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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Temporada de Hulk foi 'tapa de luva' em muita gente

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Rodrigo Coutinho

Rodrigo Coutinho é jornalista e analista de desempenho. Acredita que é possível abordar o futebol de forma aprofundada e com linguagem acessível a todos.

Colunista do UOL

11/12/2021 04h00Atualizada em 11/12/2021 10h05

Hulk foi o melhor jogador da temporada na América do Sul. Mesmo não chegando à final da Libertadores com o Atlético, se destacou na competição e foi protagonista na campanha que encerrou o jejum de 50 anos sem um título de Brasileirão. Nesta semana, disputa a final da Copa do Brasil contra o Athletico e pode mostrar o seu poder de desequilíbrio de novo. Provou que a narrativa presente por aqui em relação ao seu futebol estava totalmente errada.

O atacante do Galo foi um dos nomes mais massacrados depois da Copa do Mundo de 2014. De fato, ele, assim como grande parte daquela equipe, não fez um bom Mundial. Mas reduzir a análise da carreira de um jogador ao desempenho em uma competição de 30 dias, num contexto muito desfavorável coletivamente, é absurdamente equivocado, mas uma praxe em parcela relevante da torcida e da imprensa.

Não! Hulk nunca foi um jogador somente de força. Nunca foi um atacante ''grosso'', como era normalmente ''acarinhado'' pela opinião pública brasileira. Ao contrário também do que muita gente acha, o excelente 2021 não representa o melhor ano de sua carreira. Por mais que os 34 gols e 13 assistências dadas até aqui sejam impressionantes, o atleta já viveu formas física e técnica bem melhores.

Foi um atacante cobiçado e de alto nível no velho continente durante as quatro temporadas que passou no Porto. Chegou muito perto de ser negociado com gigantes de ligas mais competitivas que a portuguesa e venceu uma Europa League. Contratado pelo milionário Zenit, da Rússia, em 2012, seguiu como principal peça de um time que disputou os mais relevantes torneios de clubes do futebol de mais alto nível do Mundo.

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Hulk quando ainda jogava no Porto
Imagem: MIGUEL RIOPA/AFP

Só foi jogar na China depois dos 30 anos e passou quatro boas temporadas por lá. Quem acompanhou com atenção a carreira de Hulk sabia que, mesmo distante de sua maior potência, tinha bola para sobrar no Brasil. Em fevereiro, escrevi aqui neste espaço o que o atacante paraibano poderia oferecer ao Galo. E ele cumpriu a expectativa. Seria difícil não dar esse tipo de resultado.

O processo que acometeu boa parte da carreira de Hulk na turva visão de muita gente no Brasil foi e vem sendo repetido com diversos outros atletas. Fernandinho, Gabriel Jesus, David Luiz, Willian, Taison, Filipe Luís, Fred (volante do Manchester) e Roberto Firmino são bons exemplos recentes.

Jogadores que foram julgados por partidas ou momentos ruins com a seleção. Dados como incapazes e frágeis tecnicamente, mas que voltam ao futebol brasileiro e ''assustam'' pela qualidade acima da média. Alguns dos citados acima podem fazer esse mesmo caminho nas próximas temporadas. E o processo se repetirá.

Há quem diga, com razão, que o nível do futebol jogado aqui está abaixo da média europeia. Essa é uma constatação óbvia, mas não quer dizer que esses mesmos jogadores que voltam e assombram por aqui sejam fracos ou se enquadrem em chancelas dadas a eles de maneira limitada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL