Autoteste ajuda a descobrir se a menopausa está chegando; dá para confiar?
Janaína Silva
Colaboração para VivaBem
23/06/2024 04h05
Nos EUA, já existe um autoteste para ajudar a mulher a identificar em qual fase do climatério ela se encontra. No Brasil, não há ainda pedido de regularização dele junto à Anvisa. No entanto, já é possível encontrar testes similares fabricados na China e comercializados em drogarias, com registro vigente e que também usam o nível do FSH (hormônio folículo estimulante).
Para se situar, o climatério compreende:
- a perimenopausa, fase na qual começam os primeiros indícios da falência dos ovários até 1 ano após a última menstruação (data que é chamada de menopausa)
- e a pós-menopausa que vai até os 65 anos, em média
A partir dos 45 anos, iniciam-se os primeiros sinais, como a irregularidade menstrual. Quanto mais próxima a menopausa, mais fenômenos são identificados: fogachos, cansaço, irritabilidade, insônia, alterações na pele e cabelo, perda de memória, ressecamento vaginal e diminuição da libido.
São sintomas que, muitas vezes, a mulher pode atribuir a outros fatores. Às vezes, está irritada ou dormindo mal por outro motivo pessoal e não chega a fazer essa associação com a menopausa, mas juntos têm um significado. Dolores Pardini, diretora do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia)
Conversamos com especialistas para entender a funcionalidade desse autoteste e se, de fato, ele é capaz de ajudar a mulher a saber sobre o fim do seu período reprodutivo, ainda repleto de dúvidas e estigmas.
Os autotestes
Realizados sem a intervenção de profissionais de saúde, os autotestes —cujas amostras são processadas em casa ou enviadas a laboratórios— oferecem triagem, diagnóstico, monitoramento ou informações sobre o risco de uma doença.
Gravidez, de ovulação para identificar o período fértil, de fertilidade masculina, HIV e covid-19 são alguns tipos encontrados em farmácias.
Pedro Saddi, médico patologista clínico e endocrinologista, e diretor regional da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial), explica que entre as possíveis vantagens deste tipo de teste estão maiores taxas de captação de doenças, economia de tempo e custos, e empoderamento do paciente.
O teste de menopausa mede o nível do FSH.
O FSH é um hormônio produzido na hipófise e é um dos sinalizadores de que a função reprodutiva está perto do fim, pois ele estimula a secreção de estrogênio, responsável pelo desenvolvimento e maturação dos folículos ovarianos.
O nível do hormônio aumenta à medida que ocorrem a falência ovariana e o esgotamento dos folículos.
Enquanto o teste dos EUA analisa 5 medições, comparando-as com informações pessoais, como a idade, em um aplicativo; os similares informam a concentração do FSH em uma medição única por teste.
E vale a pena?
O médico patologista e endocrinologista considera o autoteste para a perimenopausa e menopausa uma ferramenta de apoio, visto que o diagnóstico depende da análise de sinais e sintomas clínicos, além de exames laboratoriais para a verificação de mudanças hormonais.
Encontrei pouca literatura abordando os aspectos técnicos e científicos desse teste da transição menopáusica. Ele utiliza a informação do tempo de duração do ciclo menstrual, idade e cinco dosagens de FSH urinário para tentar determinar se está na perimenopausa. No laboratório, essa medição é feita no sangue, mas não há um único teste que, isoladamente, permita fazer o diagnóstico de perimenopausa e estabeleça o quão próximo a mulher está da menopausa. Pedro Saddi, médico patologista clínico e endocrinologista
Para a ginecologista e obstetra Lorena Porto Magalhães, tudo o que faz entender melhor o que acontece com o organismo é benéfico, entretanto nada substitui a interpretação e o acompanhamento médico.
Já na opinião de Pardini, não é indicado que a própria paciente faça esse autoteste, visto que dificilmente saberá interpretá-lo. "O resultado depende da fase do ciclo menstrual em que foi colhido. Se ela ainda estiver menstruando, vai acontecer na fase folicular; se perto da ovulação, teremos outro resultado. Então só vai gerar confusão."
Todos os especialistas indicam alimentação saudável, fazer exercício físico, ter sono adequado, cuidar da saúde mental e manter uma vida social com momentos de lazer. Esses cuidados devem ser tomados desde jovem.
"Se nunca fez nada disso, pode enfrentar problemas maiores nessa fase. O que não invalida que seja orientada a fazer tudo isso. A contribuição dessa mudança mais tardiamente talvez não beneficie tanto como se fosse de uma vida inteira", afirma a diretora da SBEM.
A reposição hormonal para a redução dos sintomas também é indicada, após a análise individual de cada paciente, com base em suas condições de saúde, exames de imagens e de sangue, avaliação metabólica e histórico.
Fontes: Dolores Pardini, diretora do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Lorena Porto Magalhães, ginecologista e obstetra na MCO/UFBA (Maternidade Climério de Oliveira da Universidade Federal da Bahia) e Hupes/UFBA (Hospital Universitário Professor Edgard Santos), sob gestão da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Marcelo Luis Steiner, ginecologista e obstetra, coordenador da residência médica de ginecologia e obstetrícia da FMABC (Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC), coordenador da comissão editorial da Revista Sobrac (Associação Brasileira de Climatério); e Pedro Saddi, médico patologista clínico e endocrinologista, e diretor regional da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial).