Vacina contra o HPV: quem não tomou na adolescência ainda pode se imunizar?
A vacina contra o HPV (papilomavírus humano) reduz a ocorrência de verrugas genitais e pode garantir proteção de até 70% contra o câncer de colo útero, quarto tipo mais comum entre as mulheres em todo o mundo. O imunizante ainda ajuda a reduzir o risco de outros cânceres, como anal, de boca e garganta, de pênis e de vulva e vagina.
Para que essas vantagens sejam 100% aproveitadas, no entanto, estudos comprovam que a imunização deve ser feita antes do início da atividade sexual e do primeiro contato com qualquer tipo de HPV. No Brasil, onde a vacina está disponível gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde) há cerca de 15 anos, a indicação principal é para meninas e meninos de 9 a 14 anos.
Mas e quem não foi imunizado na infância ou adolescência? Ainda dá tempo de tomar a vacina e garantir alguma proteção contra o vírus que infecta aproximadamente 80% das pessoas que já tiveram relação sexual?
A resposta é sim. Quem se vacina na idade adulta fica protegido dos subtipos de vírus pelos quais ainda não foi infectado —são mais de 150— e tem risco diminuído de recorrência de lesões pré-cancerosas e cancerosas.
A vacina continua sendo, sim, extremamente útil para a população adulta, especialmente porque qualquer pessoa sexualmente ativa está em risco de contaminação pelo HPV Mônica Levi, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações)
Além disso, segundo a especialista, a imunidade gerada pela infecção causada por alguns tipos do vírus, como o HPV16, não dura para sempre. Portanto, como hoje a vida sexual das pessoas é cada vez mais prolongada, tomar a vacina na vida adulta garante um reforço na proteção contra alguns tipos de HPV.
"Mas é importante não criar falsas expectativas e lembrar que não se trata de um tratamento para quem tem doenças relacionadas ao HPV", ressalta Levi.
Para imunocomprometidos, como transplantados e pacientes sob tratamento oncológico ou com HIV, a vacina tem importância extra e é oferecida pelo SUS.
Vacinas disponíveis
No SUS, a vacina oferecida é a quadrivalente (HPV4), que protege contra os quatro subtipos mais frequentes do HPV: 6, 11, 16 e 18 —os dois primeiros, causadores de verrugas anogenitais e de baixo risco; e os últimos, de alto risco para o desenvolvimento de câncer.
O imunizante deve ser tomado em duas doses, com intervalo de seis meses entre elas. Lembrando que a vacinação está disponível para meninas e meninos com idade entre 9 e 14 anos —o ideal é tomar antes do início da vida sexual.
Já na rede privada, está disponível a vacina nonavalente (HPV9), que protege contra nove tipos de HPV. Ela é eficaz contra os mesmos subtipos da quadrivalente, além dos subtipos 31, 33, 45, 52 e 58, responsáveis por 15% dos cânceres cérvicouterinos. As duas doses custam cerca de R$ 1.000.
Ambas estimulam o sistema imune a produzir anticorpos contra o vírus HPV, reduzindo o risco de desenvolver verrugas e lesões. Mais moderna, a HPV9 oferece proteção superior: até 90% contra contra o câncer de colo de útero, que, segundo estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer), deve somar 17.010 novos casos no país em 2023.
"A vacina do HPV é extremamente segura e, a princípio, é recomendada até os 45 anos de idade, mas não existe nenhuma contraindicação de ser dada a ninguém", diz Ana Katherine da Silveira Gonçalves de Oliveira, professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
"As únicas ressalvas são alergia aos componentes e não tomá-la durante a gestação", diz Edson Teixeira, professor da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará). "Caso a mulher tenha se vacinado antes de descobrir a gravidez, a segunda dose é adiada para 45 dias após o parto."
Os efeitos adversos observados em quem toma são leves e costumam incluir dor, febre, inchaço e vermelhidão.
Além da vacinação
Vale lembrar que o uso correto de preservativo é uma estratégia importante para a prevenção dessa e de outras infecções sexualmente transmissíveis.
Mas, atenção: a camisinha não protege totalmente contra o HPV, já que a transmissão pode acontecer mesmo sem penetração, pelo contato com a pele de áreas não protegidas —o que torna a vacinação ainda mais importante.
Para as mulheres, também é recomendada a realização de triagem para câncer cérvicouterino (o teste HPV-DNA detecta cepas de alto risco) e de papanicolau, que detecta alterações nas células do colo do útero, permitindo tratamento antes do desenvolvimento do câncer. Este último exame deve ser feito anualmente por mulheres entre 25 e 59 anos e, após dois resultados normais seguidos, a cada três anos.
A infecção pelo HPV, na maioria dos casos, é assintomática.
OUTRA FONTE CONSULTADA: Helga Marquesini (sexóloga e ginecologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo).
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