Dor no pé da barriga pode ser sinal de doença ou gravidez; como diferenciar
Ardência, sensação de peso, cólica e pontadas são algumas das queixas que as pessoas com dor no baixo ventre costumam citar ao procurar ajuda. Popularmente conhecida como "dor no pé da barriga", ela pode ter relação com fatores diversos, que vão desde sintomas de gravidez a um diagnóstico mais sério, como endometriose, infecção urinária e outros.
Inclusive, pode ser que o órgão prejudicado nem seja na região, mas que a dor irradie até ali. Por isso, tanto o diagnóstico quanto o tratamento requerem caminhos diversos para serem mais assertivos, o que se torna um desafio para os profissionais da saúde.
Possíveis causas da "dor no pé da barriga"
Qual o primeiro passo para diagnosticar de onde a dor está vindo? A entrevista realizada com o paciente para determinar o ponto inicial do diagnóstico costuma apontar três direções:
- Intestinal - avalia se a dor tem relação com hábito intestinal, por exemplo, se alivia com a evacuação ou se há evacuação incompleta (em que permanece com a sensação de intestino cheio após a evacuação), se há presença de muco ou sangue nas fezes;
- Ginecológica - observa se a dor altera durante o ciclo menstrual ou se existe desconforto na relação sexual, corrimento e alteração de fluxo menstrual;
- Urinária - analisa se há dor durante o xixi, assim como a diminuição do jato urinário, dificuldade na micção e alteração da cor da urina.
Isso significa que a diferenciação da dor é feita a partir das queixas que a pessoa relata, além da presença de febre, vômito e sangramento, que podem ser fatores agravantes. Combinados a esses relatos, são realizados exames que ajudam em um diagnóstico mais preciso. Entre eles, estão os exames laboratoriais ou de imagem, como hemograma, urina e ultrassonografia abdominal.
Diagnósticos mais frequentes para a "dor no pé da barriga"
Por mais variados que possam ser os diagnósticos, as principais causas da dor aguda e imediata no baixo ventre nas pessoas que chegam ao pronto-atendimento são: apendicite, cistite, gastroenterite, doença inflamatória pélvica, gravidez tubária rota, torção ovariana e cisto ovariano roto.
Por outro lado, constipação, diverticulose, intolerância à lactose, síndrome do intestino irritável e endometriose já se enquadram nas dores com maior tempo de evolução. De maneira mais detalhada, explicamos as causas mais frequentes e possíveis tratamentos:
- Cistite - vem acompanhada da sensação de ardência ao urinar e micção de mais frequência, mas em pequeno volume. Para tratar, é necessária a medicação antibiótica.
- Gastroenterite - náusea, vômitos, diarreia e febre fazem parte desse quadro. A hidratação é parte fundamental do tratamento, que pode incluir ou não antibióticos.
- Doença inflamatória pélvica ou infecção do endométrio, tubas uterinas ou ovários - aparecem corrimento vaginal, sangramento e desconforto após relações sexuais. Para tratar, é necessário antibioticoterapia e, em alguns casos, cirurgia.
- Gravidez - por si só pode ser uma causa, seja pela distensão dos ligamentos do útero que cresce ou pela movimentação e posição fetal. Além disso, algumas doenças da gravidez, como pré-eclâmpsia ou descolamento prematuro de placenta, também resultam em dor abdominal. No entanto, para que o diagnóstico tenha mais precisão, é muito importante a avaliação de um médico ginecologista ou obstetra.
Algumas das situações em que o quadro pode evoluir para cirurgia são apendicite, diverticulite, gravidez ectópica, cistos hemorrágicos de ovário, endometriose, hidrossalpinge —que é uma obstrução das tubas uterinas—, cálculo renal e hérnias.
Atenção, mulher
Você já ouviu falar da Síndrome de May-Thurner? Uma doença até então considerada rara, passou a ser detectada mais facilmente com o avanço das tecnologias. A síndrome é a principal responsável pelo aparecimento das varizes pélvicas, que também são acompanhadas da dor no baixo ventre. Ainda que ela possa se manifestar em pessoas de qualquer sexo e idade, as mulheres contemplam 72% dos casos.
A Síndrome de May-Thurner acontece quando há compressão da veia ilíaca esquerda pela artéria ilíaca direita ao se cruzarem na pelve. Com o tempo, isso resulta em varizes pélvicas, no membro inferior esquerdo e trombose venosa profunda. Além da dor, a sensação de peso e o latejar no lado esquerdo são comuns.
O diagnóstico é feito a partir de exames de ultrassonografia e ressonância magnética, enquanto o tratamento é endovascular, por meio da angioplastia venosa. Para amenizar o quadro, o profissional esclarece que é necessário cuidar do sedentarismo e do aumento de peso, já que a prática de atividades físicas favorece a circulação sanguínea.
Quando procurar ajuda?
Por mais que a maioria das dores abdominais seja benigna, a avaliação médica é importante. Quando não há outros sintomas associados a esse desconforto no pé da barriga, os locais de pronto-atendimento são ideais para pacientes com dor intensa, dor de início súbito ou dor que não melhora.
Por outro lado, pessoas idosas, imunocomprometidas, com comorbidades graves, que passaram por cirurgia recentemente ou que têm algum sintoma de gravidade associado —como prostração, vômitos ou perda de consciência— também necessitam de atenção imediata. Nos demais casos, agendar uma consulta com médico generalista, de família, clínico geral ou até mesmo ginecologista, urologista ou gastroenterologista é ideal para que o problema comece a ser investigado.
Alimentação em meio à dor
Feijão, lentilha, grão-de-bico, soja, brócolis, repolho, couve, ovos e bebidas com gás são alguns dos alimentos que aumentam a produção de gases. Além disso, é importante que cada indivíduo monitore seu cardápio para entender o que contribui para aparecerem distensão abdominal, flatulências, diarreia ou constipação —como a ingestão de leite e derivados, por exemplo.
No entanto, não há uma cartilha capaz de resolver todos os sintomas, é necessário descobrir o grupo alimentar que desencadeia as possíveis crises, lembrando que a ansiedade também pode ser um fato agravante das dores.
Fontes: Alexandre Prado de Rezende, médico pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), cirurgião geral do Orizonti - Instituto Oncomed de Saúde e Longevidade; Ari Adamy Júnior, médico pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), urologista nos hospitais Santa Cruz e Sugisawa, ambos em Curitiba (PR); Danielle de Castro Kiatkoski, médica pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná e gastroenterologista pela FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia), representante da Fenacelbra (Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil) junto ao Ministério da Saúde para elaboração do protocolo para diagnóstico e tratamento da doença celíaca; Isabela Maciel Caetano, médica pela UFMG, ginecologista do Instituto Orizonti - Instituto Oncomed de Saúde e Longevidade; Lilian Lang, médica pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), ginecologista e obstetra pelo Hospital das Clínicas da UFPR; Ricardo Brizzi, médico pela FURB (Universidade Regional de Blumenau), angiologista e cirurgião vascular nos hospitais Badim, Israelita e Norte D'Or (PR).
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