Como reconhecer que você está sendo 'atacado' por vermes e o que fazer
Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem*
09/03/2024 04h00
Você se lembra do filme de 1990 "O Ataque dos Vermes Malditos"? Pois saiba que os vermes da vida real, embora muito mais silenciosos, podem ser igualmente perigosos —e enormes.
Capazes de infectar humanos, "tênia suína" (Taenia solium), "tênia do peixe" (Diphyllobothrium latum) e "tênia bovina" (Taeniorhyncus saginata) podem medir, respectivamente, 7, 13 e 15 metros de comprimento.
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No Brasil, os dados sobre os parasitas mais comuns de serem encontrados nos intestinos das pessoas são muito precários. As últimas pesquisas mostram prevalência do grupo dos helmintos em todo território nacional e infecção principalmente por, em ordem, Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, ancilostomídeos e Schistosoma mansoni.
Mas há muitos outros que se alojam ainda em pele, fígado, cérebro, pulmões e coração. A via de entrada pode ocorrer pela ingestão de ovos ou larvas em água ou alimentos infectados (frutas, legumes e verduras sem higienização correta); carne malpassada ou crua de algum hospedeiro intermediário; uso de roupas íntimas, de banho e cama contaminadas; penetração da pele em contato com solo sujo de resquício de fezes e até por picadas de mosquito Culex.
Náuseas, convulsões e pele mapeada
Em uma relação com vermes, você sempre levará a pior. Eles só querem se apropriar de seus nutrientes, biomoléculas e maquinaria metabólica para se desenvolverem e cumprirem seu ciclo evolutivo. Retribuem com doenças (verminoses), entre elas a esquistossomose, também conhecida por barriga-d'água, uma das mais disseminadas em regiões tropicais e precárias.
Na fase aguda, seus sintomas são típicos de uma infecção intestinal (febre, fraqueza, diarreia). Pode causar até mesmo eliminação de sangue nas fezes. Já na fase crônica, a doença danifica fígado, baço, retém líquidos, prejudica o desenvolvimento de crianças e aumenta o risco de câncer de bexiga.
Outra patologia causada por vermes, do tipo solitária, e que atinge o sistema digestivo é a teníase. Ela pode ser assintomática, ou não, e aí se manifesta como disenteria, vômitos, enjoos e leva à perda de peso. Mas acredite, a infecção por sua forma larval é ainda pior. Causa a cisticercose ou a neurocisticercose quando é encaminhada para cérebro ou medula espinhal.
Provoca inflamação, dor de cabeça, crise convulsiva e déficits. Em alguns casos, o paciente desenvolve até epilepsia de difícil controle. Caso o parasita morra no órgão, ele se calcifica.
Há vermes que também devoram sangue humano e geram anemia e lesão pulmonar, como Necator americanus, enquanto outros prejudicam a circulação e podem predispor elefantíase, a exemplo de Wuchereria bancrofti.
O mais comum que ataca a pele é o bicho geográfico, ou larva migrans cutânea, de parasitas que habitam o intestino de cães e gatos e que ao penetrar pela pele causa muita coceira e uma lesão linear como um mapa.
Como detectá-los e tratar?
Se na ficção vermes que emboscam seres humanos são identificados por vibrações no solo e combatidos com armas, na vida real é muito diferente. Segundo os médicos, primeiro é preciso suspeitar e investigar sua presença na ocorrência e persistência dos sintomas citados, além de outros, como coceira retal intensa (comum em oxiurose), e principalmente havendo condições de risco, devido à falta de saneamento básico e de conscientização sobre hábitos higiênicos.
Para se chegar a um diagnóstico, os principais caminhos são exame parasitológico de fezes e coprocultura — que são, ainda hoje, eficazes, de baixo custo e aplicáveis em qualquer região do país. Em se tratando de oxiurose, em que os ovos são liberados pelo ânus, podem ser utilizados para coleta swab anal ou fita gomada.
Os pacientes também são analisados clinicamente e, em casos dermatológicos, podem ser utilizados recursos como dermatoscopia (exame feito com um aparelho que funciona como lente de aumento) e ultrassonografia, que permite visualizar estruturas internas do organismo, da pele e detectar larvas. Já para neurocisticercose, usa-se a ressonância.
Por fim, entram os tratamentos com vermífugos, preferencialmente com a possibilidade de erradicação múltipla, pois a maioria dos infectados costuma ter mais de um tipo de verme alojado. Em quadros de oxiurose, independente de sintomas, deve-se ampliá-lo para toda a família e havendo inflamação, infecções e convulsões tratar com medicamentos específicos.
Além disso, é complementar a orientação sobre bons hábitos de higiene (lavar bem mãos e alimentos frescos antes de comer, ferver água sem tratamento, manter unhas cortadas), evitar o consumo de carnes cruas ou malpassadas, assim como não andar descalço em locais suspeitos como terra e areia onde bichos frequentam.
Fontes: Júlio Barbosa Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião especializado pela UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles); Luana Luz, gastroenterologista pelo Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo); Maria de Fátima Maklouf Amorim, dermatologista e coordenadora de pós-graduação na Afya Educacional; Raymundo Paraná, professor de gastro-hepatologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia); e Solange Gomes, médica pela USF (Universidade São Francisco) e dermatologista da Clínica Ideal e Central Nacional Unimed.
*Com matéria publicada em 20/10/2021