'Fui furada no braço durante o Carnaval e tive de fazer teste de HIV'

A auxiliar administrativa Letícia Almeida de Araújo, 18, conta que estava em um show na Praça do Carmo, em Olinda (PE), durante o Carnaval, quando sentiu uma "queimação" no braço direito.

Ela pensou que era o contato com um cigarro, mas logo reparou em um furo pequeno no braço. O caso aconteceu no dia 9 de fevereiro.

Na hora, não consegui olhar direito, mas, quando encontrei um lugar mais calmo, vi que tinha um furo, com um pouco de sangue. Já tinha ouvido falar desses casos [carimbadores]. Vi o furo e pensei 'e agora?'

Letícia percebeu furo com sangue no braço
Letícia percebeu furo com sangue no braço Imagem: Arquivo pessoal

O que aconteceu

Assim que notou o furo no braço, Letícia procurou um policial que estava na rua para saber o que poderia fazer. Ela recebeu a orientação de procurar um posto de saúde.

No local, os funcionários disseram que não poderiam ajudá-la e que ela deveria ir ao Hospital Correia Picanço, em Recife. Ela só conseguiu fazer isso no dia seguinte.

Com as festas, não tinha como pegar um Uber em Olinda, os táxis estavam caros. Era impossível. Na manhã do dia seguinte, fui ao hospital e recebi todo atendimento.

Fiz todos os exames de sangue, rapidamente, para HIV e hepatite, e todos deram negativos. Mas a médica explicou que algumas só poderiam aparecer depois de 30 dias ou mais.
Letícia

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Medicação por 28 dias

Letícia, que é de Santa Cruz (PE), está tomando medicações que fazem parte da PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV): uma medida de prevenção à infecção pelo HIV. É possível, incluir ainda, outras estratégias focadas em hepatites virais e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).

Hoje, é a primeira opção para quem vive com HIV, mas também é o esquema para evitar o HIV. O protocolo também é indicado em algumas situações como violência sexual, acidente com material biológico ou exposição sexual consentida com o rompimento do preservativo.
Mateus Ettori Cardoso, infectologista no Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS (SP)

Na PEP, os medicamentos devem ser tomados durante 28 dias, sem interrupção, sob orientação médica após avaliação do risco. O tratamento deve ter início nas primeiras duas horas após a exposição de risco e no máximo em 72 horas.

Depois que completar os 28 dias, vou repetir meus exames e, após 90 dias, de novo. Inclusive, a médica comentou de mais casos que chegaram lá, alguns são de uma época fora do Carnaval.

Estou mais tranquila por ter procurado o atendimento rapidamente. Vi os furos e, no dia seguinte, já estava tomando as medicações. Letícia

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A eficácia da PEP é de 95%, desde que o tratamento seja seguido corretamente, segundo dados do Ministério da Saúde. As medicações podem causar efeitos colaterais, como dor de cabeça e problemas intestinais, mas, na maioria dos casos, eles não costumam aparecer —ou somem rapidamente.

Casos no Recife e em Olinda

A Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco registrou 29 atendimentos a pacientes furados por agulhas entre os dias 9 e 15 de fevereiro. Segundo os relatos, eles foram vítimas de lesões provocadas por agulhas em diversos focos de folia no Recife e em Olinda.

Dos 29 pacientes, 16 eram mulheres e 13 homens. Entre os locais de ocorrência, a maioria foi no Recife (no Galo da Madrugada e no Marco Zero) e houve ainda 11 casos em Olinda.

Em 2020, pelo menos 41 foliões foram vítimas de agulhadas dadas por pessoas não identificadas, entre os dias 15 e 23 de fevereiro, segundo a secretaria. Os registros ocorreram durante as festas de Carnaval em Recife, Olinda e Orobó (PE).

Não se sabe se as agulhas estavam ou não contaminadas. Popularmente, pessoas que saem furando indivíduos com objetos pontiagudos, como seringas e agulhas, com objetivo de passar doenças, são chamadas de "carimbadores". O termo também diz respeito ao grupo que faz sexo sem camisinha e sem mencionar o HIV aos parceiros, no intuito de transmitir o vírus.

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