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Transplantados infectados: qual o risco de falso negativo em teste de HIV?

Testes de HIV são de alta performance com risco muito baixo de falhas, se feitos corretamente Imagem: iStock

Do VivaBem, em São Paulo

15/10/2024 05h30Atualizada em 15/10/2024 12h56

O risco de um resultado falso negativo em testes para detectar o HIV é de 1%, afirmaram médicas ouvidas por VivaBem.

Seis pacientes transplantados foram infectados pelo vírus no Rio de Janeiro. A polícia apura fraudes do laboratório PCS Lab Saleme nos exames, que não indicavam a presença de HIV em órgãos dos dois doadores. Quando as infecções foram descobertas, em setembro, uma nova testagem com amostras de sangue que ficam guardadas comprovaram o resultado positivo.

"Esses testes de triagem, feitos rotineiramente para o diagnóstico, são exames de quarta ou quinta geração, muito modernos", explica a infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro das comissões de infecções em transplantes da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) e do SNT (Sistema Nacional de Transplantes).

Exceções são casos muito recentes de infecção (menos de 20 dias), naturalmente mais difíceis de serem rastreados.

O risco de falso negativo é de 1%. Ou seja, as chances de vir positivo em quem tem HIV são de 99%. A sensibilidade é muito alta.
Raquel Stucchi, infectologista

A alta sensibilidade se explica porque os exames captam tanto o vírus, quanto os anticorpos que o corpo produz contra a infecção. Por isso, são testes considerados de alta performance.

Transplante com HIV positivo é 'contraindicação absoluta' no Brasil

Há um protocolo de exames realizados antes de transplantes para rastrear vírus. No Brasil, são eles:

  • HIV;
  • HTLV (da mesma "família" do HIV);
  • Hepatites B e C;
  • Doença de Chagas;
  • Sífilis.

"Se positivos, alguns desses testes não contraindicam o transplante. Mas o HIV, hoje, é contraindicação absoluta" alerta a infectologista Wanessa Clemente, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Segundo ela, alguns países já permitem a doação de órgãos entre pessoas com o HIV positivo —nos Estados Unidos, por exemplo, isso acontece desde 2013. "Mas estamos falando daqui, e a recomendação brasileira é proibir", reitera Clemente.

O que aconteceu [no Rio de Janeiro] foi ou que o teste não foi feito, ou não sabemos se o laboratório tinha qualidade necessária para fazer os exames, que podem ter sido realizados fora de estrutura adequada.
Wanessa Clemente, infectologista

Nesta segunda-feira (14), o diretor-geral do departamento de Polícia Especializada do Rio de Janeiro disse que o laboratório "assumiu o risco de falha" ao reduzir a qualidade visando lucro.

"Houve uma quebra do controle de qualidade para a maximização de lucro, deixando de lado os reagentes que precisam ser analisados sistematicamente", disse André Neves em coletiva de imprensa.

O PCS Lab Saleme também não tem a certificação PALC, programa de qualidade da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial.

Pacientes não devem temer transplantes

Entidades médicas e o Ministério da Saúde consideram o erro grave. O Brasil é o segundo país que mais faz transplantes por ano, atrás dos Estados Unidos. Em 2023, foram 29.261 cirurgias, o maior número da história.

"Existe uma regulamentação feita pelo Sistema Nacional de Transplantes e a Anvisa para existir triagem no receptor e no doador. Isso é de conhecimento de todos os centros transplantadores", diz a infectologista Raquel Stucchi.

É inacreditável isso acontecer em 2024, porque é um protocolo muito bem estabelecido e do conhecimento de todos.
Raquel Stucchi, infectologista

Até por esse controle rígido, pacientes na fila do transplante não precisam temer falhas como a que aconteceu no Rio de Janeiro. "As equipes médicas precisam conversar e traduzir aos pacientes a seriedade que é o sistema de transplantes, que isso no Rio de Janeiro foi algo muito pontual", afirma a médica.

Também não há motivos para desconfiar da doação. "Isso não coloca em risco os processos de doação de órgãos e de sangue. Devemos continuar doando para devolver qualidade de vida a centenas de pacientes", pontua Stucchi.

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