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"Magro de ruim"? Peso tem a ver com genética, mas ambiente impacta mais

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Carol Firmino

Colaboração para o VivaBem

30/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Estudo mostrou que 40% da estrutura do corpo é definida geneticamente, enquanto outros 60% são influenciados pelo ambiente
  • Mesmo com a influência dos genes, é possível manter o corpo saudável, por meio de mudanças de hábitos
  • Alimentação balanceada e prática de atividades físicas são essenciais para evitar doenças que podem influenciar ou ser influenciadas pelo peso

Algumas pessoas têm dificuldade para engordar, outras para emagrecer. Mas o que a ciência tem mostrado é que, por mais que ambos os casos tenham relação com a genética, o ambiente (alimentação, hábitos de vida, prática de exercícios físicos) pesa mais.

Um estudo publicado na revista científica PLOS Genetics em janeiro de 2019 mostrou que 40% da estrutura do corpo é definida geneticamente, enquanto os outros 60% estão submetidos ao ambiente.

Os pesquisadores das universidades britânicas de Cambridge e de Bristol analisaram amostras de DNA de 1,6 mil pessoas extremamente magras —com um IMC (índice de massa corporal) menor que 18 — e de 2 mil pessoas extremamente obesas e com outras de 10,4 mil pessoas com peso "normal".

Nos resultados, foi possível identificar variantes relacionadas não só à obesidade, mas também à magreza: pessoas obesas tinham maior probabilidade de ter um conjunto de genes ligados à obesidade, enquanto as magras não só tinham menos genes ligados à obesidade, como também tinham alterações em regiões genéticas associadas à magreza.

Outro estudo, dessa vez feito com famílias do interior de Minas Gerais sorteadas aleatoriamente e publicado em 2018, mostrou que a circunferência abdominal também é influenciada em 40% pelo fator genético. Entretanto, a pesquisadora Camila Maciel, especialista em endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, disse que, apesar de a influência genética ser alta, esse número pode ser revertido.

"Se a pessoa manter um hábito de vida saudável, com dieta equilibrada e a prática de atividades físicas, ela consegue mudar o desfecho e o final dessa história, quando olhamos para o aparecimento de doenças cardiovasculares e até a morte prematura", disse ela ao Jornal da USP na época.

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Corpo saudável não tem medida

Apesar do que se diz por aí, magreza não é sinônimo de saúde. Quem está abaixo do peso deve realizar um check-up para garantir que está tudo bem com o organismo. Há várias condições que podem causar a magreza em excesso ou a facilidade para perder peso. Entre elas, destacam-se os distúrbios alimentares como anorexia e também doenças como diabetes, hipertireoidismo, infecções ou câncer.

Agora, se está tudo bem com a saúde e a dificuldade de engordar ocorre devido a questões genéticas ou hábitos alimentares ruins, não adianta sair comendo tudo o que vê pela frente para engordar. É claro que é preciso consumir mais calorias do que se gasta. No entanto, ingerir "calorias vazias" —como doces, frituras, refrigerantes, bebidas alcoólicas, entre outras guloseimas — não nutre o corpo e ainda pode levar a problemas como diabetes, colesterol e triglicérides alterados.

O mesmo vale para quem deseja emagrecer. Restrições abruptas podem funcionar como gatilhos para o efeito sanfona no futuro. Por esse motivo, para engordar ou perder peso de forma saudável, é fundamental seguir algumas estratégias e não comprometer o bem-estar do organismo.

Para o ganho de peso:

  1. Invista em proteínas, que além de contribuírem como fonte energética, são responsáveis pelo crescimento muscular e pela manutenção do organismo. Suas fontes mais ricas são os ovos, o leite, o queijo e as carnes de todos os tipos, porém a melhor opção são as mais magras, grelhadas ou assadas. As leguminosas são as melhores fontes de proteína vegetal, assim como castanhas e nozes;
  2. Fracione refeições, fazendo três principais (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches intermediários. Dessa forma, aumenta-se a ingestão calórica, dividindo as refeições em maior número. Mas, é importante escolher alimentos saudáveis para esses lanchinhos. Prefira alimentos ricos em fibras, com proteína magra, pães integrais ou frutas, por exemplo;
  3. Invista em gorduras boas, essenciais para o metabolismo e a manutenção de funções fisiológicas como a síntese de hormônios. Elas ainda contêm micronutrientes indispensáveis para o ganho de peso e são fontes de energia, além de ajudarem na absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Priorize as gorduras insaturadas, presentes em alimentos como azeite, amendoim, abacate, peixes, sementes de linhaça e chia, castanhas, nozes e amêndoas;
  4. Os carboidratos complexos são fundamentais para o funcionamento do organismo e trazem muitos benefícios para a saúde. É importante evitar os carboidratos processados, que são menos nutritivos e sempre que possível optar por fontes naturais desse macronutriente. Por isso, vale investir em arroz, pão integral, quinoa, aveia e também alimentos como feijão, lentilha e batata-doce, por exemplo.

Para a perda de peso:

  1. Mantenha uma frequência alimentar e não fique tanto tempo sem comer. Esses hábitos contribuem para manter uma rotina estável e que traz saciedade, assim você não sentirá fome o tempo todo e sairá correndo para alimentos muito calóricos;
  2. Evite o consumo de alimentos com muito açúcar e escolha opções leves, sempre pensando mais na qualidade do que na quantidade;
  3. Chia, gergelim, linhaça e aveia podem auxiliar na saciedade e melhoram do trânsito intestinal, essencial no projeto de emagrecimento;
  4. Beber bastante água é importante. Quando ela entra em contato no estômago com as fibras dos cereais integrais, por exemplo, há a formação de uma espécie de massa viscosa que demora mais para ser digerida. Daí a necessidade de caprichar nos goles, caso coma bastante fibras. Além disso, quando preferimos água, em vez de outros líquidos como refrigerantes e sucos, ingerimos menos calorias;
  5. Obter resultados com exercícios físicos também depende da alimentação e da escolha de atividades corretas. Os aeróbios promoverão maior queima calórica e manterão o metabolismo acelerado por até oito horas. Já os de fortalecimento promoverão menor queima calórica e manterão o metabolismo acelerado por até 24 horas. Para eliminar 1 kg de gordura é necessário queimar mais do que 7 mil calorias, que seriam, aproximadamente, 20 horas caminhando bem rápido. Então, tenha paciência.

Fontes: Ana Luisa Vilela, especialista em cirurgia geral/bariátrica, endocrinologia e nutrição médica com passagem pelo Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital das Clínicas; Bianca Vilela, bacharel em educação física pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Claudia Chang, doutora e pós-doutora em endocrinologia pela USP (Universidade de São Paulo); Giulliano Esperança, personal trainer, bacharel em educação física pela Unesp e especialista em fisiologia do exercício pela Unifesp.