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Quais órgãos podem ser doados? Idosos podem ser doadores? Tire suas dúvidas

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Imagem: serts/iStock

Giulia Granchi

De VivaBem, em São Paulo

22/10/2021 04h00

Atualmente mais de 45 mil pessoas aguardam a doação de um órgão no Brasil, segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).

A associação mostra que o agravamento da pandemia de covid-19 em todo o país aumentou a queda nas taxas de doação e de transplante, retrocedendo a números de 2014 nas taxas de doação em geral; até 2012, nas taxas de transplante de fígado e coração, até 2011, nos transplantes de pulmão e até 2003, na taxa de transplante renal.

Especialistas acreditam que o tempo de espera pode ser diminuído se a população se conscientizar da importância da doação de órgãos. Abaixo, com a ajuda de médicos e dados da associação, VivaBem responde às principais dúvidas sobre a doação, um ato de caridade que é capaz de salvar muitas vidas.

A doação de órgãos de uma pessoa pode beneficiar várias?

Sim. Um único doador pode beneficiar até 10 pessoas que aguardam na fila do transplante.

Quais órgãos podem ser doados?

Por doadores já falecidos, podem ser doados:

  • pulmões
  • coração
  • fígado
  • pâncreas
  • rins
  • intestino
  • útero
  • cartilagem
  • córneas
  • pele
  • músculos
  • tendões
  • válvulas
  • medula óssea
  • veias e artérias
  • e sangue do cordão umbilical.

Já doadores vivos podem doar parte do pulmão, parte do fígado, um dos rins e parte da medula óssea.

Quem vem primeiro na fila do transplante?

As regras e critérios variam de acordo com os órgãos e tecidos a serem doados. Na fila de espera por um fígado, coração ou pulmão, pacientes em estado mais grave são prioridade. Com o rim, o que mais importa é a compatibilidade entre doador e receptor; já o pâncreas leva em conta o tempo de inscrição na fila.

Critérios de desempate existem, mas também variam. A gravidade do paciente é motivo de priorização e as crianças, por exemplo, têm preferência quando o doador também tem a mesma faixa etária ou quando estão concorrendo com adultos.

Preciso deixar um documento afirmando que quero doar meus órgãos?

Não necessariamente. O mais importante é que você expresse esse sentimento para sua família. Não há necessidade de qualquer documento ou carta que tenha esse registro.

"No momento da doação, serão os familiares que assinarão o termo de consentimento, por isso, é indispensável que você converse com seus pais, filhos, cônjuges, irmãos sobre a sua vontade de doar seus órgãos", aponta Marcos A. Vieira, médico nefrologista e presidente da Fundação Pró-Rim (SP).

O que ocorre depois da autorização da família?

É realizada coleta de sangue, para análise da presença de anticorpos do HIV, hepatite B e C, HTLV, sífilis, doença de Chagas, citomegalovírus e toxoplasmose, além dos exames gerais para avaliação dos órgãos. Se os resultados forem bons, o doador é encaminhado para a cirurgia de retirada de órgãos.

Os custos da doação dos órgãos deverão ser pagos pela família do doador?

O doador e sua família não terão nenhum custo com a doação dos órgãos. Assim como também não terão nenhum ganho financeiro. A doação é um ato de amor e solidariedade com o próximo.

O corpo fica deformado após a doação de órgãos?

Não. Os órgãos doados são removidos cirurgicamente. Não há nenhuma desfiguração do corpo. O corpo pode ser velado ou cremado normalmente, não necessitando de nenhum preparo especial.

Só quem não tem problemas de saúde pode doar órgãos?

Qualquer pessoa pode ser um potencial doador de órgãos. "O que determina a possibilidade de transplante dos órgãos ou tecidos é a condição de saúde atual em que se encontram. Na ocasião da morte, a equipe médica fará uma avaliação do seu histórico médico e de seus órgãos", diz o nefrologista Marcos A. Vieira.

Quem tem câncer pode ser doador? E quem já está em remissão?

Segundo as diretrizes básicas da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), quem teve câncer não pode doar órgãos. "A contraindicação acontece por um excesso de zelo diante da possibilidade de haver uma metástase oculta no órgão que será transplantado", explica Danielle Laperche, oncologista que trabalha no laboratório de análises clínicas Hemolabor.

A médica explica que o transplante é contraindicado pelo risco de que depois desse órgão transplantado em um paciente que precisará do uso de imunossupressores (para evitar a rejeição), células malignas do doador que estavam no órgão transplantado se desenvolvam gerando um tumor metastático no paciente que o recebeu.

"A condição da imunossupressão é necessária para que o transplante dê certo, mas pode favorecer a progressão de um câncer. Existem muitos questionamentos, alguns alegam que após cinco anos esse risco seria remoto na maioria das neoplasias, mas por enquanto a lei vigente contraindica a doação de órgãos nesses casos."

A exceção é para alguns tumores malignos localizados, como o carcinoma basocelular de pele, carcinoma in situ de colo uterino, carcinoma renal inicial e alguns tipos de tumores cerebrais que possuem um baixo risco de metástase.

Idosos também podem ser doadores?

Desde que estejam em boa condição de saúde, sim. Hoje, muitos idosos de 60 anos podem apresentar melhor quadro de saúde do que pessoas de 30 a 40 anos. A avaliação dos órgãos será feita pela equipe médica e encaminhada para a central de transplantes.

Quem não pode ser doador de órgãos?

De acordo com a ABTO, pacientes com diagnóstico de tumores malignos (com algumas exceções), doença infecciosa grave aguda ou algumas doenças infecto-contagiosas. Existem outras condições que impedem a doação de órgãos, cuja decisão é feita de maneira muito cuidadosa pelas equipes de transplante.

Em vez de doados, os órgãos podem ser vendidos?

A venda e a compra de órgãos são proibidas por lei no Brasil. A Lei Federal 9.434/97 estabelece, entre outras coisas, que comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano (artigo 15) é ação passível de pena de "reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa", conforme trecho da lei.

Após o consentimento da família, as Centrais de Transplantes das Secretarias Estaduais de Saúde fazem todo o controle do processo, da retirada dos órgãos até a indicação do receptor e o transporte aos locais onde será feito o transplante dos órgãos e/ou tecidos doados.

O que o paciente precisa fazer após o transplante?

O sistema imunológico reconhece o novo órgão como um corpo estranho e reage. Isso pode ocorrer com qualquer órgão ou tecido logo após o transplante ou muito tempo depois. Para que isso não aconteça, os pacientes transplantados precisam tomar medicamentos imunossupressores pelo resto da vida, além de fazer acompanhamento médico periódico.

É possível pagar para avançar pela fila de transplante mais rapidamente?

Não. Independentemente da condição financeira ou classe social, todos os cidadãos brasileiros são incluídos na lista dos transplantes.

"A seleção dos candidatos ao órgão é realizada por compatibilidade com o doador, tudo realizado por um sistema virtual seguro que comporta o histórico dos pacientes em lista", diz Vieira.