Esconder emoções pode fazer mal à saúde; entenda por quê
Seja estando com amigos, colegas de trabalho ou familiares, algumas vezes passamos por situações que despertam sentimentos desagradáveis. Mas, por algum motivo, é comum guardarmos isso e não expressar o que realmente estamos sentindo.
E, ao contrário do que muita gente pensa, esconder as emoções não é uma atitude exclusiva de pessoas tímidas, que sofrem por não conseguir expressar o que sentem, e pode acontecer até com os mais extrovertidos. O problema é que a supressão emocional —quando disfarçamos ou evitamos expressar o que realmente estamos sentindo— cria problemas não apenas para o emocional como também para a saúde física.
Tudo conectado
Dependendo da intensidade e da frequência com que deixamos de revelar o que sentimos, nosso corpo pode desenvolver as chamadas doenças psicossomáticas —aquelas provocadas ou agravadas por algum sofrimento psíquico ou emocional.
Como os lados físico e mental do nosso corpo andam sempre juntos, qualquer situação que provoque um desequilíbrio emocional muito forte (envolvendo sentimentos como ansiedade, tristeza ou raiva) pode gerar alterações químicas e hormonais que desencadeiam quadros como dor de cabeça, dores musculares, dor nas costas, cansaço, fadiga e até problemas digestivos, como gastrite e diarreia.
Um bom exemplo disso é o aumento de casos de doenças psicodermatológias (problemas de pele que tenham um forte componente psicológico), como psoríase e dermatite atópica, durante o período de isolamento na pandemia do novo coronavírus.
Até mesmo insônia e sobrecarga mental podem ser sintomas de alguma emoção somatizada. "O cérebro gasta uma energia importante para a pessoa não mostrar o que está sentindo e tentar se proteger. Isso acaba tendo uma resposta emocional mais intensa, que pode vir por meio do aumento de respiração, batimentos cardíacos e até de hormônios, como o cortisol, considerado o hormônio do estresse", afirma a neurocientista Thais Gameiro, da Nêmesis, empresa de educação corporativa em Neurociência Organizacional.
Insegurança pode aumentar bloqueio
Segundo Natalia Pavani, psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a supressão emocional pode afetar qualquer pessoa. No entanto, quem tem maior preocupação em corresponder às expectativas alheias é mais propenso a esse tipo de comportamento. "Essa 'fuga' pode representar, por exemplo, que a pessoa não está à vontade para expressar o que sente em um contexto específico", explica.
Isso nem sempre é um problema. Basta pensar, por exemplo, no contexto das relações de trabalho, quando compartilhamos de forma pontual nossa insatisfação ou problemas pessoais. O comportamento se torna preocupante quando passa a ser frequente ou quando a pessoa não consegue falar o que sente em nenhum cenário. "É necessário considerar o contexto em que uma emoção não está sendo expressa genuinamente e o porquê", diz Pavani.
Professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o psicanalista e psicólogo Leonardo Luiz afirma que qualquer pessoa pode passar por esse tipo de situação, independente dos traços dominantes de personalidade. "Esconder emoções é um mecanismo natural do ser humano para esconder coisas com as quais não se sente confortável e pode acontecer da mesma forma com introvertidos e extrovertidos", afirma. "Para se ter uma ideia, tem gente que não quer falar nem das coisas boas que estão acontecendo em sua vida. Cada um encontra um motivo para não falar ou demonstrar o que sente", acredita.
E, pensando que o outro não tem como adivinhar o que está sendo propositalmente escondido, é possível que, em algumas situações, esse tipo de comportamento acabe criando uma barreira nas relações interpessoais. "A função de uma barragem em uma represa é utilizar a força da água represada para gerar energia, que vem com muito mais intensidade. Emoções funcionam de forma análoga. Quando não lidamos com elas e as deixamos guardadas, elas ficam contidas e acabam se intensificando, causando prejuízo para as nossas vidas", avalia Pavani.
Emoções negativas também são importantes
É bastante comum categorizarmos as emoções por "boas" ou "ruins" quando, na verdade, isso é um juízo de valor pessoal, já que as emoções simplesmente "são". Por isso, encarar os sentimentos que nos compõem é o primeiro passo para incentivar cada vez mais que as pessoas sejam mais abertas ao diálogo e consigam se expressar melhor.
"Há pessoas que se orgulham de passar a vida deixando as emoções de lado, mas isso é um equívoco", acredita Pavani. "Ainda que uma emoção seja pareça negativa, ela tem uma função de proteção, de nos dar a oportunidade de demonstrar que temos limites que não podem ser invadidos", afirma a especialista.
A psicóloga lembra ainda que, embora muitas pessoas sintam medo de se expressarem, isso pode ser motivo até de orgulho. "Ao contrário do que se pensa, falar o que está sentindo de maneira equilibrada e assertiva pode até despertar admiração", diz.
E, caso a dificuldade em se expressar esteja provocando sofrimento psíquico, além de perdas sociais importantes, a ajuda de um especialista é bem-vinda e necessária. "É importante para o indivíduo que deseja se conhecer melhor e alterar seus comportamentos a fim de trazer benefícios para si e suas relações", afirma Pavani.
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