Imunidade também envelhece; veja quais vacinas adultos e idosos devem tomar
Mesmo os maiores e mais eficientes exércitos não são eternos. O que se aplica ao sistema imunológico, ou imune, que embora permaneça 24 horas em prontidão contra qualquer invasor que coloque em perigo a saúde humana, por volta dos 20 anos entra num processo de declínio progressivo que nos tornará, ao final da vida, muito mais vulneráveis a todo tipo de doença. Não à toa, idade acima dos 60 anos é fator de risco para covid-19, por exemplo.
Ninguém nega que há idosos com a imunidade muito boa, mas, em geral, quanto mais velho, mais alteradas, reduzidas e ineficientes ficam as células da chamada resposta imune inata, a primeira frente de defesa do organismo e presente desde a nossa concepção, e da resposta imune adquirida ou adaptativa, ativada quando a inata não dá conta sozinha, responsável por identificar e memorizar as ameaças e, como o próprio nome diz, estabelecida com as vivências.
"É denominada imunossenescência a condição natural do envelhecimento imunológico. Com a saúde preservada, o sistema imune do idoso até responde bem, mas ainda assim de forma mais lenta e não tão enérgica quando em comparação a idades menores, o que contribui para o aumento da suscetibilidade a infecções, doenças autoimunes e câncer, além de redução da resposta vacinal", explica Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
As recuperações também tendem a se lentificar e as inflamações a se cronificar.
Vacina sim, mas não só em pandemia
Vacinas estimulam o sistema imunológico e protegem contra doenças. Se toda criança deve estar com seu cartão de vacinação atualizado, adultos também e não apenas para evitar a disseminação e os casos graves do novo coronavírus.
Com os anos, não só a memória celular sobre como responder aos agentes nocivos adquiridos e às vacinas tende a se perder, como infecções inativas podem se reativar, a exemplo de herpes zóster, relacionada à catapora.
Essas alterações, associadas a comorbidades, comuns no último terço de vida, aumentam o risco de complicações e de se contrair enfermidades um tanto atípicas em gente mais jovem.
Fora que quem está com as vacinas incompletas põe em risco não apenas a si próprio, como pode se tornar um disseminador de doenças, em especial para os grupos mais vulneráveis.
Por isso, adultos devem receber: "As vacinas básicas recomendadas pelo Ministério da Saúde, hepatite B, dupla bacteriana adulto (difteria e tétano - dT), febre amarela, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), influenza (gripe, em especial H1N1) e pneumocócicas (pneumonia bacteriana)", explica Alessandro Farias, médico infectologista e líder do serviço de infectologia do Hospital Português, em Salvador.
"Já as recomendações da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) englobam as vacinas sugeridas pelo MS, acrescidas de vacinas para hepatite A, meningocócicas ACWY/C (meningites bacterianas), herpes zóster e a ampliação da vacina dupla bacteriana para tríplice bacteriana do tipo adulto acelular (difteria, tétano e coqueluche - dTPa)", acrescenta Anderson Vinícius Mota de Souza, médico do Programa de Residência em Infectologia, também do Hospital Português.
Maioria delas está disponível no SUS
No SUS (Sistema Único de Saúde), encontram-se a da influenza (dose única e anual); pneumocócica VPP23 (dose única, cabendo reforço após cinco anos); dupla adulto (três doses iniciais, sendo a segunda tomada dois meses após a primeira, e a terceira, quatro meses após a segunda. Depois, uma dose a cada dez anos); tríplice bacteriana acelular (pode substituir a vacina dT. Sem registro, recomenda-se uma dose de dTpa seguida de uma ou duas doses da dT, a depender de quantas faltarem para completar o esquema de três doses contra tétano).
Hepatite B (não sendo vacinado, três doses, com intervalo de um ou dois meses entre primeira e segunda e de seis meses entre primeira e terceira); e tríplice viral (adultos não vacinados ou sem comprovação de doses aplicadas, tomam duas doses, com intervalo de um a dois meses).
"A maioria está disponível no SUS, à exceção das de meningococo [dose única e indicada para condições de risco] e herpes zóster [uma dose, após 60 anos]", aponta Leon Capovilla, médico pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e infectologista da Central Nacional Unimed, complementado por Giovanna Sapienza, infectologista pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Meniá Centro de Prevenção: "Influenza 4V, cuja cobertura das cepas circulantes é maior, e hepatite A para adultos também somente no sistema privado".
Para maiores de 50 e, sobretudo, 60 anos, recomenda-se a combinação das vacinas VPP23 e VPC13, estando esta última (dose única) mais facilmente disponível na rede particular. Na pública é destinada para adultos mediante laudo, com condições de saúde especiais e crônicas que os tornam propensos a ter doença grave causada pelo pneumococo.
Já a vacina de febre amarela (uma dose, em geral, garante imunidade vitalícia) está disponível e é aplicada pelo SUS principalmente sob situações endêmicas (de risco/surto), bem como para viajantes.
Se pegar tais doenças, o que ocorre?
Mesmo sendo menor a resposta imunológica de uma pessoa mais velha, estando imunizada, a evolução de uma doença infecciosa que possa adquirir será muito mais branda. Do contrário, sem proteção alguma e ainda frágil e com a idade avançada, maiores as chances de ela pagar um preço muito mais alto pelos sintomas, ser internada e, porventura, ter sequelas e morrer.
"Uma vez vacinada, o máximo que pode ocorrer é ela ficar febril, com moleza, dores no corpo e no local da aplicação, mas é muito leve e perdura por poucos dias", assegura Marcelo Cabral, mestre em ciências da saúde e geriatra do Hospital Esperança, em Recife.
Ele explica que a maior parte das vacinas que adultos e idosos precisam tomar, como a da gripe, não causam doenças, porque são usados fragmentos e microrganismos inativados em sua composição.
Se for constatada infecção pós imunização, certamente o vírus/bactéria já estava inoculado no organismo, então por isso a associação equivocada. Tem mais. Quando o sistema imunológico já está amadurecido, as chances de alguma vacina provocar reação exagerada, o que também pode levantar suspeitas, é menor, a resposta provocada é mais fraca do que a esperada em pessoas mais novas. Mas sendo reação da vacina, é possível aliviá-la com medicações simples.
São raras as vacinas que, embora seguras, para serem aplicadas no idoso requerem cuidados e discussão prévia com o médico que o acompanha se ele ainda não tomou. A contraindicação é se estiver debilitado, transplantado, com HIV/Aids, câncer.
"Tríplice viral, herpes zóster e febre amarela, por usarem vírus vivos atenuados que podem se replicar devido à imunodeficiência do paciente devem ser avaliadas caso a caso, é preciso pesar prós e contras", informa Chehter.
Ele conclui, em uníssono com os demais especialistas, que, embora o declínio da imunidade seja inevitável, é possível garantir um envelhecimento saudável com vacinas, combinadas a rotina física e mental ativa, sem álcool e cigarro, com dieta equilibrada e noites bem dormidas.
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