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Tatuagem dá câncer e mais doenças? O que diz a ciência sobre riscos reais

Cuidados com higiene durante o procedimento são essenciais para evitar problemas de saúde Imagem: Reprodução/Pixabay

Do VivaBem, em São Paulo

22/06/2024 04h00

Riscos da tatuagem voltaram à tona nas últimas semanas após um estudo sueco associar os desenhos ao desenvolvimento de linfoma, tipo raro de câncer que afeta o sistema linfático, de defesa do corpo humano.

Entretanto, os próprios pesquisadores, da Universidade de Lund, apontaram a necessidade de mais investigações para cravar essa relação.

Riscos concretos da tatuagem estão associados à falta de higiene durante o procedimento, como não usar materiais descartáveis e tintas regulamentadas. No Brasil, inclusive, só três marcas são liberadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Tatuagem causa linfoma?

O estudo indicou risco 21% maior de pessoas tatuadas terem linfoma. O alerta é maior na faixa até dois anos após o procedimento, ou depois de 11 anos da tatuagem. A pesquisa, publicada no periódico The Lancet no dia 21 de maio, acompanhou todos os casos de linfomas malignos diagnosticados na Suécia em pessoas de 20 a 60 anos, entre 2007 e 2017.

Há uma explicação biológica para isso: as tatuagens causariam um processo inflamatório crônico. A inflamação ocorre quando o organismo detecta corpos estranhos. O "exército" de células de defesa é ativado para combatê-los, mas, quando o processo é crônico, cresce o risco de mutações nas células, causando câncer.

Além disso, a tinta usada na tatuagem pode ter substâncias tóxicas. Quando aplicada, ela penetra até à camada mais profunda da pele (a derme) para depois atingir a circulação, podendo chegar aos linfonodos (ínguas, gânglios ou caroços, onde ficam concentradas as células do sistema linfático) e causar alterações. O estudo confirmou a presença das tintas nas estruturas.

No entanto, isso não é suficiente para afirmar que tatuagem causa linfoma. "Não é cabível fornecer nenhuma recomendação sobre tatuagens e saúde com base nesse único estudo", disse Christel Nielsen, uma das autoras do estudo, ao site The Conversation. Ela afirmou que já desenvolve junto a colegas pesquisas sobre a relação da tatuagem com câncer de pele e doenças autoimunes (como problemas da tireoide e sarcoidose).

"Avaliar fator de risco para determinada doença é muito difícil, porque há variáveis envolvidas na vida daquela pessoa", diz Talita Silveira, onco-hematologista do A.C.Camargo Cancer Center (SP). "É preciso entender que na vida a gente assume riscos à saúde, assim como comer ou não ultraprocessados. Você tem que fazer escolhas durante todo o tempo."

O estudo é um alerta. Tem uma lógica biológica, mas ele mesmo conclui que não consegue estabelecer uma relação de causa-efeito. É diferente de poder afirmar, por exemplo, que cigarro aumenta o risco de câncer de pulmão. Talita Silveira, onco-hematologista

Achados do estudo também indicaram:

Não haver relação com o tamanho da tatuagem. Mesmo que os pesquisadores apontem incidência maior entre quem tem desenhos menores do que a palma da mão;

A análise sugeriu risco maior em quem tinha tatuagens pretas/cinzas do que em pessoas com desenhos coloridos;

O risco é maior para quem fez remoção a laser.

Equipe prepara mais estudos sobre os possíveis impactos da tatuagem à saúde Imagem: Reprodução/Unsplash

Tatuagem x câncer de pele

Não há evidências de que tatuagens causem ou aumentem o risco de câncer de pele. Porém, podem dificultar a identificação precoce das lesões suspeitas, principalmente desenhos que cobrem essas manchas. Isso preocupa, porque o rastreio no início aumenta as chances de sucesso no tratamento.

Fazer tatuagens em cicatrizes de um câncer de pele também não é indiciado. Como existe o risco de o tumor voltar nas bordas, é importante que a lesão esteja exposta e qualquer alteração fique evidente já nos primeiros sinais.

Alergias são um dos principais riscos?

Alergias são uma das reações mais comuns após fazer tatuagens. O processo ocorre em resposta a componentes químicos da tinta —geralmente, substâncias a que a pessoa já tinha histórico alérgico. Os principais sinais são:

  • Vermelhidão na pele;
  • Sensação de a pele estar mais grossa;
  • Descamação.

"Às vezes, a alergia ocorre contra um determinado tipo de pigmento. Então, se a tatuagem tem várias cores diferentes, podemos ver a reação apenas em algumas áreas nas quais foram utilizadas a tinta que a pessoa desenvolveu alergia", explica o dermatologista Denis Miyashiro, da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).

Alerta contra as infecções

Siga as orientações do tatuador de como higienizar a região tatuada e quando retirar os curativos Imagem: Reprodução/Unsplash

Infecções acontecem quando a tatuagem é feita sem as orientações de higiene adequadas. "Nessas situações, há a penetração de microrganismos na pele, levando ao inchaço, vermelhidão, dor e calor local", diz Miyashiro.

Podem existir infecções pelos vírus da hepatite e HIV, além de fungos e bactérias, por exemplo. Agulhas descartáveis diminuíram os casos, mas também é necessário usar porções individuais de tintas, descartadas a cada cliente. Isso porque a agulha pode transmitir o vírus para a tinta.

A complicação mais séria é a infecção. Se sentir dor intensa, se a área tatuada começar a inchar ou observar saída de secreção, deve-se sempre procurar atendimento médico. Se não diagnosticadas e tratadas rapidamente, as infecções podem levar a quadros graves. Denis Miyashiro, dermatologista

No que prestar atenção ao tatuar?

Existem apenas três marcas de tintas registradas pela Anvisa. Outros produtos são clandestinos, pois não garantem a ausência de substâncias tóxicas ou carcinogênicas (que causam câncer).

A Anvisa orienta sempre perguntar ao tatuador qual tinta é usada (incluindo observar a data de validade). As regulamentadas têm um número de registro no rótulo e são das marcas:

  • Starbrite Colors - Amazon Indústria, Comércio, Exportação e Importação de Produtos Especializados;
  • Electric Ink - Electric Ink Indústria Comércio, Importação e Exportação LTDA;
  • Iron Works - Brasil LTDA.

Se o produto for clandestino, a indicação é notificar a vigilância sanitária local ou a Anvisa (pelo número 0800 642 9782).

Mais orientações da agência indicam quais cuidados observar na hora de tatuar:

Luvas, agulhas, lâminas e outros dispositivos destinados a raspar pelos devem ser descartáveis;

O tatuador deve lavar as mãos antes e depois dos procedimentos;

Ao fazer a tatuagem, o profissional deverá usar luvas e máscaras descartáveis de uso único. É recomendável ainda o uso de proteção nos cabelos, avental e protetor ocular;

As agulhas finais de tatuagem (agulha+haste) deverão, depois de montadas, ser esterilizadas em embalagens individuais e abertas à vista do cliente;

É proibida ao profissional a prescrição e administração de quaisquer medicamentos (anestésicos, antibióticos, anti-inflamatórios e outros) por qualquer via de administração (tópica, oral, injetáveis e outras) aos clientes;

As tintas devem ser fracionadas para cada cliente, devendo ser descartadas as sobras.

Tatuador deve usar objetos descartáveis e, inclusive, porções individuais de tinta Imagem: Reprodução/Unsplash

Cuidados após a tatuagem

Tatuagem é uma ferida. Por isso, a boa cicatrização é essencial, inclusive para afastar riscos de infecção. O tatuador deve orientar quando retirar os curativos e como fazer a higienização correta.

Não é recomendado:

  • Tirar as casquinhas formadas na região;
  • Exposição solar direta;
  • Coçar a região;
  • Usar roupas justas, que geram atrito à região.

Referências: Anvisa; Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde; Secretaria de Saúde de São Paulo.

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