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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Osteoporose: pessoa pode sofrer fratura até ao tossir; como evitar doença?

A osteoporose aumenta o risco de quedas e fraturas - iStock
A osteoporose aumenta o risco de quedas e fraturas Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o VivaBem

20/08/2019 04h00Atualizada em 15/09/2020 21h03

Resumo da notícia

  • Osteoporose é a perda progressiva de massa óssea. Os ossos ficam mais fracos e suscetíveis a fraturas
  • Homens podem ser acometidos pela doença, mas as mulheres, especialmente após a menopausa, são as mais afetadas
  • A doença é silenciosa e a fratura costuma ser o primeiro sintoma tardio
  • Os cuidados com o esqueleto devem começar na infância e durar por toda da vida
  • Praticar exercícios regularmente e manter uma alimentação rica em cálcio é importante para manter a saúde dos ossos

Imagine não ser mais capaz de digitar ou escrever, de se levantar ou de se locomover. Essas são algumas das consequências das fraturas decorrentes da osteoporose, uma doença que afeta 10 milhões de brasileiros, especialmente as mulheres no período posterior à menopausa.

Considerada a doença óssea mais comum entre todas as que acometem o esqueleto, a osteoporose (a origem da palavra é grega e significa osso poroso) se caracteriza pela perda progressiva de massa óssea, o que faz que os ossos se tornem mais fracos e, portanto, mais suscetíveis a quebras.

Em todo o mundo, os esforços de cientistas e médicos têm sido no sentido de prevenir os desfechos mais frequentes como a fratura do antebraço, das vértebras e do quadril, que podem acontecer durante a prática de atividades do dia a dia como tossir ou curvar-se, também chamadas de fraturas de baixo impacto.

Como a osteoporose ocorre

Com o passar do tempo e, especialmente após os 50 anos, a qualidade dos ossos diminui, e eles podem ficar tão porosos [imagine a casca de um ovo], que a probabilidade de ter uma fratura aumenta. Essa situação afeta homens e mulheres, mas elas integram o grupo mais acometido pelo problema. A razão para isso são as mudanças hormonais que ocorrem nessa etapa da vida.

Na infância, "fabricamos" mais osso do que o absorvemos. Este é o momento no qual formamos nossa reserva de cálcio. Na fase adulta, há um equilíbrio entre a formação óssea e a sua absorção. Já durante a maturidade, ocorre um desequilíbrio nesse processo.

"A reabsorção de osso é maior do que a sua formação. Há redução da concentração de cálcio e é aí que o osso se torna mais frágil ", explica Sebastião Cezar Radominski, professor de reumatologia da Faculdade de Medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Fatores de risco

Os riscos de ter osteoporose aumentam se você:

  • É mulher;
  • Tem mais de 50 anos;
  • Está no período posterior à menopausa;
  • Submeteu-se a tratamento de câncer de mama ou de próstata, cujas terapias contemplaram o uso de inibidores de aromatase e deprivação hormonal com estrógenos, respectivamente;
  • Tem histórico de fratura prévia, em qualquer fase da vida;
  • Tem pai ou mãe que sofreram uma fratura;
  • Tem diagnóstico de artrite reumatoide;
  • Usa corticoide;
  • Expõe-se pouco ao sol;
  • É sedentário;
  • Teve ou teve baixo consumo de cálcio;
  • É fumante;
  • Consome mais de três doses por dia de bebida alcoólica.

Quais os sintomas da osteoporose

A osteoporose é uma doença silenciosa e isso significa que não há sintomas aparentes. É muito comum que se descubra uma fratura durante uma consulta de rotina, na qual se pede uma radiografia do tórax por outro motivo e ela revela uma fratura de vértebra que ocorreu de forma assintomática (sem que se percebesse) no passado. Quebrar um osso é considerado um sintoma tardio dessa enfermidade.

Qual médico cuida da osteoporose?

Todo profissional capaz de avaliar uma pessoa que está envelhecendo: reumatologista, geriatra, endocrinologista, clínico geral, ortopedista e até um neurologista pode examinar a pessoa com suspeita de osteoporose. Já as mulheres, geralmente, são avaliadas por seus ginecologistas, especialmente no período da menopausa.

Como é feito o diagnóstico?

Após ouvir o histórico do paciente, o médico fará um exame físico para verificar se há algum sinal de fratura na coluna, ou mesmo arqueamento. Ele solicitará ainda exames de imagem, como a radiografia lateral da coluna —que servirá como um parâmetro inicial da situação da sua coluna, caso ocorra uma fratura no futuro.

A densitometria óssea é essencial e deve ser requisitada. Entretanto, embora ela seja importante para confirmar o diagnóstico, este precisa valer-se de outras informações, como as obtidas por meio de uma ferramenta chamada FRAX — Fracture Risk Assessment Tool (Ferramenta de avaliação de risco de fratura, na versão em português).Trata-se de um questionário que ajuda a prever quem precisa ser tratado para prevenir fraturas, mesmo que ainda não haja um diagnóstico de osteoporose.

No FRAX são considerados os fatores de risco clínico para fraturas, além da densitometria. O resultado obtido revela a possibilidade de fraturas para os próximos 10 anos. Você pode acessar essa ferramenta neste link.

Como tratar a osteoporose

Quanto mais grave for a osteoporose, menor o sucesso do tratamento. A boa notícia é que dá para impedir novas fraturas.

Embora a osteoporose seja uma condição crônica, em um primeiro momento, o tratamento não é medicamentoso e seu médico pode sugerir apenas algumas modificações no seu estilo de vida, tais como:

  • Aumentar o consumo de alimentos ricos em cálcio ou suplementação do mineral, caso haja intolerância ou alergia a lácteos;
  • Praticar atividade física regularmente (musculação, caminhada, pilates);
  • Expor-se mais ao sol, especialmente perto das 13h -- sempre respeitando os cuidados determinados pelo seu médico;
  • Consumir vitamina D por meio da dieta e/ou em doses personalizadas (no caso de suplementação).

Quando a osteoporose for confirmada, a fratura já aconteceu ou o resultado do FRAX indicar que há risco de quebra, os médicos têm à disposição as seguintes terapias com medicamentos:

Bisfosfonato Disponível na rede pública, geralmente é consumido uma vez por semana ou uma vez por mês. É eficaz, mas não pode ser usado por mais de cinco anos seguidos. Pode ter efeitos colaterais em longo prazo, que são raros, mas têm sido relatados: a necrose do osso da mandíbula e um tipo diferente de fratura do fêmur que ocorre no meio da perna;

Denosumabe É um tipo de terapia biológica que se faz por meio de aplicações subcutâneas. Trata-se de um anticorpo que ataca uma proteína relacionada à perda da massa óssea, bloqueando a absorção óssea e reduzindo o risco de fratura. Ele pode ser usado até por 10 anos ininterruptos, seu custo é mais elevado, porém, apresenta menor risco do que os decorrentes do uso prolongado dos bisfosfonatos. Esses resultados foram publicados no jornal médico Lancet Diabetes Endocrinology.

Anabólico De uso subcutâneo diário, como a insulina, é indicado nos casos de osteoporose mais grave ou quando já houve uma fratura. Como tem ação anabolizante, ele age principalmente estimulando a formação de osso.

Novos tratamentos

Um novo fámarco já foi aprovado nos Estados Unidos pelo FDA e deverá chegar ao Brasil em 2020. Trata-se do romosozumabe, que classifica-se como um anabólico, é mais potente, de uso subcutâneo e deve ser utilizado uma vez ao mês. Usado por tempo determinado (1 ano), ele também aumenta a massa óssea e será mais uma alternativa terapêutica para a osteoporose.

Consumir suplementos é seguro?

As estratégias de tratamento da osteoporose são consideradas recentes, já que iniciaram em 1994. Até 2008, indicava-se a suplementação de cálcio, até que um estudo científico da Nova Zelândia revelou que a suplementação podia elevar o risco de problemas no coração e rins.

A conclusão que os cientistas chegaram é que tal efeito só ocorreu porque o país era o segundo maior consumidor de cálcio do mundo e, portanto, a suplementação de cálcio teria levado a um excesso do nutriente na dieta e, consequentemente, aqueles resultados.

Bruno Muzzi Camargos, ginecologista e consultor científico da IOF (International Osteoporosis Foundation), comenta que tais fatos podem ter levado ao temor de tratar a osteoporose. Apesar disso, ele conta que, em sua prática clínica, jamais ocorreram complicações devido à suplementação. "Na verdade, o que existe é a falta de conhecimento da doença e dos exames [que são indolores, acessíveis e rápidos] e, principalmente, das ferramentas hoje disponíveis".

Uma dessas ferramentas é Calculadora de Cálcio disponibilizada pela IOF, que auxilia o médico e o paciente a avaliarem como tem sido a ingestão de cálcio no dia a dia. A partir desse resultado o especialista pode visualizar o que precisa ser mudado na dieta, além dos limites da eventual suplementação.

O consultor científico faz ainda uma advertência quanto ao consumo de suplementos sem indicação médica, especialmente a vitamina K e o magnésio: "A população precisa saber que não existem evidências científicas de que esses nutrientes, sozinhos, são seguros e eficazes para tratar a osteoporose".

O que acontece se a osteoporose não for tratada?

O objetivo da triagem e do tratamento da osteoporose é identificar e tratar pessoas com risco aumentado de ter uma fratura. Esse grupo de pacientes se beneficiaria da intervenção para minimizar esse risco. As complicações esperadas após as fraturas incluem dor, deformidade, incapacidade e perda de altura, esclarece Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês.

A fratura mais temível é a do colo do fêmur. Além da incapacitante, ela se relaciona ao aumento da chance de mortalidade (20%) no primeiro ano após esse evento.

Exercícios aumentam o risco de fratura?

Seja na osteopenia, que é a condição clínica que precede a osteoporose, seja na osteoporose, os exercícios de impacto (como a caminhada e a corrida), e de força resistida (como musculação, treino funcional), estimulam as células ósseas (osteoblastos) a produzir osso, e ainda reduzem o risco de quebras.

O pilates também pode ser um aliado, já que melhora a função muscular, o alongamento e as contraturas. Contudo, deve sempre ser praticado junto aos exercícios de resistência e aeróbicos, aconselha o ortopedista Alexandre Stivanin, do Hospital Samaritano. "O mais importante é uma avaliação prévia das condições gerais do paciente para saber o que é mais indicado para ele naquele momento", diz.

O papel do cálcio

Cálcio e vitamina D são os nutrientes mais importantes para a formação óssea desde a vida intrauterina até a idade adulta, e seguem sendo benéficos na maturidade para a prevenção da osteopenia, da osteoporose e de fraturas.

Uma dieta equilibrada, rica em frutas, verduras, carnes magras, leite e derivados (iogurte, queijo) seria o suficiente para obter este efeito protetivo. Contudo, os hábitos da vida moderna atrapalham essa estratégia vencedora, seja porque no Brasil o consumo de cálcio é reduzido, seja porque a alimentação, por vezes, é negligenciada. Some a isso a onda do consumo de alimentos sem lactose, muitas vezes adotado sem que, de fato, seja necessário. Mais: a melhor absorção de vitamina D depende da exposição solar, que também tem sido reduzida.

Já a vitamina K tem uma função no osso, e é importante [como outros nutrientes como o magnésio] porque integra a composição e se relaciona ao seu fortalecimento (carboxilação).

"Mas isso não significa que suplementá-los funcione como tratamento da osteoporese e prevenção de fraturas", fala Lígia Martini, professora do Departamento de Nutrição da FSPUSP. A especialista, estudiosa do tema, afirma que na alimentação do brasileiro, em geral, não falta vitamina K, contida no óleo de soja e vegetais verde-escuros, por exemplo. "A deficiência de vitamina K é muito rara", completa.

Quanto consumir de cálcio?

A ingesta adequada de cálcio varia e deve atender às necessidades de cada pessoa, conforme a sua faixa etária:

  • Crianças de 1 a 3 anos: 500 mg por dia;
  • Crianças de 4 a 8 anos: 800 mg por dia;
  • Crianças e adolescentes de 9 a 18 anos: 1300 mg por dia;
  • Adultos de 19 a 50 anos: 1000 mg por dia;
  • Adultos e Idosos de 51 anos ou mais: 1200 mg por dia.

A nutricionista clínica Camila Naegeli Caverni, pós-graduanda na Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que, para suprir essas necessidades, um adulto acima de 51 anos deveria integrar à sua rotina alimentar diária, por exemplo, os seguintes itens:

  • 1 xícara (chá) de leite
  • 30 g de queijo branco (1 fatia média)
  • 2 filés de peixe
  • 100 g de brócolis cozido (1 prato de sobremesa)
  • 1 unidade média de batata assada
  • 300 mg de iogurte natural (2 potes de 170 g, aproximadamente)
  • 1 laranja

Veja abaixo a quantidade de cálcio presente em outros alimentos que você pode priorizar em sua dieta:

  • Sardinha em lata (100 g) - 402 mg
  • Leite desnatado (1 xícara de chá) - 302 mg
  • Leite semidesnatado (1 xícara de chá) - 297 mg
  • Leite Integral (1 xícara de chá) - 290 mg
  • Iogurte natural (200 g) - 228 mg
  • Queijo branco (1 fatia de 30 g) - 205 mg
  • Couve cozida (1 xícara de chá) 148 mg
  • Queijo mozarela (1 fatia de 20 g) 120 mg

Dá para prevenir a osteoporose?

A perda óssea faz parte do processo natural do envelhecimento. O objetivo, então, é investir na saúde dos ossos desde a infância até a maturidade. Coloque em prática as seguintes dicas:

- Capriche no consumo de alimentos ricos em cálcio como o leite, queijos e iogurte. E pode, ser até os do tipo magros, que não perdem quase nada da concentração do nutriente;

- Exponha-se ao sol (bastam 15 minutos diários da luz solar);

- Pratique atividades físicas apropriadas para as suas condições de saúde, idade e peso. Os exercícios mais indicados são os de resistência (musculação), aeróbicos (caminhada e corrida) e pilates (aumenta a massa óssea e ainda melhora o alongamento). Essas práticas também trabalham o equilíbrio e os reflexos, o que ajuda a evitar quedas. A natação e o ciclismo não são esportes tão indicados, isso porque mantêm a musculatura, mas não oferecem impacto —que é importante para estimular a produção de massa óssea;

- Evite fumar;

- Modere o consumo do álcool;

- Fale com seu médico se já chegou a hora de fazer uma densitometria óssea, especialmente se você completou 45 anos ou está no período da menopausa;

- Certifique-se que os ambientes nos quais você circula sejam seguros e à prova de quedas. Livre-se de móveis que atrapalham a circulação, tapetes soltos e pouca iluminação.

Fontes: Sebastião Cezar Radominski, professor de reumatologia da Faculdade de Medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná), ex-presidente da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia) e ex-presidente da Abrasso (Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo); Lígia Martini, professora associada do Departamento de Nutrição da FSPUSP (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo); Bruno Muzzi Camargos, ginecologista e doutor em saúde da mulher, consultor científico da IOF (International Osteoporosis Foundation), coordenador do serviço de densitometria do Hospital Mater Dei em Belo Horizonte (MG) e membro da comissão da osteoporose da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Camila Naegeli Caverni, nutricionista clínica e pós-graduanda na EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo); Alexandre Stivanin, ortopedista do Hospital Samaritano (SP) e membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia); Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês. Revisão técnica: Sebastião Cezar Radominski.

Referências Ministério da Saúde; Sebastião Cezar Radominski et alli. Diretrizes brasileiras para o diagnóstico e tratamento da osteoporose em mulheres na pós-menopausa. Rev. Bras. Reumat. 2017; Pinheiro MM, Schuch NJ, Genaro PS, Ciconelli RM, Ferraz MB, Martini LA. Nutrient intakes related to osteoporotic fractures in men and women—the Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS). Nutr. J. 2009; Nicholas C Harvey, Stefania D'Angelo ET alli. Vitamin D Supplementation Are Not Associated With Risk of Incident Ischemic Cardiac Events or Death: Findings From the UK Biobank Cohort. J Bone Miner Res. 2018; Chiodini I, Bolland MJ. Calcium supplementation in osteoporosis: useful or harmful? Eur J Endocrinol. 2018.