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Entenda a ozonioterapia, tratamento que aguarda sanção do presidente Lula

Redação

Colaboração para VivaBem*

27/07/2023 15h49

No dia 12 de julho, o Senado Federal aprovou um projeto de lei que autoriza profissionais da saúde a prescreverem ozonioterapia como tratamento complementar para várias doenças. A aprovação tem causado debate nas comunidades médicas e científicas. Isso porque o ozônio é uma substância tóxica para seres humanos.

As promessas falam em aplicações do gás ozônio através do ânus, da vagina e por via intravenosa e que ajudariam na cura do câncer, no combate a infecções virais, endometriose, hérnia, doenças circulatórias e até depressão. É só você rolar o feed do seu Instagram para encontrar dezenas de clínicas em todo o país oferecendo procedimento com ozônio como tratamento para diversas doenças a preços elevados.

Parte da comunidade científica é contra a sanção do projeto. O argumento é que não há nenhuma comprovação de que a ozonioterapia é eficaz.

O que é? A terapia vem sendo proposta como tratamento para as mais diversas condições, entre elas osteoporose, hérnia de disco, feridas crônicas, hepatite B e C, herpes zoster, HIV-Aids, esclerose múltipla, câncer, problemas cardíacos, Alzheimer, doença de Lyme, entre outras. A ozonioterapia chegou até a ser cogitada para o tratamento da covid-19. O problema: não há comprovação científica para nenhum desses usos.

Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), "trata-se de procedimento ainda experimental, cuja aplicação clínica não está liberada, devendo ocorrer apenas em ambiente de estudos científicos". Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autoriza o uso da terapia só como auxiliar para alguns procedimentos odontológicos e estéticos.

Segundo a agência, "não há, até o momento, nenhuma evidência científica significativa de que haja outras aplicações médicas".A FDA, equivalente nos EUA à Anvisa, reiterou em 2006 que, quando inalado, o ozônio é um gás tóxico não indicado para uso médico.

A ozonioterapia está na lista das Práticas Integrativas e Complementares do SUS, que oferece outros tratamentos alternativos e sem eficácia comprovada, como "imposição de mãos" e "constelação familiar". Entretanto, com a disposição do CFM, a terapia não pode ser administrada por médicos.

'Efeito placebo'

Em entrevista ao VivaBem Hoje, Leonardo Tessler, físico, professor da Unicamp e divulgador científico, explica que, segundo estudos feitos pela FDA, os efeitos causados pela terapia não são maiores do que os provocados por qualquer placebo e o ozônio ainda pode causar efeitos colaterais indesejados, justamente pela toxicidade da substância.

"A pessoa que alega que se curou por ozonioterapia é aquela que se curaria de qualquer forma", afirma Tessler.

Ele ainda explica que quando aplicado diretamente no corpo humano, o ozônio se perde, virando oxigênio. Isso acontece porque quando utilizado em laboratório, o ozônio passa por um processo complexo para que seu volume seja aumentado.

"Se você injetar de forma subcutânea você pode ter irritação, numa veia, você causa embolia, já que está injetando oxigênio na veias", explica.

O texto aprovado no Senado ainda precisa ser sancionado pelo presidente Lula.

*Com informações de reportagem de 11/12/2022.