Para a população em situação de rua, a prioridade na pandemia não é se proteger da covid-19. Dia após dia a meta segue a mesma de sempre: encontrar comida e um local para dormir. Não há tempo para focar na saúde. Mas há quem dela se ocupe. E, geralmente, são entes públicos e privados que, de olho na vulnerabilidade do grupo, sabem que viver na rua é causa e consequência de muitas doenças.
Entre essas pessoas, a expectativa de vida é baixa, até 30 anos a menos do que a da população brasileira em geral —que vive, em média, 78,6 anos. Já a mortalidade é de cinco a dez vezes maior e, muitas vezes, ocorre por doenças preveníveis ou crônicas para as quais há tratamento. Apesar disso, estar nas ruas não retira o direito de essas pessoas terem acesso universal à saúde, garantido pela Constituição.
A elas também são garantidos os direitos à igualdade, equidade, dignidade humana e atendimento humanizado, além do respeito à vida, cidadania, condições sociais, diferenças de origem, raça, idade, gênero, orientação sexual e religiosa.
De olho na paulatina desvinculação dos moradores de rua dessas prerrogativas, movimentos comunitários passaram a reivindicar maior atenção à saúde dessa população no início da década de 2000.
O resultado dessas iniciativas foi o nascimento de uma estratégia de saúde pública denominada Política Nacional para a População em Situação de Rua. Dela, surgiram os Consultórios na Rua —serviço que atende de modo itinerante e in loco crianças, adultos e idosos e tem como objetivo ser uma ponte que leva os moradores de rua às redes de cuidados do SUS (Sistema Único de Saúde). Apesar disso, os desafios persistem.