Aos 19, ela descobriu câncer após tosse 'incurável' e perda de movimentos
A estudante de direito Gabrielle Flôres Fontana, de 20 anos, é de Santa Maria (RS) e descobriu, em julho de 2022, um Linfoma de Hodgkin, tipo de câncer que se origina no sistema linfático. O tumor só foi descoberto porque a jovem tinha uma tosse que não curava e também tinha dificuldade para engolir alimentos sólidos e secos.
A jovem já passou por sessões de quimioterapia e aguarda um transplante de medula óssea. Gabrielle contou sua história a VivaBem.
"Era novembro de 2021 quando comecei com sintomas como tosse seca e dor de garganta que me incomodavam bastante.
No começo, imaginei que era uma tosse alérgica, já que tenho quadro de alergia que sempre melhorava com o uso de xarope antialérgico. Fui até a farmácia e comprei a medicação, mas ao contrário das crises de alergia anteriores, essa não melhorava e, com o passar dos dias, comecei a ter dificuldades para engolir alimentos sólidos e secos.
Busquei atendimento no pronto-socorro da cidade e, após consulta, o médico me receitou alguns xaropes para a tosse.
Com o passar das semanas fui ficando muito cansada e com sono durante o dia. Uma caminhada de poucos metros já me dava fadiga. Mais uma vez busquei atendimento médico e uma nova medicação [xarope] foi receitada. Mas nada parecia resolver e acabar com aqueles sintomas.
Em fevereiro de 2022, três meses depois dos primeiros sintomas, marquei consulta particular com um endocrinologista. Imaginei que pudesse estar com algum problema de tireoide porque tenho casos na família.
Ele solicitou uma série de exames como: raio-X, ultrassom e vários exames de sangue para verificar se havia alguma doença. Os resultados começaram a sair e, aparentemente, eu estava saudável. A minha hemoglobina e plaquetas estavam com taxas consideradas normais. Os raio-X do pulmão e do tórax também não apresentaram nada de anormal.
Mas, quando saiu o resultado do ultrassom, algo chamou a atenção: eu tinha uma massa na cervical e ela precisaria ser investigada.
Duas semanas depois, percebi que três caroços haviam saltado na minha garganta, naquela semana eu tinha retorno médico e levaria meus exames para ele analisar.
Logo, o endocrinologista me encaminhou para um médico especialista em cabeça e coluna. A consulta era R$ 600 e, mesmo com dificuldade, agendei para o mesmo dia.
Ao ver meus exames, o médico disse que se tratava de um tumor e eu precisava fazer a biopsia para descobrir se era benigno ou maligno. O procedimento custaria em torno de R$ 7 mil.
Sem condições financeiras de fazer o procedimento, voltei para casa e minha família começou a juntar o valor.
Perda de movimento
Mais algumas semanas se passaram até que um dia eu estava em casa e, ao tentar pegar um pacote de fraldas no guarda-roupa, perdi totalmente o movimento do braço esquerdo.
Fui ao pronto-socorro com todos os meus exames e o médico me encaminhou para o Hospital Universitário de Santa Maria, porque meu quadro era grave e lá eles conseguiriam atender gratuitamente.
Dois dias depois, eu já estava no hospital fazendo diversos exames e os profissionais chegaram à conclusão de que os nódulos já estavam grandes e comprimiam os nervos do meu braço comprometendo os movimentos. Até hoje, mesmo após sessões de fisioterapia, ainda sinto meu braço fraco.
Ao fazer os exames, os médicos perceberam que os nódulos estavam também no meu tórax. Fiquei quase uma semana internada para fazer a biópsia e outros exames.
Em julho do ano passado, tive o diagnóstico de linfoma de Hodgkin, em grau 4, o mais grave. O câncer também comprometeu o meu fígado e, desde o diagnóstico, venho fazendo ciclos de quimioterapia para tentar controlar a doença.
Hoje, tomo Brentuximabe Vedotin, medicamento de alto custo, que consegui comprar com apoio de uma vaquinha virtual que fiz e estou na fila de transplante de medula óssea. Essa é a minha chance de cura.
Felicidade nas redes sociais e fora dela
Eu sempre fui uma pessoa muito alto astral, de bem com a vida, mas quando descobri o câncer, entrei em negação. Isso fez com que eu me isolasse, me fechasse e a tristeza tomou conta de mim. Todos os dias eu estava mal.
Depois de uns cinco meses, consegui me reerguer e afirmava para mim mesma que eu não sou uma doença, eu sou muito mais do que ela.
Desde então, decidi que buscaria ser como eu era antes do diagnóstico, alto astral e sorridente. Comecei a usar as redes sociais para isso, para tentar mostrar para as pessoas que existem dias difíceis, mas que não podemos deixar a doença tomar conta da nossa vida toda.
Me dei conta de que eu não preciso ser feliz e só querer viver depois que eu estiver curada do câncer, eu posso e tenho que ser feliz agora. O amanhã a gente nem sabe se vai chegar. Eu posso escolher ter o câncer e deixar ele tomar conta de mim, mas também posso escolher me fortalecer. Eu busco sempre viver um dia de cada vez e tento passar isso para as pessoas, o câncer não é uma sentença de morte, ele é uma doença que tem cura
Entenda a doença
O Linfoma de Hodgkin é um tipo de câncer que atinge o sistema linfático - principal sistema de defesa do organismo, podendo acometer em homens e mulheres, principalmente dos 15 aos 35 anos, como a Gabrielle.
"Os fatores de risco para a doença não são completamente entendidos, mas acredita-se que infecção pelos vírus Epstein-Barr e HIV, além de doenças autoimunes, tabagismo, obesidade e história familiar para doença podem aumentar as chances da doença", explica Ana Rita Fonseca, médica hematologista do Hospital Sírio-Libanês.
O tratamento pode mudar de acordo com o paciente e o estágio em que a doença é diagnosticada. Normalmente, ele é feito por meio de medicações quimioterápicas.
Os principais sintomas são:
- Aumento dos gânglios linfáticos
- Linfonodos
- Coceira
- Perda de peso
- Febre suores
- Tosse crônica
- Desconforto no tórax ou mesmo dificuldade para engolir
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