitos colaterais?
Conhecido desde 1988 na Europa, o zolpidem entrou no mercado das Américas na década de 1990 e já foi o medicamento mais receitado para o tratamento da insônia em todo o mundo.
O que é zolpidem?
Trata-se de um hipnótico não-benzodiazepínico do grupo das imidazopiridinas. Esses medicamentos atuam no SNC (Sistema Nervoso Central) e possuem propriedades sedativas, relaxantes e ansiolíticas.
Devido às suas características, ele só pode ser comercializado sob receita médica.
Para que serve o zolpidem?
Dada a utilização desse fármaco há quase 30 anos, ele é considerado muito seguro. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.
A medicação pode ser indicada para o tratamento de curto prazo da insônia quando se tem dificuldade para dormir ocasional, transitória ou crônica.
A literatura sobre o medicamento revela que ele também pode ser útil na restauração das funções cerebrais em pessoas que estiveram em estado vegetativo após lesões cerebrais. Como esta indicação não consta da bula, ela é chamada de off-label.
Entenda como ele funciona
O zolpidem possui boa farmacocinética, ou seja, ao ser administrado por via oral, é rapidamente absorvido no trato gastrointestinal, é distribuído pelos tecidos, até que chega a seu alvo, efetua sua ação, se transforma em um produto excretável (metabolização). Ao terminar sua tarefa, ele sai do corpo pela via renal.
Quanto ao mecanismo de ação (farmacodinâmica), os não-benzodiazepínicos são capazes de se ligar a receptores chamados GABAA, que se encontram principalmente nos neurônios do SNC. Ao ativar esses receptores, eles promovem ações que dificultam e inibem a transmissão de impulsos nervosos.
"O efeito esperado é a sedação e a hipnose, mas o medicamento também tem ação ansiolítica, anticonvulsivante e relaxante muscular, só que em menor escala", fala Tiago Zequinão, farmacêutico clínico do Hospital Universitário Cajuru (PR).
Conheça as apresentações disponíveis
Stilnox® é a marca de referência do zolpidem, mas você pode encontrar as versões genéricas e similares. Esse princípio ativo não consta da Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais).
Confira as apresentações e doses disponíveis:
- Comprimidos multicamadas de ação prolongada - 6,25mg ou 12,5 mg
- Comprimidos revestidos - 10 mg
Outras marcas apresentam comprimidos efervescente e sublingual.
Ele pode causar dependência?
O uso do zolpidem é recomendado por curto espaço de tempo. Apesar disso, há estudos científicos que atestam a eficácia do medicamento por 6 a 12 meses, sem que ocorra desenvolvimento de tolerância.
A psiquiatra Gisele Richter Minhoto, especialista em medicina do sono e professora da Escola de Medicina da PUC-PR, adverte que o uso prolongado e altas doses aumentam o risco de dependência, especialmente entre pessoas que apresentem risco ou histórico de abuso ou dependência de outras substâncias.
"Alguns pacientes acabam desenvolvendo dependência psicológica por sentirem necessidade de adormecer rapidamente, não tolerando a espera normal do tempo para pegar no sono. Além disso, costumam fazer uso abusivo, utilizando o zolpidem para prolongar o período de sono normal ou para cochilar durante o dia, o que não é recomendado", esclarece a especialista.
A médica acrescenta que a interrupção do tratamento nunca deve ser feita sem orientação médica, já que a medida poderia resultar em efeitos indesejáveis como agravamento da insônia e ansiedade.
Quais são as vantagens e desvantagens do zolpidem?
Na opinião do farmacêutico e bioquímico Marcos Machado, presidente do CRF-SP, quando o zolpidem é usado na dose e tempo certos, sua maior vantagem é a rápida ação (aproximadamente 30 minutos após a ingestão).
Além disso, o fármaco encurta o tempo de adormecimento, proporcionando um sono com estrutura semelhante ao fisiológico. Isso significa que há redução de despertares noturnos e aumento da duração e qualidade do sono.
Já as desvantagens são o risco de dependência e abuso condicionado às doses utilizadas e à duração da terapia, assim como a necessidade de maior cautela da sua indicação para pacientes com histórico de dependência ou abuso de álcool ou outras drogas.
Quais são as contraindicações do zolpidem?
Ele não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições:
- Doenças renais ou hepáticas
- Miastenia grave (fraqueza dos músculos)
- Problemas respiratórios
- Apneia do sono
- Problemas de saúde mental
- Problemas com uso de álcool ou drogas
- Gravidez
- Amamentação
- Idade inferior a 18 anos
Crianças e idosos podem usá-lo?
O medicamento é indicado para adultos com idade superior a 18 anos. Portanto, ele não deve ser usado por crianças.
Quanto aos idosos, o cuidado deve abranger a identificação de possíveis interações medicamentosas, já que esse grupo costuma fazer uso de vários medicamentos ao mesmo tempo. Além disso, a introdução do zolpidem deve ser feita com doses menores, o que também é uma medida desejável entre as mulheres.
Estou grávida, posso usar zolpidem?
Em caso de gravidez, o fármaco deve ser descontinuado porque há evidência científica de que ele pode prejudicar seu bebê, seja por meio de um parto prematuro (antes de 37 semanas), ou menor peso ao nascer.
Caso faça uso desse medicamento, informe seu médico imediatamente após ter conhecimento da gravidez para que ele possa orientá-la.
Zolpidem e amamentação
O medicamento pode passar pelo leite materno. Por isso, fale com o profissional da área da saúde que a acompanha sobre sua intenção de amamentar, ou sobre a real necessidade do uso do zolpidem no período do aleitamento.
Somente o médico pode avaliar se os benefícios do fármaco devem ser mantidos, se as doses devem ser reduzidas ou se há alternativas no seu caso.
Qual é a melhor forma de consumi-lo?
A orientação é de que ele seja ingerido com água.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Na maioria das vezes indica-se a administração em momento anterior à hora de deitar, em dose única. Evite tomar nova dose na mesma noite.
Aconselha-se, também, que a dose ocorra no período de 7 a 8 horas antes do horário do despertar. A medida evita o risco de sonolência durante o dia.
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Tome-o assim que lembrar, mas esteja atento aos efeitos do medicamento, que podem durar por horas e, portanto, prejudicar atividades que exijam maior atenção e concentração.
Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são cansaço, sonolência e relaxamento muscular.
Algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:
Comuns
- Sonolência
- Dor de cabeça
- Boca seca
- Gosto metálico na boca
- Diarreia
- Dor abdominal
- Vômito
- Cansaço
Incomuns ou raras
- Distúrbio de marcha
- Quedas (especialmente entre os idosos)
- Dor nas articulações ou muscular
- Sudorese
- Visão dupla
- Tremor
Há risco de sonambulismo?
Os especialistas consultados afirmam que ele pode ocorrer, mas esse efeito não é frequente. A causa para esse evento seria o uso de doses maiores do que as recomendadas.
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com o zolpidem. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas:
- Anti-histamínicos (prometazina, difenidramina)Analgésicos potentes (hidrocodona, tramadol, morfina, oxicodona etc.)
- Antidepressivos (como a duloxetina e o escitalopram, imipramina)
- Ansiolíticos (alprazolam)
- Antifúngicos (cetoconazol)
- Antirretrovirais (no tratamento do HIV, como o ritonavir)
Até o momento há pouca informação sobre a interação com fitoterápicos, mas sabe-se que o zolpidem pode interagir com o Hipérico (Erva de São João). De todo modo, informe a seu médico o uso contínuo de algum suplemento vitamínico.
O zolpidem corta o efeito do anticoncepcional?
Até o momento não há evidências de que o fármaco corte o efeito de nenhum tipo de contraceptivo.
Existe interação com exames laboratoriais?
Não são conhecidas alterações em testes desse tipo entre pessoas que fazem uso desse medicamento.
Devo evitar consumir algum tipo de alimento?
Evite o consumo de álcool, assim como o uso do medicamento imediatamente após as refeições. Indica-se dar um intervalo de, ao menos 20 minutos, para sua ingestão, para prevenir o retardo do efeito do zolpidem.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
- Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Utilize o medicamento na posologia indicada;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Gisele Richter Minhoto, médica psiquiatra, especialista em medicina do sono e professora da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Tiago Zequinão, farmacêutico clínico do Hospital Universitário Cajuru (SUS-Curitiba); Marcos Machado, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo), farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas; Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Bouchette D, Akhondi H, Quick J. Zolpidem. [Updated 2020 Jul 7]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK442008/.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.