Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Há 30 anos nascia a lenda Schumacher
A certidão de nascimento indica 3 de janeiro de 1969. Mas, para a F-1, a lenda nasceu há exatamente 30 anos, em 24 de agosto de 1991.
Naquela data, um sábado, Michael Schumacher entrou na pista de Spa-Francorchamps ao volante de uma Jordan verde e azul e deixou o esporte a motor boquiaberto: cravou a sétima posição no grid em sua estreia na F-1.
Há 30 anos, o automobilismo percebia que ali havia alguém especial.
Até a véspera, Schumacher nunca havia pilotado em Spa. Aliás, mentiu para seu primeiro chefe na F-1, Eddie Jordan.
"Ele me enganou. Antes da corrida na Bélgica perguntei se já tinha estado no circuito de Spa-Francorchamps. Quando se pergunta algo assim a um piloto, o objetivo é saber se ele já pilotou lá. Ele disse que sim. Só fui saber depois que a única visita de Michael ao circuito havia sido na companhia dos pais, quando criança, como turista", lembrou o irlandês num especial produzido pela BBC, no começo deste ano.
A história da estreia na F-1 começou semanas antes, quando o titular do carro #32, o belga Bertrand Gachot, foi preso por disparar gás paralisante no rosto de um taxista durante uma briga de trânsito em Londres.
Jordan foi atrás de substitutos e chegou a conversar com alguns veteranos, como Stefan Johansson e Keke Rosberg. Mas então apareceu Willy Webber, empresário de Schumacher, então apenas conhecido nos círculos do automobilismo alemão e do Mundial de Protótipos.
Schumacher, aos 22 anos, fazia parte de um programa de desenvolvimento da Mercedes, e Webber convenceu a montadora a lhe dar aquela chance na F-1.
Fazia sentido: a Jordan era uma equipe nova, mas bastante sólida, bem organizada, com história nas categorias de base. Em suma, bem diferente das dragas que disputavam pré-classificação e que normalmente vendiam vagas para estreantes.
A Mercedes emitiu um cheque de US$ 300 mil, que o irlandês aceitou feliz da vida. (Sim, o alemão também começou como um "piloto pagante").
Três dias antes dos primeiros treinos em Spa, Schumacher fez um único teste, em Silverstone. Foi quando mentiu para Jordan. Era uma terça-feira.
Na quinta, chegou ao circuito e encontrou uma série de manifestações pedindo a libertação de Gachot, ídolo local. Apresentou-se à equipe e pegou uma bicicleta para, enfim, percorrer o traçado de Spa. Na sexta, pilotou pela primeira vez por lá. No sábado, chocou a F-1.
Além do fato de ser uma estreia, o sétimo lugar do grid impressionou por dois motivos.
Primeiro, por se tratar de Spa, um dos circuitos mais técnicos e velozes da categoria cujo ponto alto é a Eau Rouge, que "separa os homens dos meninos".
Segundo, por ele ter superado pilotos do nível de Riccardo Patrese e Roberto Moreno e ter batido o companheiro, Andrea de Cesaris, por 7 décimos de segundo. À frente do alemão, aliás, só largaram os campeões mundiais Ayrton Senna, Alain Prost e Nelson Piquet, além de Nigel Mansell _que conquistaria o título no ano seguinte_, Jean Alesi e Gerhard Berger.
No domingo, a corrida do alemão durou quase nada. A embreagem quebrou após a largada e ele percorreu apenas alguns metros na pista.
Mas o recado estava dado. Tanto é que a Benetton o contratou já para a corrida seguinte, o GP da Itália, na vaga de Moreno: largou em sétimo e terminou em quinto, na frente do companheiro, Piquet.
O resto é história. Foram 306 GPs, 91 vitórias _a primeira delas, exatamente na Bélgica, no ano seguinte_, 68 pole positions e 7 títulos mundiais.
Uma lenda. Que hoje vive cercada de cuidados e mistérios. Mas que há exatamente três décadas fazia justamente o oposto: aparecia para o mundo.
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