Por quanto tempo é normal sentir dor de cabeça? Quando pode ser algo grave?
Colaboração para VivaBem
07/08/2024 05h30
Uma noite mal dormida, uma refeição que não caiu bem, o exagero de bebidas alcoólicas, períodos de estresse, sinusite e até o uso de óculos com grau incorreto são situações do dia a dia que podem provocar uma dor de cabeça, que, às vezes, vem acompanhada de distúrbio visual, náuseas, vômito e secreção nasal (no caso da sinusite).
No entanto, a cefaleia (termo médico para dor de cabeça) duradoura, frequente e intensa pode ser um sinal de alerta do corpo e estar associada a quadros infecciosos, tumores cerebrais, meningite, hemorragia, entre outras doenças. Por isso, nada de ignorar esse desconforto que pode indicar um problema grave de saúde.
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Porém, cada caso deve ser avaliado por um especialista, que irá fazer o diagnóstico e prescrever o tratamento e o medicamento adequados. Somente o médico tem a competência para analisar o quadro dentro de tantas possibilidades, já que existem cerca de 150 tipos de dor de cabeça, que acometem entre 10% e 20% da população.
Diante dessa variedade, VivaBem conversou com especialistas para responder a algumas perguntas: por quanto tempo é normal sentir uma dor de cabeça? Em quais situações pode ser considerada um sintoma de problema grave de saúde? Um AVC (acidente vascular cerebral) ou um câncer podem provocar cefaleia?
Por quanto tempo?
A cefaleia primária, quando a dor de cabeça é o principal ou único sintoma, como nos casos de estresse, sinusite, má postura ou alteração no padrão do sono, costuma durar até uma semana, a depender daquilo que está servindo como gatilho. Já a enxaqueca, um tipo de cefaleia causada por uma predisposição neurobiológica, dura geralmente 72 horas.
Mas se a frequência da dor de cabeça é maior do que três dias por mês e sem um fator desencadeante específico; ou se uma crise de enxaqueca ocorre mais de uma vez por semana, procure um neurologista para fazer uma avaliação médica. Se não é o caso, mas mesmo assim, o incômodo da dor é tanto que chega a prejudicar a qualidade de vida e a atrapalhar a rotina das atividades diárias, também vale a pena consultar o especialista para entender o que pode estar acontecendo.
Intensidade e persistência
Até mesmo as dores de cabeça duradouras —com frequência igual ou superior a 15 dias por mês, ou que se prologam por anos, mas sem sintomas neurológicos— são geralmente indícios de cefaleia primária. Apesar de crônicas, não representam doenças com risco de sequelas ou letalidade. No máximo, impactam a qualidade de vida e, por isso, merecem acompanhamento médico para indicação de um medicamento que controle ou amenize o quadro.
Já nos casos de dor de cabeça aguda, isto é, de início súbito e persistente, e associada a convulsão e problemas relacionados à memória, a recomendação é a de procurar atendimento hospitalar com urgência.
A mesma atitude deve ser tomada na hipótese de cefaleia desencadeada pelo esforço físico, ou com a presença de febre sem origem reconhecida, ou com algum sinal neurológico como fraqueza em algum lado do corpo, desequilíbrio e falta de coordenação.
Em relação à intensidade da dor, ela pode ser consequência de uma enxaqueca, sinusite, neuralgia, entre outras causas. A potência da dor deve ser avaliada em conjunto com outros fatores, como forma de apresentação, duração e sintomas. A enxaqueca, por exemplo, costuma se manifestar como uma dor muito forte apenas de um lado da cabeça, associada à pulsação, náuseas, vômito e sensibilidade à luz e a cheiros —e não obrigatoriamente tem ligação com doenças sérias.
Quando pode ser grave?
Há casos em que a manifestação de sinais e sintomas é indicativo de problemas de saúde mais sérios e, por isso, merece atenção especial de um neurologista. Mas calma, não precisa ficar alarmado: nem toda dor de cabeça é reflexo de alguma doença grave.
A cefaleia de forte intensidade, de início súbito e que atinge o pico máximo em segundos pode ser a primeira manifestação de uma hemorragia cerebral, como o rompimento de aneurisma. A causa da dor é o extravasamento de sangue, que provoca uma irritação na membrana do cérebro.
Já a dor de cabeça persistente pode ser um sintoma clínico de um aumento da pressão intracraniana. Isso acontece no caso de tumores cerebrais, hidrocefalia, meningite e hemorragias, por exemplo.
Existe também a possibilidade de a cefaleia estar associada a quadros infecciosos e a doenças em algum órgão. Pensou no fígado? Os especialistas afirmam que associar um problema no fígado à dor de cabeça é mito. Segundo eles, o desequilíbrio neuroquímico em centros cerebrais responsáveis pela interpretação subjetiva do olfato e paladar sugere a falsa comparação.
Geralmente, a dor de cabeça surge pela ingestão de algum tipo de alimento ou pelo exagero de bebidas alcoólicas, sem relação direta com um problema no fígado. Além disso, a associação é impossível também em casos de enxaqueca, que é uma doença neurológica e, portanto, sem ligação com este órgão. Novamente, cada caso e os respectivos sintomas apresentados devem ser avaliados individualmente pelo especialista.
Prenúncio de um AVC?
A dor de cabeça pode também ser um sinal de AVC (acidente vascular cerebral), que decorre do extravasamento de sangue (quando é hemorrágico) ou por falta de circulação em uma área específica do cérebro (chamado AVC isquêmico). Entretanto, a cefaleia não é o principal sintoma, sendo os mais comuns a dificuldade motora repentina, perda de sensibilidade, paralisia de um lado do corpo e problema de fala.
Algumas situações e características da dor de cabeça podem indicar a manifestação de um derrame cerebral, por exemplo, quando ela deixa de ser eventual, sem motivo aparente, assim como de forte intensidade e súbita.
Cefaleia intensa acompanhada de confusão mental, fraqueza nos músculos, alterações na visão e na fala também são indícios de sintomas de AVC. O risco aumenta se associado a fatores como hipertensão, diabetes, tabagismo e sedentarismo.
Caso raro
Se o seu medo é que a dor possa indicar um câncer, respire fundo: um tumor no cérebro raramente provoca cefaleias intensas, a não ser em casos extremamente avançados em que o tumor atinge tamanho suficiente para provocar uma pressão dentro do crânio. É esta expansão intracerebral que gera o incômodo.
Efetivamente, os sintomas mais comuns do tumor cerebral são visão turva e embaçada, convulsões, náuseas, vômitos e falta de equilíbrio. Em todo caso, observe as mudanças do padrão e de frequência da dor de cabeça e os sinais de déficits neurológicos, e consulte um médico.
Crises na infância
Cefaleias persistentes durante a infância também devem ser investigadas, sobretudo quando a criança reclama da dor ou vomita quando acorda. A coexistência de sonolência excessiva e perda dos reflexos podem caracterizar um quadro de hidrocefalia ocasionado por um tumor cerebral, assim como crises epilépticas, paralisias e dificuldade de fala.
Vale uma apuração ainda mais cuidadosa se a dor de cabeça frequente em uma criança também estiver associada a alterações endocrinológicas que indicam puberdade precoce, além de sede excessiva e grande volume e frequência urinária.
Fontes: Ricardo Santos de Oliveira, neurocirurgião pediátrico e membro da SBNPed (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica); Aline Freire Borges Juliano, neurologista do UDI Hospital, da Rede D'Or São Luiz (MA); Vanessa Holanda, neurocirurgiã e diretora de Comunicação da SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia); Caio Vinícius de Meira Grava Simioni, neurologista do A.C Camargo Cancer Center.
*Com informações de matéria de abril de 2022