'Sai cocô pela minha vagina': jovem relata saga para diagnosticar fístula
Após meses sentindo dores e percebendo que tinha escape de gases e fezes por sua vagina, a influenciadora Bianca Brandt, 22, finalmente descobriu o que tinha: uma fístula perianal. Em uma série de vídeos publicados em seu perfil no TikTok, ela contou a saga para encontrar o diagnóstico correto. "Cheguei a ser chamada de hipocondríaca."
O problema começou quando ela passou a sentir dores na região do períneo. Ela foi diagnosticada com bartolinite, uma inflamação de glândulas localizadas nos dois lados da abertura vaginal, na parte mais interna dos lábios vaginais. Realmente, ela chegou a ter cistos naquela área, que foram drenados por ela mesma no banho. Entretanto, Bianca começou a perceber escapes de fezes e gases por sua vagina.
"Comecei a ficar desesperada e percebi que realmente tinha alguma coisa que ninguém estava conseguindo encontrar, então devia ser complicado", disse em um dos vídeos.
Estava saindo cocô pela parte da frente toda vez que eu ia ao banheiro. Nenhum médico era capaz de me falar o que estava acontecendo porque aparentemente minha fístula era muito pequena, muito difícil de ser identificada.
Após meses, Bianca finalmente encontrou um médico que pediu exames adequados. "Foi o único que me deu algum tipo de atenção e cuidado. Mas ele me disse que eu não tinha fístula retovaginal, e sim uma perianal. Enquanto a primeira é uma comunicação entre o reto e a vagina, a perianal sai do ânus e pode ir para algum lugar, que pode ser pele, bumbum e, no meu caso, para meu infortúnio, foi para vagina", disse.
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O médico descartou que o início do problema tenha sido bartolinite, mas sim um cisto na região anal, considerando que a jovem tem um intestino mais irritado. "Além dos exames, ele passou orientações, como não comer muita pimenta ou coisas que desandem o intestino, porque pode fazer o cisto voltar. Isso pode gerar uma outra fístula. Tomar bastante água, não usar papel higiênico, só ducha", disse ela em um dos vídeos.
Chorava de felicidade quando saí [do consultório], porque era uma conclusão positiva, melhor do que eu estava imaginando. A gente se sente menos mulher. Me senti muito mal nesses últimos meses.
Fístula: desvendando a condição
A fístula ocorre quando há qualquer comunicação anormal entre órgãos. É possível ter, por exemplo, entre a bexiga e o intestino, entre o estômago e o intestino. No caso da fístula anal, existe uma comunicação anormal entre, geralmente, a pele e o ânus. Quando essa comunicação se faz para outros órgãos, no caso entre o ânus e a vagina, ocorre a fístula retovaginal; se é uma comunicação com a pele do ânus, fístula anal; quando há uma passagem anormal entre a pele próxima ao ânus e o reto, fístula perianal.
De acordo com o coloproctologista Alexandre Nishimura, uma das causas mais comuns de fístulas anais é a presença de abscessos perianais. No entanto, outras condições médicas, como doença de Crohn, tuberculose, HIV e fissuras anais, também podem contribuir para o desenvolvimento dessas fístulas.
Impacto na qualidade de vida
As fístulas anais e retovaginais podem ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Além de causar desconforto físico, essas condições frequentemente resultam em constrangimento social, infecções recorrentes e alterações emocionais. E o constrangimento devido à presença de secreção e odor fétido pode ser grande, prejudicando a autoestima e os relacionamentos.
"Além da saída de secreção de pus, sangue, fezes, o paciente pode ter muita dor no local, inchaço e sensação de calor local", conta o coloproctologista Fernando Bray.
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Diagnóstico e tratamento
Para diagnosticar a fístula, os especialistas destacam a importância de exames de imagem como ressonância magnética e ultrassom endoanal. Esses dois modelos permitem avaliar o trajeto que está sendo feito. Também é feito o diagnóstico via exame físico como o toque retal e anoscopia, exame que permite avaliar diretamente o ânus, o canal anal e a ampola retal. Em casos de fístula retovaginal, o paciente também pode fazer um exame ginecológico.
"A paciente que tem fístula vai ter saída de alguma secreção. Quando essa comunicação vai para a vagina, a secreção pode ser pus, podem ser fezes, porque você está passando conteúdo de um órgão para o outro", explica Maristela Almeida, coloproctologista.
Já o tratamento é baseado em uma abordagem multidisciplinar, com métodos clínicos e cirúrgicos. Em casos clínicos, são recomendados banhos de assento, ajustes na alimentação e higiene, além de antibióticos quando há infecção. Em situações cirúrgicas, várias técnicas minimamente invasivas estão disponíveis para promover a cicatrização e a recuperação pós-operatória.
Conscientização e suporte
Almeida reforça que para as pacientes que enfrentam essa jornada, o suporte psicológico desempenha um papel vital. O impacto emocional pode ser significativo, e o aconselhamento psicológico integrado ao tratamento pode auxiliar na adaptação à nova realidade e na recuperação da autoconfiança.
Além disso, a conscientização sobre essas condições é fundamental para combater o estigma e garantir que as pacientes busquem ajuda. Nishimura pontua a importância de disseminar informações responsáveis, especialmente por meio de influenciadores e figuras públicas que quebram tabus e abordam questões de saúde com naturalidade.
Compartilhar experiências de saúde a fim de alertar é um ato de coragem e de responsabilidade social. Os médicos incentivam todas as pessoas, famosas ou não, a se libertarem do constrangimento e a se engajarem em conversas abertas sobre condições de saúde.
"Deixe a vergonha de lado e, além de procurar atendimento médico para tratar dos problemas anorretais, comece a debater naturalmente sobre isso para que mais pessoas sejam ajudadas com estas informações e experiências de vida", diz Nishimura.
Fontes: Alexandre Nishimura, médico pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, especialista em cirurgia geral na Santa Casa de Valinhos, em São Paulo, e em coloproctologia no Hospital dos Servidores Públicos Estaduais e também no Hospital Israelita Albert Einstein, ambos na capital paulista; Fernando Bray, coloproctologista do Hospital Santa Catarina Paulista, graduado em medicina pela PUC-SP e especialista em cirurgia do aparelho digestivo e cirurgia geral pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo, mestre em ciências da saúde, focado na área de câncer colorretal; Maristela Almeida, coloproctologista do Hospital Edmundo Vasconcelos e médica assistente do Hospital do Servidor Público Municipal, graduada em medicina pela Universidade Federal de Alagoas, mestre em cirurgia do aparelho digestivo pela Faculdade de Medicina da USP e doutorado em ciências da saúde também pela Faculdade de Medicina da USP.
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