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Faz mal à saúde tocar ou mesmo beijar um morto durante o velório?

Tocar ou beijar um morto pode se perigoso: cadáveres têm potencial infeccioso - iStock
Tocar ou beijar um morto pode se perigoso: cadáveres têm potencial infeccioso Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

20/07/2023 04h00

A cena é muito comum nos filmes e novelas: uma pessoa, muito emocionada num velório, atira-se sobre o caixão e começa a abraçar e até beijar o morto. Mas ficção é ficção; na vida real, o melhor é evitar qualquer contato com cadáveres, mesmo os de entes queridos.

Beijar, encostar o rosto, os olhos e as mãos são hábitos que, embora possam ser difíceis de serem controlados em um momento de comoção, não são recomendados porque todo cadáver tem potencial infeccioso. Quando o corpo entra em processo de decomposição, as bactérias proliferam e podem causar infecções sérias, principalmente em pessoas que estejam com o sistema imunológico debilitado. Nesses casos, um simples corte na pele da pessoa que tocou o morto pode favorecer a entrada de agentes patogênicos em seu organismo.

Após a morte, o corpo pode excretar secreções com alto potencial de transmissão de vírus e bactérias, que nem sempre conseguem ser eliminados completamente por métodos de esterilização e desinfecção, como os que são usados no embalsamamento. No processo de liberação para o velório, o cadáver passa por vários locais (hospital, necrotério, funerária) que estão suscetíveis a contaminações, mesmo que sigam normas exigentes de higiene.

Já no caixão, o corpo ainda pode ser contaminado pelo contato direto de mãos, lágrimas e secreção nasal das pessoas, e até de flores durante o velório. Isso contribui para a multiplicação de germes, fungos e bactérias, como as do grupo coliforme e Staphylococcus aureus, que pode causar conjuntivite e até pneumonia.

O risco de ficar doente num velório costuma ser baixo, mas existe. Para se precaver, se for a um enterro, evite encostar o rosto no morto. Se tocar no corpo, lave bem as mãos com água e sabão ou aplique álcool em gel.

A literatura médica relata que alguns grupos ou classes de agentes infecciosos podem sobreviver e ser eliminados pelo cadáver até 48 horas depois do óbito. Não chega a ser uma porcentagem alta, mas por serem resistentes, oferecem riscos de transmissão de doenças como Covid-19, gripe H1N1, tuberculose e raiva.

Nesses casos, a recomendação é que o caixão seja mantido fechado durante todo o velório, e lacrado quando enviado para sepultamento em outro município ou país. O atestado de óbito deve conter as ressalvas feitas pelo médico, se possível, com arquivos hospitalares anexados.

Também podem permanecer ativos no cadáver por alguns dias vírus como os da hepatite B e C e o HIV, causador da Aids. Já um agente infeccioso chamado príon, resistente a métodos tradicionais de esterilização, pode causar doenças degenerativas do sistema nervoso central.

Quem trabalha com a manipulação de cadáveres infectados tem maior risco de contágio. Geralmente, ocorre por contato com sangue, fluidos e materiais cirúrgicos não esterilizados. Porém, em se tratando do HIV, sabe-se que cadáveres contaminados com esse vírus também podem transmitir mais facilmente infecções oportunistas, como tuberculose, por até dois dias após a morte.

Fontes: Edimilson Migowski, infectologista da UFRJ; Marcus Carvalho, odonto-legista e mestre em biologia buco-dental pela Unicamp; Reginaldo Franklin, médico-legista, pesquisador forense; Susanne Edinger, infectologista pelo Hospital de Clínicas da UFPR; e Elie Fiss, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).