Cancro mole tem terapia rápida, mas dá para prevenir; conheça os sintomas
Resumo da notícia
- Cancro mole ou cancroide é uma IST causada pelo Haemophilus ducreyi
- Com alto poder de infectividade, ele é transmitido durante as relações sexuais com pessoas infectadas
- A doença tem como sintoma o aparecimento de úlceras ?bolhas pequenas e muito dolorosas localizadas nos genitais
- O tratamento se dá por meio de antibióticos específicos. E a melhor forma de reduzir o risco é a prática de sexo seguro, ou seja, usar preservativo
Morar em um país tropical tem lá seus benefícios. A abundância de frutas, verduras e sol o ano inteiro garantem acesso a nutrientes e vitaminas essenciais para o bom funcionamento do organismo. Entretanto, regiões mais quentes são facilitadoras da maior ação de microrganismos causadores de doenças. Este é o caso do Haemophilus ducreyi, uma bactéria típica dos trópicos capaz de causar lesões ulcerosas na região genital, conhecidas como cancroide ou cancro mole.
O cancroide é uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) —a transmissão desse hemófilo se dá por via sexual— e é classificado como uma doença do tipo ulcerativa, isso porque inicia-se com a formação de bolhas que se rompem formando úlceras (feridas).
Esta IST tem alta transmissibilidade, acomete igualmente homens e mulheres, especialmente jovens sexualmente ativos (21 a 30 anos). A vulnerabilidade é ainda mais observada nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, em especial nos profissionais do sexo e seus clientes nos primeiros anos de sua juventude.
Embora seja uma infecção que se limita à pele e à mucosa, ou seja, a princípio não há comprometimento de outros órgãos do corpo, o cancro mole é considerado um importante cofator para a aquisição e transmissão do vírus HIV. Em outras palavras, isso significa que seu organismo fica aberto, não só para doenças como a Aids, como a outros tipos de IST, o que os médicos definem como vulnerabilidade biológica.
Como reconhecer o cancro mole
Doenças ulcerativas como cancroide, herpes e sífilis, frequentemente se manifestam por meio de úlceras —bolhas pequenas e muito dolorosas localizadas nos genitais (inclusive em volta do ânus) que aumentam de tamanho, profundidade e têm pus.
Apresentam-se inicialmente como pequenas pápulas (parecem espinhas maiores) com margens irregulares que são chamadas de "cancro mole". Com o passar do tempo, essas "espinhas" se rompem e formam feridas. A explicação é de Ana Katherine Gonçalves, professora titular do Departamento de Tocoginecologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
"Há ainda um período de incubação —de 3 a 7 dias— que pode se estender até 2 semanas. Isso significa que, nesse período, os sintomas não são percebidos. A partir daí começam a aparecer as pápulas", esclarece a médica.
Quando a infecção avança, os gânglios linfáticos, localizados na região da virilha (inguinal), aumentarão de tamanho até formarem um abcesso (acúmulo de pus). Este processo é também conhecido como íngua. A pele poderá ficar avermelhada, e até romperá para que o pus possa sair.
Sintomas e sinais comuns
Como o cancro mole tem um tempo de incubação, após a infecção e antes de aparecerem as feridas, podem ser notados sintomas comuns a outros tipos de infecções. Confira:
- Febre;
- Fraqueza;
- Dor de cabeça.
Essas manifestações podem variar a depender do sexo da pessoa acometida pela IST. "Os homens sempre apresentarão sintomas. Já as mulheres, com úlceras no colo do útero e na vagina, podem ser assintomáticas. Aliás, as ínguas, neste grupo, são menos frequentes", ressalta Luiz Felipe Dziedricki, ginecologista e obstetra, professor da Faculdade de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Em imunodeprimidos e pessoas com HIV, cujo sistema de defesa do corpo é prejudicado, a extensão desses sinais será mais evidente.
Quem está mais suscetível?
Na maioria das ISTs as mulheres são sempre mais vulneráveis —seja por uma questão anatômica, seja porque, durante as relações sexuais podem ocorrer escoriações (lesões discretas por abrasão) que facilitam a infecção.
Jovens de ambos os sexos, no início da atividade sexual, também estão mais expostos à IST, pela falta de informação sobre os riscos de uma relação sexual e, principalmente, pela prática sexual sem o uso de preservativo (camisinha).
Quando é hora de procurar ajuda médica?
Ao identificar alguma alteração nos órgãos genitais, ou verificar a presença de dor e secreção purulenta (com pus), procure atendimento médico o mais rápido possível.
"Todos os médicos são treinados para tratar esse tipo de IST, mas os que mais comumente atendem a esses pacientes são os ginecologistas, os dermatologistas e os urologistas", esclarece Alexandre Pupo Nogueira, médico do Hospital Sírio-Libanês (SP) e do Núcleo de Mastologia da mesma instituição.
Esses especialistas devem ser consultados mesmo na ausência de sintomas ou apenas para o esclarecimento de dúvidas sobre os riscos de contágio e práticas preventivas.
E se você não for ao médico, o pode acontecer?
A consequência mais importante desse não agir é que você poderá infectar outras pessoas e, estas, poderão levar a infecção adiante. Além disso, esse tipo de IST leva à vulnerabilidade biológica, ou seja, você teria maior facilidade de contrair outras doenças do gênero, até mais graves —como a Aids.
A infecção por microrganismos como os Haemophilus é reconhecidamente autolimitada, o que quer dizer que elas podem até se resolver sozinhas. No caso do cancro mole, porém, você teria de lidar com as úlceras, a dor, a íngua, além do pus por um longo período de tempo.
Como é feito o diagnóstico?
Na hora da consulta, o médico vai ouvir a sua queixa, conhecer seu histórico de saúde, além de fazer o exame físico para identificar alguma lesão e a presença de íngua.
Como os sintomas desta IST se confundem com outras doenças do mesmo tipo (como a sífilis e o herpes genital etc.), para confirmar a infecção pelo Haemophilus ducreyi poderão ser solicitados exames laboratoriais: a Coloração de Gram e a cultura dessa bactéria.
Testes para HIV e demais infecções sexualmente transmissíveis também podem ser requisitados, especialmente porque o cancro mole e as outras ISTs que se apresentam por meio de úlceras, são uma porta de entrada para outras possíveis enfermidades e até o HIV.
Qual é o tratamento para o cancro mole?
A infecção se relaciona a hábitos de higiene precários e, por isso, o médico dará as instruções para os cuidados locais.
Já a estratégia terapêutica prevê o uso de antibióticos específicos que podem ser ministrados por via oral ou injetável, e a maioria deles tem dose única. Seu parceiro sexual, bem como todas as pessoas com as quais você se relacionou sexualmente devem ser examinadas e tratadas, ainda que não tenham sintoma algum.
Na maioria das vezes, as úlceras começam a desaparecer em 3 dias após o início do tratamento, mas pode ser que o quadro só apresente melhora em 7 dias. As ínguas podem demorar mais tempo para responder ao tratamento e, em algumas situações, é necessário fazer uma drenagem.
É possível que o médico queira revê-lo após alguns dias para se certificar de sua perfeita recuperação.
Importante saber que depois do devido tratamento você não está livre de uma nova infecção.
Estou grávida. Isso pode afetar a gestação?
Até o momento não existem relatos de que o cancro mole tenha efeitos sobre o bebê. Entretanto, diante da suspeita da doença e ao buscar tratamento, lembre-se de falar para o médico que está grávida. Isso porque alguns antibióticos são contraindicados para gestantes.
O ideal é que todas as futuras mães façam testes para identificação de ISTs tão logo descubram que estão grávidas. Algumas dessas enfermidades, quando não tratadas, podem prejudicar o desenvolvimento do bebê, antecipar o parto e até provocar aborto. Quanto mais rápido for o tratamento, melhor para a gestante e para o bebê.
Como evitar o cancro mole?
A melhor forma de reduzir o risco de contrair o cancroide, assim como outras ISTs, é usar preservativo durante as relações sexuais. Além disso, você pode adotar as seguintes medidas:
- Use preservativo durante a prática de sexo vaginal, anal e oral. Se você for alérgico ao látex, fale com seu médico sobre as melhores formas de proteção no seu caso;
- Procure reduzir o número de parceiros;
- Evite uso de álcool ou drogas em encontros sexuais. Você corre o risco de não lembrar se usou ou não camisinha;
- Faça uso de antibióticos somente sob orientação médica. Quando você se automedica ou não faz o tratamento na forma como indicada pelo médico, você contribui para a resistência aos antibióticos, ou seja, esse remédio já não faz o efeito desejado e deixa você e toda a comunidade desprotegidos de infecções, até as mais simples.
Fontes: Ana Katherine Gonçalves, professora titular do Departamento de Tocoginecologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), doutora, pós-doutora e livre-docente pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e editora associada da RBGO - Revista Científica da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Alexandre Pupo Nogueira, médico do Hospital Sírio-Libanês (SP) e do Núcleo de Mastologia da mesma instituição, mestre em ciências pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e Luiz Felipe Dziedricki, ginecologista e obstetra, professor da Faculdade de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Revisão Técnica: Ana Katherine Gonçalves.
Referências: Ministério da Saúde; Manual de Orientação de Doenças Infectocontagiosas da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Belda Jr. W, Shiratsu R, Pinto V. Abordagem nas doenças sexualmente transmissíveis. An Bras Dermatol. 2009; Lisandro Irizarry; Anton A. Wray. Chancroide. Stat Pearls. NCBI (National Center for Biotechnology Information). 2019.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.