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Hormônio do sono: o que é melatonina e pra quem se indica suplementar?

Suplementação de melatonina, substância que pode ser encontrada nas farmácias, deve ser feita com acompanhamento médico Imagem: iStock

De VivaBem*

29/10/2024 12h00

Dormir é uma necessidade fisiológica tão importante quanto comer ou respirar. Não à toa, nosso corpo é biologicamente programado para começar a desligar quando a luz ambiente começa a desaparecer —dando a deixa para relaxar e repousar no período da noite.

Isso só é possível porque há uma série de processos que se iniciam quando o sol começa a ir embora. Um deles é a liberação da melatonina, um hormônio produzido na glândula pineal, estrutura que fica bem no centro do cérebro.

É essa substância a responsável por avisar órgãos como estômago e fígado que é hora de desacelerar e se preparar para repousar. Mas não é só isso. Em paralelo, outros processos do corpo que só acontecem enquanto dormimos se preparam para começar. É o caso, por exemplo, da atividade cerebral que envolve a memória.

O problema é que, com o ritmo de vida do mundo moderno, com muitas horas em frente ao computador, aos smartphones e luzes artificiais acesas quando está escuro lá fora, nosso relógio biológico vem sofrendo para entrar nesse ritmo —provocando uma dificuldade para dormir ou manter o sono após deitar.

Não é à toa que o "hormônio do sono", como a melatonina também é conhecida, vem sendo buscado por muita gente que não consegue dormir direito. No entanto, ela não é indicada para todas as pessoas que têm dificuldade para dormir e pode, sim, apresentar alguns efeitos desagradáveis se for usada incorretamente.

A seguir, tire suas dúvidas sobre a melatonina:

O que é melatonina?

A melatonina é um neuro-hormônio, ou seja, uma substância química produzida pelo corpo que tem um efeito fisiológico específico.

Nesse caso, a melatonina é produzida na glândula pineal, localizada no centro do cérebro.

Para que serve a melatonina?

A melatonina tem como função regular o nosso relógio biológico, avisando ao corpo —e orientando o funcionamento de órgãos e do próprio metabolismo— quando é hora de dormir e quando é hora de acordar. É o chamado ciclo de sono e vigília.

Por isso, ela começa a ser liberada no nosso organismo no início da noite, quando a iluminação natural começa a cair, e tem seu pico de produção algumas horas após o anoitecer.

Quando o dia nasce e a claridade volta a surgir no horizonte, a melatonina deixa de ser produzida, preparando o corpo para despertar e seguir com as atividades diárias.

É possível dosar a melatonina?

Em exames de sangue, pode-se dosar o hormônio. No entanto, não existe um consenso de quais níveis de melatonina demonstrariam um déficit no organismo e uma necessidade de suplementação.

Na vitamina D, por exemplo, é possível dosar os níveis no sangue e suplementar casos específicos. Com a melatonina, porém, não funciona assim, sendo que o próprio envelhecimento faz diminuir os níveis do hormônio no organismo. Dependendo da hora do dia, os níveis despencam, não havendo um valor oficial que indica uma deficiência no paciente.

A melatonina pode curar insônia?

Não.

De cara, já vale deixar claro: não existe nenhuma diretriz médica que recomende a melatonina para o tratamento da insônia.

A dificuldade para dormir não é necessariamente causada por insônia: existem dezenas de doenças catalogadas na Classificação Internacional de Distúrbios do Sono. A insônia, assim como a apneia (ou Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono, como também é chamada), outra doença comum, está entre elas.

Por isso, antes de se automedicar, o recomendado é buscar ajuda de um especialista em medicina do sono para conseguir o diagnóstico correto e só então buscar a suplementação, se necessário.

A melatonina auxilia na perda de peso?

Não. Ao contrário do que eventuais propagandas e postagens em redes sociais possam prometer neste sentido, não existem estudos científicos comprovando que esse hormônio ajuda a controlar ou perder peso.

Quem pode tomar melatonina?

A melatonina é indicada por médicos para quadros específicos em que o indivíduo sofre por não produzir, produzir de forma errada, ou em quantidade insuficiente o "hormônio do sono".

É o caso, por exemplo, do distúrbio do ritmo circadiano, quando a liberação de melatonina ocorre fora do ritmo normal e faz com que o ciclo de sono e vigília do indivíduo fique desalinhado ao ciclo de claro e escuro da rotina diária.

Outro caso específico de recomendação para suplementar a melatonina é o transtorno comportamental de sono REM, em que a pessoa reage de forma física (gritando, chutando ou batendo, por exemplo) aos sonhos vívidos.

Há ainda algumas síndromes e também pacientes com TEA (transtorno do espectro autista) que podem apresentar alteração na produção de melatonina, necessitando de reposição para alcançarem uma melhor qualidade de vida.

No entanto, é importante ressaltar que o tratamento, em alguns casos, vai além da suplementação de melatonina. A exposição à luz do sol, por exemplo, é uma atitude simples que pode auxiliar o organismo a entender que é dia e diferenciar o período diurno do período noturno. Pequenas mudanças nos comportamentos nos hábitos do paciente, em especial relacionados a chamada "higiene do sono", podem melhorar o quadro, fazendo com que a suplementação de melatonina seja feita em menor quantidade ou até mesmo descartada.

Quem não deve tomar melatonina?

A substância não é recomendada para mulheres grávidas, lactantes (que estão amamentando) ou para crianças —apenas sob orientação médica. Segundo orientação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), embalagens da substância à venda devem conter advertência de que o produto não deve ser consumido por estes públicos.

Indivíduos com histórico de doenças autoimunes, problemas no fígado ou nos rins, convulsão, depressão, pressão alta ou diabetes também devem conversar com o médico de confiança para saber se podem ou não tomar o suplemento.

Como tomar melatonina?

Por ser sensível à luz, a melatonina, quando necessária, deve ser ingerida próximo à hora de dormir, de preferência com as luzes apagadas.

Onde comprar melatonina?

Após a liberação da Anvisa no final de 2021, a melatonina pode ser encontrada em comprimidos ou gotas nas farmácias e pode ser adquirida sem a necessidade de prescrição médica. Até então, a venda da substância só era permitida em farmácias de manipulação e com prescrição médica.

É perigoso tomar melatonina?

Até o momento, estudos não mostraram efeitos tóxicos no uso de melatonina por seres humanos.

No entanto, e embora a comercialização esteja liberada pela Anvisa, os especialistas não recomendam a automedicação.

Quais são os efeitos colaterais da melatonina?

Os efeitos mais comuns do uso da melatonina são excesso de sonolência durante o dia, tontura, dor de cabeça e náuseas. Em casos mais agudos, é possível haver alterações nas funções hepáticas e nos níveis de glicose e insulina.

Qual a dosagem recomendada de melatonina para dormir?

No Brasil, a Anvisa autorizou a venda de melatonina como suplemento alimentar para pessoas a partir dos 19 anos, em um consumo diário máximo de 0,21 mg. Porém, é possível encontrar no país produtos importados com dosagens entre 5 mg e 10 mg, muito superiores ao permitido pela legislação brasileira.

A dose de melatonina recomendada pode variar —para mais ou para menos— conforme o quadro do paciente. Por isso, e mais uma vez, os especialistas são unânimes ao afirmar que o melhor é buscar orientação médica antes de utilizar a substância.

Fontes: Alan Luiz Eckeli, professor do Departamento de Neurociência e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo); Andrea Bacelar, diretora da ABS (Associação Brasileira do Sono); Claudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Cristina Salles, responsável pelo serviço de Medicina do Sono no Hospital das Clínicas de Salvador e professora adjunta da EBMSP (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública); Dalva Poyares, médica certificada em Medicina do Sono pela Associação Médica Brasileira, pós-doutorada pela Universidade de Stanford (EUA) e título de especialista pela Sociedade Americana de Medicina do Sono e Associação Brasileira do Sono; Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

*Com informações de matérias publicadas em 01/01/2022, 28/01/2022 e 02/05/2022.

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