Por que alguns dentes acabam se separando mesmo depois de se usar aparelho?
Meses ou anos em tratamento com aparelho ortodôntico —boca machucada, bráquete solto, incômodo com o ferrinho— a fim de corrigir a posição dos dentes e melhorar sua aparência e funcionalidade e, depois de um tempo, eles se separam. Sim, pode acontecer!
Chamado diastema, o espaço formado entre um ou mais dentes tem causas variadas e pode não só incomodar esteticamente, como gerar problemas de saúde bucal.
A falta de contato entre os dentes ocasiona um livre acesso dos alimentos ao tecido periodontal, estrutura relacionada à sua sustentação e que deveria estar protegida.
Sem limpeza adequada, então surge o biofilme bacteriano, a popular placa, que leva à inflamação da gengiva (gengivite) e pode evoluir para periodontite, destruindo essa base e ocasionando a queda do dente.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a doença periodontal atinge 90% da população mundial. Por isso é importante caprichar na higiene oral e consultar o dentista regularmente, ainda mais ao notar essa abertura e decidir mantê-la. Com o tempo, ela pode aumentar e ocasionar outros prejuízos.
Recidivas, movimentações e hábitos ruins
Sobre as causas dessa separação, podem ser: a largura dos dentes que é insuficiente para fechar um espaço existente somada a falta de planejamento e previsão do tratamento. Não utilização correta de aparelhos de contenção após o término da movimentação ortodôntica, sim, a "plaquinha" é essencial.
De novo, periodontites e perda de dentes, então a sustentação fica comprometida e os dentes se movimentam para o espaço gerado. Até alterações na postura da língua e respiração bucal influenciam, pois geram desequilíbrio das estruturas moles.
"Muitas vezes há um fator genético envolvido, mas, com frequência, a mudança do padrão respiratório contribui para o quadro, criando um sistema desequilibrado, com lábios de musculatura fraca, posturas de língua e cabeça alteradas, o que pode levar a mudanças na posição dos dentes", afirma Sormani Pimenta Sacchetto, ortodontista e membro da Abor (Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial).
Porém, mesmo quando corrigidas as causas primárias e após a fase de contenção, que leva entre 12 e 18 meses e serve para que os dentes permaneçam na posição final do tratamento ortodôntico, não há garantia de uma estabilidade definitiva.
Sacchetto continua que mudanças naturais nos ossos, músculos da face e gengiva podem levar às movimentações e aberturas, então o cuidado com a posição dos dentes pode demandar atenção por toda a vida.
Independe de idade, mas idosos e crianças...
Diastemas consequentes de desequilíbrios que não foram corrigidos antes do tratamento dentário podem aparecer em qualquer faixa etária, mas no último terço de vida estariam mais propensos a surgir.
Para além das mudanças ósseas e musculares, ocorre que nessa idade há uma incidência maior de perdas dentárias e doenças gengivais e periodontais que vão se acumulando, e somadas às alterações respiratórias e de mordida, desequilibram os dentes.
A separação pode acontecer logo após a conclusão do tratamento ortodôntico, quando a estabilidade ainda não foi alcançada, mas ainda bem mais tarde, com a incidência de outros problemas, aponta Priscila Prosini, professora e especialista em ortodontia, mestre em odontologia e doutora em odontopediatria pela UFP (Universidade Federal de Pernambuco).
"É importante dizer que 'dentes separados' também são normais na dentição decídua [de leite] e na fase da troca de dentições [dentadura mista]. Há até um período denominado de 'fase do patinho feio' devido ao aspecto esteticamente desagradável e temporário dos diastemas na dentadura mista", complementa Prosini.
Nessa idade, os desequilíbrios que afetam os dentes podem ser causados por fatores como sucção de chupeta, mamadeira e dedo.
Como unir os dentes?
Separações entre dentes após tratamento ortodôntico podem ser evitadas primeiramente não evadindo o consultório do dentista logo após a retirada do aparelho fixo. Lembra da finalização inadequada, sem contenção?
É fundamental também tratar eventuais alterações na respiração (causadas por rinites, "carnes esponjosas", amígdalas palatinas hipertrofiadas), mastigação, função da língua, músculos da face e consequentes desequilíbrios de estruturas moles.
No processo de diagnóstico, o ortodontista deve trabalhar de forma integrada com otorrino e fonoaudiólogo. "A abordagem deve se preocupar em reestabelecer primeiro o equilíbrio muscular e isso se faz respirando corretamente e apenas pelo nariz, para tentar desenvolver a mastigação bilateral e a face, tanto do lado direito como esquerdo, cessando movimentações involuntárias provocadas tanto numa deglutição atípica como numa mastigação unilateral", informa Plácido Menezes, cirurgião-dentista pela Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).
Quando, apesar de todas as condutas preventivas (uso correto de aparelho, manutenção da higiene bucal, dieta não cariogênica, visita regular ao dentista), o diastema aparece, uma nova avaliação ortodôntica se faz necessária.
Uma vez que a contenção é acompanhada, o problema detectado cedo possibilita soluções simples, como uso de aparelhos removíveis e montagens parciais (colagem de peças em dentes específicos para correções pontuais).
Na impossibilidade de se recorrer ao tratamento ortodôntico para fechar a separação dos dentes, pode se pensar em recursos como restaurações e uso de próteses para disfarçá-la.
São alternativas também nos casos em que o paciente apresenta sequelas de problemas de gengiva ou apresente dentes com tamanho, cor ou forma alterados.
Em se tratando de freio labial superior volumoso, em alguns casos é necessária cirurgia de remodelação e medidas permanentes para que os dentes incisivos superiores continuem na posição final.
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