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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Melhor arrumar sua mesa: bagunça prejudica raciocínio, saúde e relações

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

22/07/2021 04h00

Existem dois tipos de pessoas bagunceiras: as que são de forma, digamos, momentânea, em um local específico e que se orientam dentro dela; e as que fazem do caos uma condição permanente, generalizado e que só gera prejuízos. Quem faz parte do segundo grupo tem dificuldade em encontrar o que precisa, perde muito tempo para achar algo ou se organizar, atrasa prazos e compromissos, o que afeta o emprego e as relações sociais. Isso tudo gera sofrimento, inicialmente psíquico/emocional, mas acaba repercutindo na saúde física.

A bagunça é um fator para estresse e ansiedade e, somado a eles, piora doenças preexistentes (hipertensão, fibromialgia, alergias, gastrite), pois leva a alterações de sono, perda de energia, dores de cabeça, nas costas e musculares e problemas digestivos. "Sem falar que atrapalha o raciocínio, a concentração, principalmente ao estudar ou desempenhar uma atividade intelectual, porque na bagunça são muitos os estímulos para distração", aponta Marina Vasconcellos, psicóloga e terapeuta pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Quem é muito, mas muito desorganizado também não se desenvolve plenamente. Tende a esperar sempre pela boa vontade alheia para arrumar o que é seu, o que é ruim, pois não se torna um sujeito responsável, pragmático, independente. Além disso, esse indivíduo pode evoluir para alguém sem iniciativa ou com senso de colaboração e que pouco se importa se está invadindo com suas coisas o espaço de outras pessoas, seja dentro ou fora de casa.

Bagunça é de família

Aceitar viver em meio à bagunça e se tornar um bagunceiro geralmente tem relação com o meio onde se cresce. Esse indivíduo pode ter aprendido com os pais a não dar importância à arrumação e limpeza dos ambientes que frequenta, ou foi muito mimado, então nunca o delegaram obrigações domésticas. Assim, quando adulto, espera-se que também apresente dificuldades para gerir as próprias finanças, relacionar-se, arranjar emprego, criar os filhos.

Há ainda quem desenvolva uma relação de dependência psicológica e só age em benefício próprio (para dar jeito no que é seu) quando ajudados ou estimulados. "Precisam de pessoas que as façam se motivar ou ficar mais confiantes para realizar tarefas ou atividades pessoais. Muitas vezes esses sentimentos se desenvolvem na infância, com famílias muito controladoras ou pais narcisistas", explica Sonia Palma, psiquiatra especializada em abordagens psicoterápicas pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e atuante na BP - Beneficência Portuguesa.

Mas nem sempre a família está sozinha. O convívio com amigos e parceiros desleixados tem sua parcela de culpa. A falta de organização ainda pode piorar na adolescência, marcada por profundas, confusas e intensas transformações psíquicas, ou quando se está numa fase desafiadora, nova ou intensa, como na que é preciso trabalhar/estudar muito, sair cedo e chegar tarde, com crianças em casa ou se está vivendo uma paixão que altere demais a rotina.

Pode ser doença?

Quando observada desde a infância, a desordem contínua, que se instala no quarto, na mochila da escola, e depois se estende na maturidade, estabelecendo-se quase como uma característica da pessoa, tem grande chance de ser decorrente de transtornos. Da mesma forma se vier acompanhada de sintomas, como perda de interesses, desconcentração, apatia, tristeza, ou até necessidade excessiva de reter coisas ou de dependência, por se sentir incapaz.

"Existem algumas condições psiquiátricas que fazem a pessoa se desorganizar muito, como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), que se inicia antes dos 12 anos e pode permanecer até a vida adulta. A acumulação compulsiva também leva a desorganização, a ponto de inutilizar os cômodos, que viram 'depósitos' para tralhas, sujeira, bichos", alerta Eduardo Perin, psiquiatra e especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Já quando a desorganização ocorre por falta de autonomia ou por necessidade de ser cuidado em tempo integral, como apontou Palma, a causa por trás pode ser o TPD (Transtorno de Personalidade Dependente). Conflitos internos, depressão e ansiedade generalizada também podem ser refletidos no exterior. Não à toa, o Feng Shui chinês prega que nossa casa é o espelho da nossa alma e busca com a harmonização de ambientes conquistar equilíbrio e superar dificuldades.

Como colocar tudo em ordem

Se bagunça afeta a saúde física e mental, a organização também, mas de maneira positiva. Ela contribui para se evitar problemas respiratórios (relacionados ao acúmulo de poeira, ácaros, fungos) e por atribuir ao espaço sentido, paz e gerar sensação de dever cumprido, tranquiliza o emocional. Assim, são evitadas preocupações, sensação de ineficiência, angústias e, por consequência, frequência cardíaca elevada, respiração rápida, sudorese, desmotivação, vícios.

Pode se dizer que a organização previne ainda tabagismo, etilismo, sedentarismo, fugas de dieta e melhora doenças crônicas. "É preciso mostrar para a pessoa como a desordem faz mal a ela e a quem está próximo. Em geral, com atitudes de incentivo, conversas, estipulação de horários e regras e, principalmente, não assumindo responsabilidades que são dela. Nesse sentido, é preciso tolerar um pouco a bagunça para que nos incomode e tenhamos argumentos", defende Yuri Busin, psicólogo e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio).

Na desconfiança da presença de transtornos psiquiátricos, quando apenas conversar não surte efeito, o mais indicado é procurar ajuda profissional. O tratamento deve ser o mais cedo possível, para evitar que se agravem sofrimentos e comprometa diferentes esferas (íntima, familiar, social, profissional). Para isso, entram em cena terapia cognitivo-comportamental, técnicas e exercícios de organização e medicamentos, a depender da seriedade do quadro.