Fumaça de queimada faz mal: os graves impactos à saúde e como amenizar
As queimadas sobre o estado de São Paulo, que apenas na sexta-feira (23) atingiram o recorde diário de 1.886 focos, podem ter causado um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão, estimou o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mas estas cifras ainda não refletem um alto custo: a saúde da população que respira o ar saturado pela fumaça.
O mês de agosto já soma 3.480 queimadas, praticamente dez vezes mais que o mesmo mês de 2023, quando houve 352 incêndios. Em Ribeirão Preto, uma das cidades muito atingidas pelo fogo, quatro UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) registraram alta de 60% nos atendimentos no sábado (24) em relação a sábados anteriores — foram cerca de 3 mil pacientes. O domingo (25) também teve consultas acima da média, mas a alta foi menor, em torno de 10%, segundo dados obtidos pela Folha.
"Estamos nos preparando para segunda e terça atender muitas pessoas com problemas respiratórios em função da fuligem de sábado e domingo", informou o prefeito de Ribeirão, Duarte Nogueira (PSDB), ao jornal.
Quais os efeitos das queimadas na saúde humana?
Embora não sejam facilmente vistos, os minúsculos materiais particulados que ficam no ar após incêndios — especificamente, partículas que medem não mais do que 2,5 micrômetros (cerca de 30 vezes menor do que um fio de cabelo humano) — quando inalados, podem causar diversos danos.
A curto prazo, a exposição a estas partículas pode causar dificuldade para respirar, dor e ardência na garganta, rouquidão, dor de cabeça, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos, mas diversas pesquisas já mostram que os danos vão além disso: a fumaça pode prejudicar os pulmões, os vasos sanguíneos e o sistema imunológico. Quem mais sofre são crianças, idosos e portadores de doenças respiratórias.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature, "ao entrarem nos pulmões, as partículas aumentam a inflamação, o estresse oxidativo e provocam danos genéticos nas células de pulmão humano. O dano no DNA é tão grave que pode provocar incapacidade de sobrevivência ou a perda do controle celular, causando uma reprodução desordenada e evoluindo para câncer de pulmão".
"Embora em um primeiro momento outros órgãos não pareçam ser afetados, já sabemos que, de forma direta ou não, a fumaça tem relação com o aumento da prevalência de infarto, AVC, maior risco de câncer e até doenças crônicas", como explicou Guilherme Pulici, médico alergista a VivaBem em 2020.
Uma pesquisa publicada em 2018 no periódico Circulation confirma que a fumaça — e a poluição — causam danos ao coração, não só ao sistema respiratório. Mesmo baixos níveis de poluição já podem causar alterações no coração semelhantes àquelas observadas na insuficiência cardíaca.
O estudo revelou uma forte relação entre viver próximo a uma rua movimentada (e, por isso, estar exposto a dióxido de nitrogênio) e o desenvolvimento de ventrículos cardíacos direito e esquerdo aumentados. Os pesquisadores observam que o aumento do ventrículo desse tipo é frequentemente visto nos estágios iniciais da insuficiência cardíaca.
Usando material particulado fino (PM2.5) para medir partículas de poluição do ar, os cientistas descobriram que os ventrículos cardíacos aumentam em 1% para cada micrograma de PM2,5 por metro cúbico e para cada 10 microgramas por metro cúbico de NO2.
E não é só quem está perto dos focos das queimadas que pode ser afetado. Essas partículas de diferentes componentes químicos podem ficar suspensas no ar durante dias e com os ventos fortes podem ser carregadas para distâncias de milhares de quilômetros — inclusive, a fumaça de queimadas no Pantanal e na Amazônia nos últimos anos chegou a atingir estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e até outros países da América Latina, como Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai.
Dicas para quem mora em região onde há fumaça
- Manter uma boa hidratação, consumindo entre dois a três litros de água todos os dias;
- Evitar sair em horários nos quais a umidade do ar está baixa, geralmente entre 12h e 16h;
- Evitar, sempre que possível, a proximidade com incêndios;
- Manter os ambientes da casa e do trabalho fechados, mas umidificados, com o uso de vaporizadores, bacias com água e toalhas molhadas;
- Usar máscara ao sair na rua, evitar aglomerações e locais fechados;
- Optar por uma dieta leve, com a ingestão de verduras, frutas e legumes;
- Evitar banhos muito quentes e produtos com agentes químicos que tirem a umidade natural da pele;
- Utilizar hidratante após o banho para evitar que a pele perca água;
- Usar soro fisiológico para umidificar os olhos e o nariz constantemente;
- Evitar a prática de exercícios físicos entre 10h e 16h;
- Em caso de urgência, buscar ajuda médica imediatamente.
Por que São Paulo está pegando fogo?
A região passou por uma forte onda de calor logo após frente fria, o que tornou o ar seco e propício para que chamas se espalhem. No entanto, os incêndios que deixaram 46 municípios em estado de alerta não começaram naturalmente, acredita a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede). A Polícia Federal já investiga a situação a pedido do Ibama.
Pelo menos três pessoas já foram presas por suspeitas de provocar os incêndios, mas o governador Tarcísio de Freitas ressaltou que, até o momento, não é possível dizer se tratar de uma ação coordenada. "É preciso haver investigação. Tivemos de fato uma ação criminosa, três pessoas foram presas em flagrante (nas cidades de Rio Preto, Batatais e Porto Ferreira), pessoas que portavam gasolina e estavam realmente ateando fogo de forma criminosa. É difícil saber se houve uma ação coordenada, não nos parece que haja", acredita.
*Com informações de matérias publicadas em 23/09/2020 e 05/08/2018.
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