Milionário recebe sangue do filho para rejuvenescer; mas há comprovação?
Preenchimento com ácido hialurônico, botox e estimulação de colágeno são alguns dos procedimentos mais conhecidos para rejuvenescimento facial. Mas nada se compara ao ambicioso projeto de um americano de 45 anos que quer voltar a ter 18.
Bryan Johnson é um milionário que gasta US$ 2 milhões por ano —quase R$ 10 milhões na cotação atual— para fazer com que seu corpo volte no tempo. A proposta é ter pele, dentes, físico e funcionamento de órgãos de uma pessoa bem mais jovem.
Em meio a uma rotina regrada de sono, exercícios físicos, alimentação e suplementos, a estratégia mais recente dele foi receber plasma do filho de 17 anos, por transfusão de sangue, e doar o próprio plasma para o pai, que tem mais de 70.
Johnson reconhece que há riscos no procedimento, mas resolveu arriscar. "Nós temos avaliado centenas de terapias de longevidade e pensei que seria épico se meu filho, meu pai e eu fizéssemos a primeira transfusão de plasma multigeracional", disse ele em vídeo publicado no YouTube nesta segunda-feira (22).
O empresário é fundador da Blueprint, empresa que dá nome ao algoritmo que mede, avalia, compara e propõe um protocolo antienvelhecimento que ele vem seguindo há dois anos. Para a experiência mais recente, ele se baseia em estudos com ratos que mostram efeitos rejuvenescedores em células, tecidos, órgãos e funções quando um roedor velho recebe sangue de outro jovem.
O inverso também já foi demonstrado em outro estudo, em que a transfusão de sangue de um rato velho para um rato jovem levou ao aumento de células que se acumulam quando envelhecemos.
Porém, considerar testes em ratos para concretizar o processo em seres humanos envolve questões éticas e de saúde.
"Não deveria ser feito em hipótese alguma", afirma a hematologista Mariana Oliveira, do Grupo Oncoclínicas.
Ela explica que, além de não haver estudos em humanos que comprovem o benefício que Johnson busca, a transfusão de plasma pode levar a uma imunodepressão e maior risco de infecções.
O plasma pode transmitir HIV, hepatite, sífilis, doença de Chagas, que são doenças conhecidas, sem contar as desconhecidas, que vão aparecer no futuro. Mariana Oliveira, hematologista do Grupo Oncoclínicas
Por isso, ela diz que a transfusão de plasma é uma prática cada vez mais restrita, sendo indicada para pessoas com problemas de coagulação ou no fígado, por exemplo.
"Mas cada vez mais buscamos alternativas para a transfusão de plasma, justamente para evitar riscos." Assim como essa porção do sangue tem proteínas que ajudam na coagulação, carrega outras que podem causar alergias.
Sobre o experimento de Johnson, a médica é categórica: "É uma excentricidade que não tem base científica para comprovar e não está isenta de riscos".
Em 2019, a FDA —agência que regula medicamentos nos EUA— emitiu um comunicado contra o recebimento de infusões de plasma de doadores jovens, prática que estava sendo promovida como tratamento não comprovado para várias condições. A lista ia desde o envelhecimento natural, transtorno de estresse pós-traumático até doença de Alzheimer.
"Não há benefício clínico comprovado da infusão de plasma de doadores jovens para curar, mitigar, tratar ou prevenir essas condições, e há riscos associados ao uso de qualquer produto de plasma", enfatizou o órgão.
Dá para reverter o envelhecimento?
Em entrevista ao Fantástico, em março deste ano, Johnson contou que sempre dorme cedo e sozinho, se exercita de segunda a segunda, não bebe, não come gordura nem doces. Vegano, ele ingere exatas 2.000 calorias por dia.
Com essa rotina, a ajuda da tecnologia e outros tratamentos estéticos, ele afirma que já baixou sua idade biológica geral em pelo menos cinco anos —como se tivesse 40 anos. Além disso, os exames dele mostram que o coração funciona como o de uma pessoa de 37 anos, a pele é de alguém de 28, e a capacidade respiratória é como a de um jovem de 18 anos.
Segundo Ricardo Barroso, diretor da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo), não existe rejuvenescimento em termos celular e metabólico. Ou seja, é impossível reverter um processo natural.
O que existe é atenuar processos que fazem parte do envelhecimento. Ele explica que o corpo humano tem um mecanismo natural de reparação celular que, com o tempo, deixa de funcionar bem, e assim envelhecemos.
Quando há inflamação crônica no organismo, como a causada pela obesidade, esse mecanismo é intensificado. Para evitar essa progressão danosa, pode-se fazer controle de peso, dos níveis glicêmicos e de colesterol, bem como da pressão arterial e da condição cardiovascular. Tudo isso é recomendado de modo geral para que as pessoas vivam com mais saúde.
Quando Johnson fala que seu coração está mais jovem, não é no sentido literal. "Provavelmente, ele está usando métricas da capacidade funcional do coração, e existe uma tabela estatística relacionada à idade", diz Barroso. Assim, adotando hábitos de vida saudáveis, é possível numa idade avançada ter uma capacidade pulmonar e aeróbica melhor.
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