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Paulo Chaccur

REPORTAGEM

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Angina: o que causa a dor no peito e pode ser sinal de problema no coração?

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Colunista do UOL

12/09/2021 04h00

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Desconforto, pontadas e a sensação de aperto no peito, mensagens do corpo de que alguma coisa pode estar errada na região do tórax. Complicações cardiovasculares? Gases? Azia? Problema respiratório? Todas estas opções são possíveis e há muitas outras para incluir na lista. Apesar de diferentes causas e níveis de gravidade, o que precisamos ter em mente é que a dor no peito não é algo a ser ignorado em nenhuma hipótese.

Dores no tórax revelam questões de saúde mais simples de serem resolvidas, como uma azia, excesso de gases no organismo e até dor muscular. Porém, são também um fator comum em muitos quadros de ansiedade e estresse, problemas nos pulmões e na vesícula, alterações gastrintestinais, a exemplo do refluxo gastroesofágico e da úlcera de estômago, além de representarem um forte indício de que há algo grave e sério acontecendo com o coração.

Angina x infarto

Quando o órgão tem sua função abalada, de modo geral, a angina de peito (ou pectoris) é um sintoma característico. Trata-se de uma dor, desconforto, pressão, ardor ou aperto na região do peito, o que muitos relacionam diretamente ao infarto agudo do miocárdio ou ataque cardíaco.

O que nem todo mundo sabe, no entanto, é que a angina pode ou não remeter a um quadro de infarto. Ambos são processos distintos. Isso porque é possível que a angina seja causada pela doença arterial coronária (DAC) ou se manifeste a partir de outras complicações que afetam o coração, como uma embolia, vasculite, dissecção coronariana, arritmias, estenose valvar aórtica ou sub-aórtica, síndrome do prolapso da valva mitral, entre outras.

Portanto, a angina é um provável alerta de que o coração não está sendo oxigenado adequadamente, mas nem sempre tem como consequência o ataque cardíaco. O tempo de duração, a intensidade da dor e a combinação com outros fatores e sintomas vão caracterizar a angina e revelar sua razão.

Como saber se realmente estou tendo um infarto?

O infarto agudo do miocárdio acontece por conta de uma isquemia cardíaca, ou seja, o bloqueio ou redução na circulação de sangue no coração devido ao acúmulo de placas de gordura nas artérias coronárias, responsáveis por irrigar o órgão —o que caracteriza a DAC.

Geralmente, obstruções nas coronárias têm como principal indício a angina de peito, dor que pode irradiar para costas, pescoço, mandíbula, ombros e um ou ambos os braços. Outros sintomas são a dor abdominal (possível de ser confundida com uma indigestão), dor de cabeça, tontura e vertigens, mal súbito ou desmaio, falta de ar, palpitações, fadiga extrema durante o esforço, transpiração intensa e repentina, náusea, vômito, dormência e sensação de formigamento.

O estado agudo do quadro dura cerca de 5 minutos, mas em alguns pacientes se estende por até 20. Os sintomas são crescentes e comumente pioram de forma gradativa por várias horas. O problema se desenvolve diante de alguns fatores de risco, entre eles o estresse, sedentarismo, histórico familiar ou de eventos cardíacos, diabetes, obesidade, colesterol alto, hipertensão e tabagismo. Já o grau de obstrução e os sintomas variam muito de acordo com cada caso e podem ser diferentes de pessoa para pessoa.

É possível, inclusive, que o indivíduo não apresente nenhum sinal prévio —nem mesmo a angina. A doença arterial coronária pode se desenvolver ao longo de muitos anos de forma progressiva e silenciosa. Estima-se que 25% dos infartos ocorrem sem apresentar indícios, somente sendo detectados através da realização de exames.

Excesso de gases

O excesso de gases é uma causa frequente de dor na região do tórax e em pessoas com obstipação intestinal (prisão de ventre). Com indicadores muito similares ao da angina de peito, costuma ser motivo de confusão. Dependendo do quadro pode gerar um grande mal-estar e desconforto físico, porém, aqui o problema é imensamente mais simples e fácil de ser resolvido e em nada ter a ver com o coração.

Os sintomas se manifestam porque o acúmulo de gases provoca inchaço e até a compressão de alguns órgãos abdominais, acabando por criar a dor que irradia para o peito, em pontadas agudas. Ela surge até repetidamente, por exemplo, ao nos dobrarmos para pegar algo no chão.

A explicação deste acúmulo de gases vem do processo de digestão e tem diversas origens: os gases estão presentes em alguns alimentos, são gerados por certos hábitos (fumar e mascar chicletes), se formam durante a fermentação daquilo que ingerimos para retirada das vitaminas e sais minerais por bactérias do intestino ou entram no corpo quando levamos o alimento à boca, momento em que engolimos ar (que vai para o estômago e intestino).

Azia

Mulher com azia, queimação, dor de estômago - iStock - iStock
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Casos de azia e angina também podem ser difíceis de distinguir. Mas novamente, tal qual o excesso de gases, a azia não tem impacto ou relação com o coração. A azia (ou indigestão ácida) acontece quando o ácido estomacal flui de volta ao esôfago. Ela causa uma sensação desconfortável de queimação ou dor no peito que pode subir até o pescoço e a garganta. Como o esôfago está localizado próximo ao coração, muitas vezes é difícil reconhecer de onde vem a dor.

De maneira geral, a azia ocorre pouco tempo depois de uma refeição, quando o indivíduo se deita ou dobra o corpo. Em alguns quadros é acompanhada por um gosto azedo na boca e de um conteúdo estomacal que vem para a parte de trás da garganta (regurgitação).

Apesar de não ter como consequência um evento cardíaco, se não for tratada, a azia pode acarretar problemas graves, como inflamação e estreitamento do esôfago, complicações respiratórias, tosse crônica e até mesmo câncer.

Ainda na área digestiva

Vale destacar que outras questões que envolvem o sistema digestivo também causam a dor no peito e se assemelham à angina. O refluxo gastroesofágico desencadeia a dor devido a uma inflamação do esôfago —o conteúdo do estômago reflui para o órgão, provocando intensa queimação e possível dor no meio do tórax. Também poderá surgir a sensação de aperto na garganta decorrente aos espasmos do esôfago, estimulando a dor no peito quando engolimos.

Uma úlcera no estômago, além da dor característica, pode provocar a irradiação da dor para o lado direito do tórax (dependendo da sua localização). Por último podemos mencionar os problemas na vesícula, que desencadeiam inflamações decorrentes de cálculos ou consumo excessivo de gordura.

Ansiedade

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A ansiedade, assim como o excesso de estresse, provoca o aumento da tensão muscular nas costelas e eleva a frequência cardíaca, combinação que provoca uma sensação de dor no peito. Além disso, durante situações de estresse ou medo, os músculos podem ficar muito contraídos, resultando em inflamação e dor. Sintomas associados: respiração rápida, excesso de transpiração, náuseas e alterações no funcionamento do intestino.

Tudo isso acontece normalmente em quem já está enfrentando um quadro de estresse crônico ou sofre de síndrome do pânico e ansiedade. Porém, não devemos descartar a possibilidade de ocorrer mesmo quando a pessoa não apresenta sintomas ou tem o diagnóstico, mas passou por algum episódio intenso de raiva ou forte emoção.

Doenças pulmonares

Não devemos deixar de citar que questões pulmonares também são responsáveis por desencadear dores no peito, como bronquite, asma ou infecção. É possível sentir a dor ao tossir ou respirar mais profundamente. Outros sinais que indicam que o problema é pulmonar são a falta de ar, chiado ou tosse frequente.

Lesões musculares

Por fim, até certas lesões musculares podem dar origem a dores no peito e gerar equívocos. Elas geralmente acontecem em quem frequenta academias ou faz algum tipo de esporte e se manifestam após atividades mais simples, como tossir muito ou pegar objetos pesados. É uma dor que pode piorar ao respirar, mas que também é agravada na realização de movimentos de torção com o tronco.

O que fazer ao sentir dor no peito?

Como são cenários bem distintos, apenas exames e a avaliação de um especialista podem trazer o diagnóstico preciso. Portanto, a recomendação é nunca ignorar os sinais e esperar que eles simplesmente desapareçam, acima de tudo se não houver razões óbvias para acontecerem.

A angina, em especial quando acompanhada dos sintomas apontados, não tem que durar muito tempo para ser considerada um alerta. Como vimos, gases, azia, ansiedade, infarto do miocárdio e outras questões podem se manifestar de forma muito parecida.

Bateu a dúvida? Procure atendimento urgentemente. No caso do infarto, o pior dos cenários descritos aqui, quanto mais rápido for iniciado o socorro, menor o tempo para o restabelecimento do fluxo de sangue, assim como os danos ao miocárdio e células do músculo cardíaco.

O diagnóstico precoce pode salvar vidas, uma vez que metade das mortes acontece nas primeiras horas depois dos sintomas iniciais. Quando se trata do coração, é melhor optar sempre pelo excesso de cuidados. A negligência ou a demora pode ser fatal.