Melatonina para a pele: produtos com "hormônio do sono" têm melhor efeito?
Resumo da notícia
- A melatonina é o hormônio responsável por induzir o sono e vem sendo estudada para ajudar no tratamento de várias doenças
- Entre as diversas aplicações da substância, o uso dermatológico é defendido como eficiente por diversos especialistas
- Por ter ação antioxidante, a melatonina pode minimizar o envelhecimento da pele e até prevenir rugas
- Já no cabelo o hormônio tem potencial de retardar o processo de queda dos fios
De alguns anos para cá, a melatonina ganhou fama em razão do seu papel como reguladora do relógio biológico e indutora do sono. Esse continua sendo o principal argumento para o uso do hormônio (que só deve ser consumido com orientação médica), mas está longe de ser o único.
A melatonina é o principal produto da glândula pineal, localizada no cérebro. Mas a secreção da substância se dá em muitos outros tecidos e células do organismo, como intestino, fígado, musculatura esquelética, sistema imunológico e cérebro. Por isso, ela é investigada como possível solução para tratar depressão, enxaqueca, obesidade e até Alzheimer, ainda que não haja conclusão científica para muitos desses usos.
Entre tantas aplicações da melatonina, há uma ainda pouco comentada, mas já explorada pela indústria e defendida por médicos especialistas como eficiente. Trata-se do uso dermatológico da substância, No caso, a versão sintética dela, que ao ser aplicada na pele ou no couro cabeludo pode ajudar a combater os efeitos do envelhecimento e retardar a queda dos fios de cabelo, por exemplo.
Na Europa e nos Estados Unidos há uma profusão de produtos de skincare à base de melatonina à venda. Por aqui, pelo menos duas marcas lançaram recentemente cosméticos faciais com a molécula na composição. E há cerca de dois anos a substância tem permissão para ser comercializada em farmácias de manipulação, desde que com apresentação de receita médica.
Os benefícios da melatonina para a pele
O maior órgão do corpo é repleto de receptores de melatonina, e a principal ação da substância na pele é como antioxidante. "Ela atua na reparação dos danos celulares provocados por fatores externos (como poluição e radiação solar) e hábitos ruins (álcool em excesso, cigarro e alimentação errada), que aceleram o envelhecimento", comenta Caio Lamunier, dermatologista do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).
A substância também estimula a produção e inibe a degradação do colágeno, o que ajudaria a melhorar a qualidade da pele e prevenir rugas. Ainda tem atividade despigmentante e regeneradora celular. Tudo isso com boa penetração na pele e baixo risco colateral, de acordo com Lamunier.
O farmacêutico Lucas Portilho, especialista em cosmetologia e diretor da pós-graduação do Instituto de Cosmetologia e Ciências da Pele, explica que a melatonina é superior em relação a outras substâncias antioxidantes reconhecidas, como as vitaminas C e E, porque tem a capacidade de gerar subprodutos que também atuam contra o envelhecimento — enquanto as demais geram substâncias inertes após se ligarem a radicais livres.
Um estudo publicado no British Journal of Dermatology demonstrou, ainda, a eficácia da molécula na prevenção de eritema induzido pela incidência de radiação solar na pele. O trabalho revelou que a melatonina, quando combinada a vitaminas C e E (antioxidantes), elevou o nível de proteção em comparação com a aplicação das vitaminas sozinhas. Isso não quer dizer que ela funcione como filtro solar, mas indica potenciais propriedades fotoprotetoras.
Para José Cipolla Neto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e pesquisador dos efeitos fisiológicos e mecanismos de ação da melatonina, o ideal é que cremes, pomadas e soluções contendo a substância sejam usados à noite, que é quando se dá a secreção natural do hormônio pelo organismo. Caso contrário, ao ser absorvida pela pele e cair na corrente sanguínea, a melatonina pode provocar alterações no metabolismo, principalmente com o uso contínuo.
Benefícios da melatonina para o cabelo
O uso tópico da substância atua inibindo a morte de queratinócitos, células que produzem queratina, proteína formadora de cabelo, pele e unhas. Com isso, influencia o ciclo capilar estimulando a fase de crescimento do fio e estendendo a de regressão, o que faria demorar mais para cair.
Testes clínicos mostraram, ainda, que a aplicação tópica da melatonina age nos folículos capilares contra-atacando o estresse oxidativo associado à queda de cabelo comum e à alopecia androgenética.
Um estudo alemão publicado no International Journal of Trichology concluiu que a melatonina na forma de solução tópica pode ser considerada uma opção de tratamento para alopecia androgenética. O trabalho acompanhou durante 90 dias 1800 homens e mulheres que usaram a solução no cabelo à noite.
Nos testes de tração realizados, o número de participantes que relatou perda moderada a severa de fios passou de 61% para 33% após 30 dias, e 7,8% em 90 dias. A proporção daqueles que não perceberam queda de cabelo no período passou de 12% para 25% em 30 dias, e 61% após 90 dias. O uso de melatonina tópica também melhorou a ocorrência de seborreia (caspa) entre os pacientes: apenas 5,4% deles ainda se queixaram do problema ao final do estudo, contra 35% no começo.
Alerta para o modismo
Sim, estamos falando do uso tópico da melatonina. Mas, já que o assunto é o hormônio, nunca é demais ressaltar que a popularização do uso oral da substância para induzir o sono é motivo de preocupação por parte dos profissionais de saúde. Isso porque na grande maioria das vezes o produto é consumido sem orientação médica e de forma inadequada.
"É preciso ter em mente que se trata de um hormônio com atuação em vários sistemas do organismo, que está longe de ser inócuo", alerta Cipolla Neto. "A melatonina não pode ser consumida ao gosto do paciente, e sim apenas sob controle médico. No tratamento de distúrbios do sono, é preciso avaliar dosagem, formulação e horários de administração do medicamento, além da real necessidade da pessoa", avisa.
Alguns efeitos adversos da administração incorreta da melatonina são resistência à insulina (e predisposição ao diabetes), intolerância à glicose e hipotensão, fora a desorganização do metabolismo.
No Brasil, é permitido comprar melatonina para uso oral apenas em farmácias de manipulação e mediante apresentação de receita médica. Mas muita gente acaba trazendo o produto de viagens ao exterior ou comprando pela internet em outros países, como os Estados Unidos. Lá, o hormônio é vendido livremente em drogarias e supermercados e tratado quase que como um suplemento alimentar.
Fontes: Alessandra Romiti, dermatologista, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); José Cipolla Neto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo); Caio Lamunier, dermatologista do Hospital das Clínicas da USP e do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo); Lucas Portilho, farmacêutico, diretor da pós-graduação do Instituto de Cosmetologia e Ciências da Pele.
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