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Escuro, fantasmas: quais os medos mais comuns em crianças e como ajudá-las

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Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

28/06/2021 04h00

O medo é uma sensação instintiva e natural do ser humano que serve como defesa e proteção frente à uma ameaça real ou imaginária. Apesar de nos provocar desagrado, sem ele estaríamos vulneráveis. Ao longo da nossa história, todos nós experimentamos —seja por questões emocionais, experiências anteriores ou fatores cognitivos — algum tipo de medo, mas a infância é a fase em que suas manifestações são mais evidentes, pois a criança está aprendendo como a vida é e a lidar com suas emoções.

Cada estágio do desenvolvimento —que não tem a ver, necessariamente, com idade cronológica, mas sim com o ritmo próprio de cada um — envolve um medo diferente, que pode ser expressado por choro, silêncio, resistência e ações desesperadas. É o caso da criança, por exemplo, que se debate ou foge correndo do consultório médico com pavor de injeção ou vacina.

As meninas relatam mais frequentemente os seus medos do que os meninos e quase todas as crianças exibem uma reação de evitamento face ao objeto ou à situação temida. Os adolescentes conseguem verbalizar mais o que sentem, mas é comum que às vezes tenham vergonha e, por isso, adotem sinais indiretos. Exemplo? Um garoto ou uma garota que detesta chuva e tenta convencer os pais a desmarcar um compromisso "porque o trânsito vai ficar ruim".

Em geral, os medos mais comuns conforme faixa etária/etapa do desenvolvimento são:

  • De 0 a 6 meses: perda de apoio, quedas, barulhos intensos;
  • De 7 a 12 meses: pessoas estranhas, separação dos pais;
  • De dois a cinco anos: separação dos pais, barulhos estranhos, escuro, mudanças ambientais. Algumas crianças podem sentir medo de objetos grandes, máscaras e animais;
  • De seis a oito anos: seres sobrenaturais, lesões corporais, escuro, trovoadas, ladrões;
  • De nove a 12 anos: desempenho escolar, lesões corporais, aparência física, escuro, morte, futuro;
  • De 13 a 18 anos: falha social, sexualidade.

Os medos excessivos são bastante comuns em crianças pequenas, mas costumam ser transitórios e apenas levemente prejudiciais e, assim, são considerados apropriados ao estágio de desenvolvimento.

É fundamental frisar que, desde o início da pandemia, em 2020, temores diferentes e até inéditos surgiram em todas as idades, principalmente entre as crianças. Houve uma mudança de comportamento social que trouxe o medo de perder o ambiente escolar, os colegas de classe e de parentes que tiveram que se distanciar, além do pavor de adoecer, de morrer ou de ficar sozinho se os pais morrerem. O medo constante da morte se tornou mais evidente. Muitos pais desenvolveram também novos medos, gerando inseguranças nos filhos, principalmente no que se refere a perdas financeiras.

Nesse contexto, uma atitude fundamental para ajudar os pequenos a enfrentarem seus receios e apreensões é conversar de um modo maduro, sempre levando em conta a idade da crianças, mas de uma forma esclarecedora e que não dê chance para que a imaginação crie "monstros" maiores.

criança pequena com medo, bebê com medo - iStock - iStock
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Como conduzir a conversa com o filho?

Segundo especialistas, é preciso evitar duas condutas extremas. A primeira é desvalorizar a situação, interpretando-a como normal e passageira, independentemente do grau de sofrimento associado, às vezes em tom jocoso. Isso só aumenta o sofrimento e a insegurança da criança, que se sente desrespeitada e desvalorizada. A outra ação negativa é reforçar a relevância do medo, contribuindo para a sua amplificação e manutenção. Se os pais agem assim, tão vulneráveis, com quem os filhos poderão contar? Em suma, não os trate com indiferença, ironia ou superproteção.

Para ajudar crianças e adolescentes a lidarem com seus medos, é preciso validá-los. O mesmo acontece com as reações. Porém, os pais devem assegurar que o medo faz parte da vida, que todos têm e que a melhor forma de enfrentá-lo é entender de onde vem e como conseguir racionalizá-lo. Acolher o medo implica ainda em mostrar que ele não pode reger a vida.

Uma atitude producente é ajudar a encontrar soluções para enfrentar a situação ou objeto temido. Se criança precisa se sentir protegida para dormir no escuro, não há problema algum em levar para a cama o bichinho de pelúcia preferido que vai "protegê-la". Ajudar a esclarecer situações, explicando que barulhos como os dos ponteiros do relógio só são percebidos em ambientes silenciosos, e introduzir gradualmente a situação temida, como ajudar a criança a passar a mão no pelo do cachorro, também são estratégias que devem ser colocadas em prática pouco a pouco e que podem funcionar. Não se deve estimular o evitamento excessivo, mas também ninguém deveria forçar o enfrentamento mais do que aquela criança consegue dar conta.

Uma recomendação importante é demonstrar empatia. Frases como "na sua idade eu também tinha medo, hoje não tenho mais", "você está com medo e tudo bem", "estou ao seu lado" ou "você está com medo, mas quem não estaria na sua situação?" acalmam e transmitem conforto, além da sensação de que a criança pode contar com o pai ou a mãe para lidar com a dificuldade.

Quando o medo exige ajuda profissional?

Em excesso, o medo pode se converter em fobia e se revelar de modo psicossomático por meio de sinais como dor de cabeça ou de estômago, diarreia e reações agressivas. É importante avaliar o grau de prejuízo e a duração do medo, ansiedade ou esquiva, e se ele é típico para o estágio do desenvolvimento particular da criança. Se durar mais de seis meses, com prejuízos à rotina e ao funcionamento da criança, requer acompanhamento. O tratamento depende da idade e da gravidade, podendo reunir psicoterapia e uso de medicação para ansiedade. A idade comum de surgimento de uma fobia, que também pode ocorrer devido a uma experiência traumática, situa-se entre 7 e 11 anos, com a média aproximadamente aos 10 anos.

Outra situação que merece atenção é quando o medo é desproporcional ao objeto ou à etapa do desenvolvimento em que a criança está. É incomum, por exemplo, que um pré-adolescente tenha um medo muito grande de ficar no escuro, diferentemente de uma criança de quatro anos. Afinal, ele possui recursos cognitivos para se acalmar sozinho e atribuir um julgamento ao que é real e ao que é imaginado.

O medo, de modo geral, vira objeto de preocupação quando começa a atrapalhar as atividades da criança como ir à escola, brincar, dormir e fazer amigos ou passa a dificultar o desempenho esperado para a idade. Por outro lado, a falta de medo pode ser um problema quando a criança se coloca em risco, como querer atravessar a rua sozinho, pular de lugares altos, entre outros, e também deve ser alvo de uma conversa com o pediatra.

Fontes: Bruno Mader, psicólogo do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR); Danielle H. Admoni, psiquiatra da infância e adolescência na Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); Luciana Brites, psicopedagoga, CEO do Instituto NeuroSaber, em Londrina (PR), mestra em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e coautora do livro "Como saber do que seu filho realmente precisa?" (Ed. Gente); Stella Azulay, diretora da Escola de Pais XD, educadora parental pela Positive Discipline Association e especialista em análise de perfil e neurociência comportamental pela Faculdade Belas Artes, em São Paulo (SP).