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Episódio de Grey's Anatomy foi usado em estudo sobre HIV e gravidez

Em episódio que foi ao ar em 2008, Izzie (Katherine Heigl) esclareceu dúvida de casal sobre HIV na gravidez - Reprodução/ABC
Em episódio que foi ao ar em 2008, Izzie (Katherine Heigl) esclareceu dúvida de casal sobre HIV na gravidez Imagem: Reprodução/ABC

De VivaBem, em São Paulo

13/06/2023 04h01

A série Grey's Anatomy foi lançada em 2005 e, até o momento, segue como uma das maiores audiências nos EUA. Isso não é lá uma grande novidade, já que a trama tem 19 temporadas desde então.

Mas o que muitos, talvez, não saibam é seu papel educativo. Um dos episódios foi usado em um estudo para medir até que ponto as pessoas podem aprender sobre um assunto relacionado à saúde. No caso, o foco era o HIV durante a gravidez.

O que acontece no episódio?

O episódio 13 da 4ª temporada foi ao ar no dia 1º de maio de 2008. Nele, a médica Izzie (Katherine Heigl) aparece ajudando uma mulher que descobre que está grávida. Assim que a moça (Sarah) recebe o teste positivo, ela decide fazer um aborto.

No entanto, a médica estranha a pressa na decisão. Sarah, então, logo explica o motivo: ela convive com HIV e conta que não quer transmitir a doença para o bebê —o que não costuma acontecer, segundo estudos, se o vírus está indetectável.

Ao longo do episódio, Izzie tenta explicar que ela tem opções, que existe forma de ter um filho mesmo convivendo com o HIV. Mais perto do final, ainda insistente, a médica diz:

Eu estava dizendo a você que há 98% de chance de seu bebê nascer perfeitamente saudável. Uma chance de 98%! Há uma chance maior de seu bebê nascer com síndrome de Down do que você passar o HIV para o seu filho. Izzie (Katherine Heigl)

O casal, então, dá um longo abraço e agradece a médica pela ajuda e esclarecimento.

Aliás, o roteiro do episódio foi resultado de uma parceria com a ONG norte-americana Kaiser Family Foundation, que é focada em políticas de saúde. Eles foram os responsáveis por medir o nível de compreensão da audiência durante o episódio.

Como o estudo foi feito

Foram feitas duas consultas por telefone em três situações:

A primeira ocorreu antes do episódio ir ao ar;

A segunda na mesma semana que as pessoas assistiram ao capítulo;

A última foi realizada seis semanas depois.

Cada uma das três pesquisas usou uma amostra separada de aproximadamente 500 espectadores regulares de Grey's Anatomy —pessoas que indicam que costumam assistir a pelo menos três dos quatro novos episódios do programa.

Para as pesquisas pós-programa e de acompanhamento, os entrevistados eram telespectadores regulares que haviam assistido ao episódio alvo.

As pesquisas foram elaboradas e analisadas pela equipe da Kaiser Family Foundation em consulta com a Princeton Survey Research Associates International (PSRAI).

O tamanho da amostra combinada em todas as três pesquisas foi de 1.505 entrevistados, com uma margem de erro da amostragem de cerca de 5%.

O estudo mostra o enorme potencial da televisão popular como um educador de saúde —mesmo em um programa que tem uma sensação de 'novela' e uma tendência cômica. Uma proporção muito grande de telespectadores absorveu as informações fornecidas em Grey's Anatomy. Pesquisadores do estudo

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Izzie foi personagem responsável por passar a mensagem final sobre HIV na gravidez
Imagem: Reprodução/ABC

Conclusões e aprendizados do estudo

Os telespectadores mudaram de opinião na mesma semana que o episódio foi ao ar: o percentual subiu de 15% para 61% entre as pessoas que sabiam que, com o tratamento adequado, há mais de 90% de chance de uma mulher com HIV ter um bebê saudável.

Seis semanas após o episódio ir ao ar, a proporção que deu a resposta correta caiu para 45%, mas ainda era substancialmente maior do que antes do programa.

Mudança de opinião sobre a frase "Se uma mulher que tem HIV ou Aids engravida, não há nada que possa ser feito para evitar que o vírus infecte seu bebê": a proporção de telespectadores que sabiam que a afirmação era falsa subiu de 53% para 76% uma semana após o episódio ir ao ar.

Seis semanas após o episódio ir ao ar, a proporção caiu, mas ainda era melhor do que antes do programa: 63% disseram que era falsa, em comparação com 53% antes do episódio exibido.

"É irresponsável para uma mulher que sabe que tem HIV ter um bebê": proporção que concordava com a frase incorreta caiu de 61% para 34%.

45% de todos os espectadores regulares dizem que aprenderam algo novo sobre um problema de saúde assistindo ao programa.

Os espectadores mais jovens e de baixa renda são mais propensos do que outros a dizer que aprenderam algo novo sobre saúde com o programa

29% disseram que as informações médicas apresentadas em Grey's Anatomy são "muito" precisas, enquanto a maioria (58%) diz que são "um pouco" precisas.

Monitorar o conteúdo relacionado à saúde desses programas pode ser tão importante quanto fiscalizar a mídia noticiosa quando trata-se de entender o que o público está vendo e ouvindo --e aprendendo-- sobre os principais problemas de saúde. (...) O estudo demonstra que, com a mensagem certa e o programa certo, a televisão pode ser uma poderosa ferramenta de comunicação em saúde. Pesquisadores do estudo

Sim, você pode ter HIV e engravidar

Os avanços científicos e o tratamento antirretroviral permitem que qualquer pessoa soropositiva tenha filhos saudáveis e de maneira segura.

Desta forma, a pessoa deve fazer o tratamento antirretroviral corretamente e, com a carga viral indetectável, o vírus não é transmitido para ninguém.

A pesquisa da KFK reforça a mensagem: o risco de transmissão para o bebê é inferior a 2% se forem recebidos medicamentos e cuidados adequados —o que é uma das grandes vitórias na luta contra o HIV/Aids.

Grey's Anatomy estreou nos EUA em março de 2005 - Divulgação - Divulgação
Grey's Anatomy estreou nos EUA em março de 2005
Imagem: Divulgação

Séries médicas ajudam na educação sobre saúde

Uma revisão de 19 estudos analisou três séries médicas para entender o papel dela na vida dos telespectadores em relação aos temas de saúde que são abordados.

Foram selecionadas "ER" ("Plantão Médico"), "Grey's Anatomy" e "House".

Os resultados incluíram conhecimento sobre tópicos diversos como doação de órgãos, rastreamento de câncer, ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e doenças cardíacas.

A pesquisa mostrou que assistir a programas médicos fictícios na televisão teve uma influência positiva em 32% dos estudos; negativa em 11% das pesquisas e 58% mista.

Apesar das limitações, a revisão sistemática sugere que as séries médicas de ficção podem influenciar o conhecimento, as percepções e/ou o comportamento dos telespectadores relacionados à saúde.

Segundo os autores, o uso de programas médicos para educar as pessoas poderia ser mais utilizado até o momento devido ao potencial de ensino.